Pular para o conteúdo principal

A TURMA DOS 1950 DEVERIA VIVER O ASTRAL DOS ANOS 80


O que causa indignação entre certos homens e mulheres ilustres que chegam à casa dos 60 anos, nascidos na primeira metade da década de 1950, é sua mania de parecerem mais velhos, mais maduros e mais vividos do que realmente são.

Médicos, economistas, empresários e advogados dessa geração chegam mesmo a dedicar metade de suas palestras para expressar aquilo que Rui Barbosa e Carlos Heitor Cony descreveram sobre a saudade dos tempos não vividos.

Rui Barbosa declarou, em sua vida, ter saudades do tempo em que não viveu, sentimento que, décadas mais tarde, foi definido por Carlos Heitor Cony como melancolia. Não que seja proibido ou reprovável sentir saudades pelos tempos não vividos, mas a turma born in the 50s exagera na dose.

Eles vivem dando a impressão de que eram adultos nos anos 1950 e que conviveram com os intelectuais que faziam vibrar a boemia da época, como Nelson Rodrigues, Tom Jobim, Sérgio Porto, Otto Lara Rezende, Vinícius de Moraes, entre tantos outros.

Querem dar a impressão de que acompanharam de perto fatos como o incêndio da boate Vogue ou os fenômenos editoriais do Jornal do Brasil (criação do caderno B) e da revista Senhor, e vivem como se ainda vivessem nos tempos do colunista social Jacinto de Thormes.

Pior: chegam mesmo a dar falsa impressão de que conheceram Glenn Miller, quando isso é impossível, porque ele havia morrido bem antes dos "senhores" da casa dos 60 hoje nascerem, num desastre aéreo durante a Segunda Guerra Mundial, em 1944.

Mas eles deixam a máscara cair quando depois confessam que não se lembram mais de personagens como a atriz Zaquia Jorge, o militar Bizarria Mamede, o político Ben Gurion, o cantor Dick Haymes e o maestro jazzista Stan Kenton, personalidades em evidência na época.

Os "coroas", vários deles sessentões de primeira viagem, não podem mais repetir os estigmas e paradigmas de seus congêneres do passado. Precisam se reinventar permanentemente, perseguindo uma jovialidade inimaginável, até porque é uma geração que não se pode comparar com a dos antigos intelectuais que atingiram, em outros tempos, essa faixa etária.

Os sessentões de primeira viagem de hoje - nascidos entre 1950 e 1954 - e outros da mesma década que vêm de carona, eram na verdade garotões e garotonas que curtiram a Contracultura ou algo mais moderado nos anos 70. Foi uma geração sufocada no idealismo, já que atingiram os 18 anos no período mais repressivo da ditadura militar.

Era uma geração que optava entre Led Zeppelin e Bread, mas que, quando chegou na casa dos 50 anos foi plagiar seus próprios pais, patrões e professores e fingiram que passaram a juventude só ouvindo Frank Sinatra e Ella Fitzgerald. Chegaram aos 50 anos querendo brincar de ter 70 e 80 anos, impressionadas com suas rugas e cabelos brancos recém-contraídos.

Na Inglaterra e nos EUA, eles inventaram o punk rock e o pós-punk, desenhando o espírito dos anos 80 que, estranhamente, seus contemporâneos brasileiros torcem o nariz, como se não houvesse diferença entre Legião Urbana e Trem da Alegria, entre Titãs e Dr. Silvana & Cia.

No Brasil, vemos grisalhos perdendo o tempo em festas de aniversário de crianças debatendo o que viram em telejornais e programas da TV paga, ou em revistas e jornais da semana anterior. Nessa última reserva de imaturidade, brincam de debates políticos, críticas de arte, crônicas políticas ou esportivas querendo uns serem mais inteligentes do que outros.

Esse pessoal deveria se divertir mais, brincar, ouvir músicas mais agitadas, arejar suas mentes, se movimentarem, perderem suas barrigas, rirem mais alto, ouvirem sons mais modernos, e, acima de tudo, não tentarem isso de forma patética, caricata ou forçada, mas como eles próprios faziam ou eram convidados a fazer nos anos 80 e se esqueceram disso.

