O Brasil vive ainda o complexo de vira-lata. Quer ser o último a saber e mesmo assim achar que caminha para a frente e antecipa tendências. Essa postura esquizofrênica complica a situação no país, quando até o moderno se dilui num paradigma que mais parece retrógrado.
Se você acha o programa Chaves sinônimo de humorismo revolucionário e pensa que a disco music é música do outro mundo, pode crer, você é um desses atrasados de plantão que pensam ser as pessoas mais modernas e vanguardistas do mundo.
Mas não dá para dizer que uma pessoa dessas é atrasada. Ela vê o mundo com seu próprio umbigo, a vanguarda é o seu ego, a atualidade é o seu reflexo no espelho, essa pessoa vê as coisas conforme suas convicções pessoais. Pode viver numa caverna que ela se julga conectada com o mundo. O mundo é que se conforme com o juízo narcisista dessa pessoa.
O Brasil está atrasado até mesmo no aspecto lúdico. Só agora, com Patrícia Marx e Letícia Sabatella a reboque, que as curtições que há 40, 45 anos já geraram ressaca mundo afora, começaram a estar em moda no país.
Os jovens brasileiros mal haviam saído da constrangedora atitude de descobrir o hip hop com 20 anos de atraso e as raves com 15 anos, lá por volta de 2004. Pior: tão "diferenciados" e "independentes", esses jovens que fazem deitaço e dizem "balada" e "galera" não passam de fantoches da grande mídia, "rebeldes" amestrados pelo baronato midiático (inclusive pela Veja).
Sentimentos narcisistas que impedem a autocrítica e desenvolvem a arrogância fazem com que a chamada "cultura pop" brasileira não passe de um pastiche grosseiro do que já havia ocorrido no exterior há um bom tempo, às vezes até há décadas.
Para piorar, os jovens modistas nem ligam muito para isso, acham que são "originais" em sua opção, que só ligam para a realidade "local", quando seus pares compartilham, com aparente unanimidade, o atraso lúdico em que se encontram.
Aí, quando aparecem diante de europeus, acabam sendo discretamente esnobados. "Olhe, esse pessoal é caipira", diria um norte-americano. "Esses gajos só falam gírias e se acham sabichões", diria um português. "Vivem fora do tempo", diria um inglês. "Não sabem o caminho que seguem", diria um francês.
Inútil. A "galera irada" e "tudo de bom" vive numa caverna platônica, tratando suas convicções conforme seus caprichos pessoais. Bebendo do céu as estrelas, como disse Letícia Sabatella, eles na verdade perseguem um novo brilho em estrelas que já morreram e que só aparecem hoje como um reflexo do que elas eram há muitos anos-luz.
Talvez eles não saibam que são os últimos a saber. Mas o que lhes importa? Saber é uma prática que eles não exercitam nem exercem muito. Na overdose de informação que digerem, saber melhor é algo muito difícil nas suas mentes alucinadas.
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