LULA FALA COM O ASTRO-REI DA RÁDIO METRÓPOLE, MÁRIO KERTÈSZ (E), DURANTE VISITA A SALVADOR.
Na última segunda-feira, o portal UOL publicou uma matéria sobre a Rádio Metrópole, emissora de Salvador que se tornou uma espécie de palanque local do presidente Lula. Fundada pelo ex-prefeito da capital baiana, Mário Kertèsz, a emissora hoje é administrada pelo filho Chico Kertèsz, publicitário que também é sócio do pai no complexo midiático que inclui uma editora de um jornalzinho impresso.
UOL também aponta Chico Kertèsz como sócio do atual ministro da Secretaria de Comunicação, Sidônio Palmeira, da empresa de publicidade Nordx, responsável pela campanha presidencial de Lula em 2022. O pai Mário Kertèsz já chegou a ser locutor em outras campanhas do petista.
Chico Kertèsz foi entrevistado, certa vez, por Pedro Alexandre Sanches, o “menino de ouro” de Otávio Frias Filho, na revista Carta Capital, quando o “filho da Folha” peregrinava pela mídia de esquerda para que ela pudesse pensar culturalmente conforme a ótica do jornal da Alameda Barão de Limeira. A missão de Sanches era transformar as editorias culturais de Caros Amigos, Fórum e Carta Capital em sucursais do caderno Ilustrada, da Folha de São Paulo.
Chico e Pedro estavam falando de um documentário sobre a axé-music, feito pelo primeiro, que apostou na delirante tese de que o estilo musical baiano “começou na iniciativa privada e acabou virando estatal”, criando um pretexto para o Carnaval baiano ser sustentado pelas verbas do Ministério da Cultura hoje comandado pela cantora baiana Margareth Menezes.
A Rádio Metrópole atingiu um estágio politicamente correto nos últimos anos, e sua linha de trabalho se define como “radicalmente contra a extrema-direita”. Com um aparato mais profissional em seu jornalismo, a rádio sempre se projeta nacionalmente quando seu astro-rei (devido ao culto à personalidade dentro da emissora) Mário Kertèsz recebe Lula nas visitas do petista a Salvador.
Situada numa Pernambués que já foi uma área de fazendas de café e laranja até ser retomada pelos quilombolas em 1956, a Rádio Metrópole hoje é um puxadinho da Casa Grande dentro de um bairro que hoje é bastante perigoso, devido à população negra e pobre que não tem emprego e não pode sequer ser reles números estatísticos dos Censos realizados na capital baiana. O castelo midiático de Mário Kertèsz se situa ao lado da violenta comunidade de Saramandaia, um sub-bairro de Pernambués, que também faz fronteira com o bairro do Iguatemi.
Dito isso, fica fácil para a sociedade burguesa brasileira se passar por “esquerda”. Virou chique ser “esquerdista”, e o caso Mário Kertèsz é um exemplo típico. Cria da ditadura militar, apadrinhado por Antônio Carlos Magalhães, amigo dos latifundiários baianos e ídolo e porta-voz da aristocracia urbana de Salvador, Kertèsz tenta se apropriar das esquerdas, se promovendo às custas dos movimentos sociais e acompanhando as agendas progressistas que viram notícia no Brasil e na Bahia.
Daí que temos muita gente da direita moderada que, como pombos voando sobre os grãos de milho, se tornam pretensos esquerdistas, tentando ficar bem na foto fazendo a encenação do “bom esquerdismo”. De sociopatas das redes sociais até intelectuais pró-brega, todos tentam bancar os "bons alunos" de um hipotético socialismo que, de tão burguês, já ultrapassa os limites formais da pequena burguesia para se tornar um "socialismo de coquetel de luxo".
A "esquerda-caviar" existe, mas ela sai dos estereótipos caricaturais dos bolsonaristas e afins. Preferimos chamar de "esquerda fashion" com sua burguesia artsy achando o quanto é legal posar de esquerdão nos coquetéis de luxo, com uma "consciência social" supostamente generosa, mas hipócrita, na medida em que, entre outras coisas, glamouriza as favelas no Brasil.
Temos no Brasil a supremacia de uma velha ordem social, uma burguesia que em 1964 pediu a queda de João Goulart, que em 1968 pediu repressão ditatorial mais dura e até se empenhou pelo golpe de 2016 e pela vitória de Bolsonaro, mas hoje faz beicinho e tenta nos fazer crer que sua classe foi "socialista desde 1500 (?!)".
Viver recebendo verbas estatais para o trabalho, enquanto se liberam as fortunas pessoais para a diversão e o prazer. Essa é a lógica que faz a burguesia ilustrada atual bancar a "boa esquerdista", querendo passar uma imagem "moderna" que só convence os incautos, pois essa classe continua sendo conservadora e elitista, só está adotando posturas politicamente corretas para ficar bem na foto e, principalmente, nas redes sociais. A elite do bom atraso também se amarra em uma lacração.
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