Alguns deles já beiram à aposentadoria e possuem filhos crescidos ou até netos. Passam a ganhar tempo de sobra para ouvirem um CD da Legião Urbana, dos Titãs ou do Ira!, a pegarem um DVD humorístico para rirem mais alto, a substituírem o excesso de sapatos de verniz ou de sandálias de saltos altos por descontraídos pares de tênis, a trocar o álcool pelos sucos de frutas.

Em vez disso, eles sobrecarregam suas mentes querendo parecer sábios, maduros e vividos. No meio do caminho se atrapalham mais do que jovens de 17 anos, mesmo quando os homens carregam nas formalidades e na pose de experiência e as mulheres se carregam no recato e na religiosidade excessiva, que faz hoje velhas beatas as antigas it-girls dos tempos do desbunde.

Essa geração deveria mudar completamente sua conduta. Não dá mais para ser sessentão como se era nos anos 70. Ter 60 anos hoje é ir ao Loolapalooza, ouvir rock dos anos 80, sair para se divertir usando tênis, rir alto diante de uma piada, movimentar mais o corpo, ouvir músicas mais modernas e agitadas, fazer mais cursos do que ministrar palestras.

A ideia é investir na jovialidade, tirar a ferrugem da alma, e isso é uma boa oportunidade sobretudo para quem passou os anos 80 trancados em escritórios e consultórios. Deixem de entender o passado que não viveram, a não ser que haja uma identificação pessoal verdadeira. Mas se é para entender o passado como forma de impressionar os mais velhos, é bom a turma dos 60 e varadas desistir.

O que lhes resta é voltar aos 25 e 30 anos, relembrar sua juventude, ver o que ocorria nas ruas nos anos 80 e deixar de tentar entender os anos 40 que, sendo a década da "bomba", deveria ser manuseada com cuidado. Melhor reviver os anos 80, que os born in the 50s viveram pela metade. Que venham as festas Anos 80 para pessoas que hoje têm entre 55 e 64 anos!!

Queremos ver algazarra, agito, diversão, descontração na turma dos 60. Chega de bancarem os mais antigos. A regra agora é mostrar descontração, jovialidade, emoção, energia, porque é isso que vai lhes tornar mais saudáveis e tranquilos quando chegarem aos 70 anos.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

LULA NÃO CONVENCE COM SEU JOGO DE CENA

A atitude tardia de Lula de tentar fazer algo para salvar sua popularidade, investindo em propostas e bravatas para reverter sua decadência, não dá para convencer. Tudo soa jogo de cena, sobretudo pela supervalorização do papel de orador do presidente brasileiro, que com sua saúde arriscada, torna-se até perigosa, juntamente com sua agenda sobrecarregada. Lula, vendo agora seu isolamento político, só vai ahravar as coisas com seu teatro bonapartista. O discurso “contra os super-ricos” soa fajuto, pois o presidente Lula não tem a bravura de um Leonel Brizola. Toda a “bravura” do “leão de Garanhuns” morre no aparato das palavras vibrantes, mas intensas como fogo de palha. O presidente mostrou que não mantém a palavra. Não dá explicações sobre atos equivocados, quando decide não quer ouvir conselhos, não tem autocrítica e só percebe os erros depois dos estragos feitos. Portanto, Lula não é digno de confiança e “sinceridade” é apenas uma palavra no seu jingle de campanha. Vemos o quanto é ...

BRASIL PASSOU POR SEIS DÉCADAS DE RETROCESSOS SOCIOCULTURAIS

ANTES RECONHECIDA COMO SÉRIO PROBLEMA HABITACIONAL, A FAVELA (NA FOTO, A ROCINHA NO RIO DE JANEIRO) TORNOU-SE OBJETO DA GLAMOURIZAÇÃO DA POBREZA FEITA PELAS ELITES INTELECTUAIS BRASILEIRAS. A ideia, desagradável para muitos, de que o Brasil não tem condições para se tornar um país desenvolvido está na deterioração sociocultural que atingiu o Brasil a partir de 1964. O próprio fato de muitos brasileiros se sentirem mal acostumados com essa deterioração de valores não significa que possamos entrar no clube de países prósperos diante dessa resignação compartilhada por milhares de pessoas. Não existe essa tese de o Brasil primeiro chegar ao Primeiro Mundo e depois “arrumar a casa”, como também se tornou inútil gourmetizar a decadência cultural sob a desculpa de “combater o preconceito”. Botar a sujeira debaixo do tapete não limpa o ambiente. Nosso país discrimina o senso crítico, abrindo caminho para os “novos normais” que acumulamos, precarizando nosso cotidiano na medida em que nos resig...

