A polarização entre Lula e Jair Bolsonaro deixa o Brasil em uma situação bastante perigosa, na medida em que o país tenta se impor ao mundo com um complexo de superioridade que faz com que, em contrapartida, se mantenha uma sociedade infantilizada e um cenário sociocultural degradado, num contexto em que tudo parece eterno e perene diante da deterioração cultural galopante.
O governo Lula fracassou porque se perdeu nos simulacros. Lula, pensando mais em sua consagração pessoal, tornou-se um líder dissimulado, ambicioso demais na busca da consagração pessoal e pouco zeloso com suas responsabilidades de governante. Já podemos definir o atual mandato como o pior dos três, pelo excesso de pretensão e de grandiloquência e pela falta de ações concretas.
Não adianta os lulistas darem invertidas aqui e ali, confiantes de que, nas redes sociais, sempre haverá uma centena de pessoas concordando com qualquer argumentação fora da realidade, mas dotada de uma narrativa muito bem construída. Isso porque os fatos não se deixam levar pela ilusão das palavras arrumadas e pela persistência dos "isentões" em querer ficar sempre com a posse da verdade.
Enquanto relatórios falam de resultados supostamente fantásticos e imediatos demais do atual governo, e vídeos com pobres caricatos correndo feito doidos em supermercados não identificados falam que "os preços baixaram todos", a realidade mostra um drama que inexiste no Tik Tok, Instagram e, sobretudo, Facebook: os preços ficaram caros, os empregos, se cresceram, são precarizados (mesmo com CLT e tudo) e o "aumento real" dos salários mal dá para abastecer a casa com uma semana de comida.
E Lula trai também seus princípios, como um presidente impulsivo que age movido pelos instintos. Lula se comporta, constantemente, como alguém que anda indiferente a tudo e não responde àqueles que perguntam para onde vai ou o que estará fazendo.
Agora, Lula demitiu mais uma mulher de sua equipe de governo, Nísia Trindade, da Saúde, que foi substituída pelo aliado do presidente, Alexandre Padilha, um de seus braços-direitos. A reforma ministerial sinaliza que Lula se limitará a trabalhar com aliados mais próximos e também com membros do Centrão, o que confirma o fim irreversível do projeto político progressista do presidente brasileiro.
Na prática, esse projeto progressista sofreu uma erosão. O que Lula faz é apenas o mínimo denominador comum de atender às demandas populares nos mais estreitos limites que não prejudicassem os interesses dos mais ricos, que ajudaram Lula a ser eleito e o ajudam a se manter no poder.
Tudo isso não engana o povo brasileiro, que não se deixa iludir com fetiches representativos. De que adianta Lula ter tido uma infância de miséria profunda, ter sido líder sindical, ter se ascendido como um líder popular, se hoje ele pouco faz em favor do povo, se limitando a um crédito de financiamento, um processo burocrático para "facilitar" os mais pobres a comprar mais alimentos, em vez de criar uma política agressiva e emergencial de queda dos preços?
Não. O povo sabe que, se um representante deles passa a trabalhar em favor dos mais ricos, o abandona completamente. Pouco importa se o representante do povo passar a chorar, implorando aos pobres que pense nas "origens" do tal líder, porque o povo o considera um traidor.
Lula traiu o povo pobre. Daí a queda de popularidade. De que adiantam "recordes históricos" que, de tão fantásticos, fáceis e rápidos demais, são bons demais para ser verdade e não refletem na realidade concreta dos brasileiros?
Pouco importa um exército de internautas querendo impor sua ficção como "realidade", fazendo muitos malabarismos com suas narrativas para que suas opiniões prevaleçam sobre os fatos. Pouco importa as invertidas de aliados como Gleisi Hoffmann ou os argumentos de Miguel do Rosário em prol dos relatórios, pois esse mundo paralelo não é notado pelo povo brasileiro, que, fora da bolha lulista, se sente traído e abandonado pelo presidente.
Lula estranha por que sua popularidade está caindo de maneira vertiginosa e tenta impor a tese de que sua baixa popularidade é pela "falta de compreensão das realizações do governo". Trocou o comando da comunicação do governo, substituindo Paulo Pimenta pelo publicitário Sidônio Palmeira, que trabalhou na campanha presidencial de 2022, na esperança de reverter a baixa popularidade.
Foi em vão. Afinal, Lula tende a agravar a queda de popularidade, até pelas razões com que o presidente reage à sua decadência. Como um cachorro correndo atrás do próprio rabo, Lula tenta resolver seus problemas apostando nos mesmos erros que levaram a eles. Lula está cada vez mais próximo do Centrão, cada vez mais distante das causas progressistas, e sempre teimando em agir conforme suas convicções.
A realidade mudou e ídolos podem ver suas popularidades despencarem um dia. Lula confiou demais no seu prestígio e, conforme a máxima "deitar na cama depois da fama", se acomodou apostando no seu carisma. Seu governo foi de menos realizações, sua mediocridade não consegue ser disfarçada pelos artifícios de relatórios, opiniões, cerimônias, promessas e nem mesmo a agressiva blindagem dos lulistas nas redes sociais.
A realidade se impõe até sobre o boicote orquestrado pelos negacionistas factuais, cuja fobia ao senso crítico os fazia só querer ler e divulgar notícias "agradáveis", ainda que estas sejam lançadas ao arrepio dos fatos.
Lula acha que quer impor os seus pontos de vista à realidade concreta como se o Brasil fosse um satélite do mundo paralelo do petista. Ele quer "melhorar a comunicação" como se tudo que Lula decidisse fosse o ideal para o nosso país, mas essas medidas não trouxeram, até agora, benefícios reais para o povo.
O grande problema é que Lula, idoso e secretamente doente - apesar de estar, aparentemente, sob controle conforme exames médicos divulgados - , é que precisa se comunicar com a realidade. Um presidente que fala demais e age muito menos, preferindo o malabarismo das palavras e os simulacros de artifícios diversos, como relatórios, cerimônias, promessas e opiniões, não consegue conquistar a confiança do povo, que não é ingênuo para acreditar que as aparências substituem os fatos.
De que adianta Lula reclamar do preço da comida, achando sua carestia "um absurdo"? Ele, como chefe da Nação, deveria, em vez de opinar, agir para combater essa carestia. Ele não faz. Se limita apenas a "discutir" com o empresariado e os fazendeiros para "resolver" a situação, e constantemente cede nos acordos, dando pouco para os mais pobres para não comprometer as fortunas dos ricos.
Com um salário de fome, que aumentava apenas R$ 90 ou R$ 100 por ano e periga aumentar somente R$ 30, e, em contrapartida, uma cobrança de taxas sobre os super-ricos que, sendo 2% de seis em seis meses, irá permitir a recuperação e até o aumento das grandes fortunas, faz com que o governo Lula não seja levado a sério.
Lula busca grandiloquência, mas, querendo plantar grandeza, colhe pequenez. E o PT já está velho e cansado, sobretudo quando apostam no presidente brasileiro como sucessor de si mesmo. Se fosse nos tempos do primeiro para o segundo mandato, até fez sentido Lula suceder a si mesmo e ter liberdade de ação entre 2007 e 2010. Mas hoje o contexto é outro e o quarto mandato periga ser ainda mais fraco. Lula não consegue esconder que está politicamente tão cansado quanto Joe Biden.
Está na hora de optarmos pela terceira via, enquanto Bolsonaro vive seu inferno astral e Lula começa a sofrer um desgaste que, por enquanto, ainda não é irreversível. Mas pode vir a sê-lo, muito provavelmente.
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