“ROCK PADRÃO 89 FM” PERMITE CULTUAR BANDAS FICTÍCIAS COMO O VELVET SUNDOWN

Antes de irmos a este texto, um aviso. Esqueçamos os Archies e os Monkees, bandas de proveta que, no fundo, eram muito boas. Principalmente os Monkees, dos quais resta vivo o baterista e cantor Micky Dolenz, também dublador de desenhos animados da Hanna-Barbera (também função original de Mark Hamill, antes da saga Guerra nas Estrelas).  Essa parcela do suposto “rock de mentira” até que é admirável, despretensiosa e suas músicas são muito legais e bem feitas. E esqueçamos também o eclético grupo Gorillaz, influenciado por hip hop, dub e funk autêntico, porque na prática é um projeto solo de Damon Albarn, do Blur, com vários convidados. Aqui falaremos de bandas farsantes mesmo, sejam bandas de empresários da Faria Lima, como havíamos descrito antes, seja o recente fenômeno do Velvet Sundown, grupo de hard rock gerado totalmente pela Inteligência Artificial.  O Velvet Sundown é um quarteto imaginário que foi gerado pela combinação de algoritmos que produziram todos os elementos d...

“GALERA”: OUTRA GÍRIA BEM AO GOSTO DA FARIA LIMA

Além da gíria “balada” - uma gíria que é uma droga, tanto no sentido literal como no sentido figurado - , outra gíria estúpida com pretensões de ser “acima dos tempos e das tribos” é “galera”, uma expressão que chega a complicar até a nossa língua coloquial. A origem da palavra “galera” está no pavimento principal de um navio. Em seguida, tornou-se um termo ligado à tripulação de um navio, geralmente gente que, entre outras atividades, faz a faxina no convés. Em seguida, o termo passou a ser adotado pelo jornalismo esportivo porque o formato dos estádios se assemelhava ao de navios. A expressão passou a ser usada, também no jornalismo esportivo, para definir o conjunto de torcedores de futebol, sendo praticamente sinônimo de “torcida”. Depois o termo passou a ser usado pelo vocabulário bicho-grilo brasileiro, numa época em que havia, também, as sessões de cinema mostrando notícias do futebol pelo Canal 100 e também a espetacularização dos campeonatos regionais de futebol que preparavam...

LULA DEVERIA SE APOSENTAR E DESISTIR DA REELEIÇÃO

Com o anúncio recente do ator estadunidense Michael Douglas de que iria se aposentar, com quase 81 anos de idade, eu fico imaginando se não seria a hora do presidente Lula também parar. O marido de Catherine Zeta-Jones ainda está na sua boa saúde física e mental, melhor do que Lula, mas o astro do filme Dia de Fúria (Falling Down) , de 1993, decidiu que só vai voltar a atuar se o roteiro do filme valer realmente a pena  Lula, que apresenta sérios problemas de saúde, com suspeitas de estar enfrentando um câncer, enlouqueceu de vez. Sério. Persegue a consagração pessoal e pensa que o mundo é uma pequena esfera a seus pés. Seu governo parece brincadeira de criança e Lula dá sinais de senilidade quando, ao opinar, comete gafes grotescas. No fim da vida, o empresário e animador Sílvio Santos também cometeu gafes similares. Lula ao menos deveria saber a hora de parar. O atual mandato de Lula foi uma decepção sem fim. Lula apenas vive à sombra dos mandatos anteriores e transforma o seu at...

ATÉ PARECE BRIGUINHA DE ESCOLA

A guerra do tarifaço, o conflito fiscal movido pelo presidente dos EUA, Donald Trump, leva ao paroxismo a polarização política que aflige principalmente o Brasil e que acaba envolvendo algumas autoridades estrangeiras, diante desse cenário marcado por profundo sensacionalismo ideológico. Com o "ativismo de resultados" pop das esquerdas woke  sequestrando a agenda esquerdista, refém do vício procrastinador das esquerdas médias, que deixam as verdadeiras rupturas para depois - vide a má vontade em protestar contra Michel Temer e Jair Bolsonaro, acreditando que as instituições, em si, iriam tirá-los de cena - , e agora esperam a escala 6x1 desgastar as mentes e os corpos das classes trabalhadoras para depois encerrar com essa triste rotina de trabalho. A procrastinação atinge tanto as esquerdas médias que contagiaram o Lula, ele mesmo pouco agindo no terceiro mandato, a não ser na produção de meros fatos políticos, tão tendenciosos que parecem mais factoides. Lula transforma seu...

NEM SEMPRE OS BACANINHAS TÊM RAZÃO

Nesta suposta recuperação da popularidade de Lula, alimentada pelo pesquisismo e sustentada pelos “pobres de novela” - a parcela “limpinha” de pessoas oriundas de subúrbios, roças e sertões - , o faz-de-conta é o que impera, com o lulismo se demonstrando um absolutismo marcado pela “democracia de um homem só”. Se impondo como candidato único, Lula quer exercer monopólio no jogo político, se recusando a aceitar que a democracia não está dentro dele, mas acima dele. Em um discurso recente, Lula demoniza os concorrentes, dizendo para a população “se preparar” porque “tem um monte de candidato na praça”. Tão “democrático”, o presidente Lula demoniza a concorrência, humilhando e depreciando os rivais. Os lulistas fazem o jogo sujo do valentonismo ( bullying ), agredindo e esnobando os outros, sem respeitar a diversidade democrática. Lula e seus seguidores deixam bem claro que o petista se acha dono da democracia. Não podemos ser reféns do lulismo. Lula decepcionou muito, mas não podemos ape...

LULA 3.0 NÃO REPRESENTOU RUPTURAS NEM TRANSFORMAÇÕES

O governo Lula, no seu atual mandato, tornou-se frustrante porque o presidente não realizou qualquer tipo de ruptura ou transformação, agindo apenas no âmbito das aparências e quase nunca fazendo atos significativos. O que ele realizou no governo esteve dentro da média que qualquer governo medíocre de centro-direita faria, inclusive nas medidas sociais. Daí que Lula pode ter saído vencedor nas redes sociais, na sua campanha contra os super-ricos, mas sua popularidade continua baixa. O povo pobre não confia mais em Lula. O presidente se perdeu falando demais e trabalhando menos, e o excesso de expectativas de que seu terceiro mandato seria muito melhor do que os dois anteriores foi para o ralo. E aí vemos o quanto Lula demonstrou ser impotente para combater o legado do golpe político de 2016, sem enfrentar o legado maligno de Michel Temer. O intelectual Vladimir Safatle lembra muito bem que nenhuma das leis relacionadas ao pacote de maldades de Temer foi revogada e isso teria sido um do...

A FALSA RECUPERAÇÃO DA POPULARIDADE DE LULA

LULA EMPOLGA A BURGUESIA FANTASIADA DE POVO QUE DITA AS NARRATIVAS NAS REDES SOCIAIS. O título faz ficar revoltado o negacionista factual, voando em nuvens de sonhos do lulismo nas redes sociais. Mas a verdade é que a aparente recuperação da popularidade de Lula foi somente uma jogada de marketing , sem reflexão na realidade concreta do povo brasileiro. A suposta pesquisa Atlas-Bloomberg apontou um crescimento para 49,7%, considerado a "melhor" aprovação do presidente desde outubro de 2024. Vamos questionar as coisas, saindo da euforia do pesquisismo. Em primeiro lugar, devemos pensar nas supostas pesquisas de opinião, levantamentos que parecem objetivos e técnicos e que juram trazer um recorte preciso da sociedade, com pequenas margens de erros. Alguém de fato foi entrevistado por alguma dessas pesquisas? Em segundo lugar, a motivação soa superficial, mais voltada ao espetáculo do que ao realismo. A recuperação da popularidade soa uma farsa por apenas envolver a bolha lulist...