Diferente de casos como Paul Walker e Philip Seymour Hoffman que, em que pese suas respectivas tragédias, são mais relembrados nos seus trabalhos de atuação, Brittany Murphy, falecida há cinco anos, tornou-se prisioneira de sua própria tragédia.
Atriz bastante talentosa e, conforme garantem seus amigos e colegas, uma figura humana admirável, Brittany teve o azar de ter se casado com uma figura problemática e estranha como Simon Monjack, um aspirante a cineasta inglês de um temperamento desleixado e já detido por ter passado cheques sem fundo.
Brittany, que se ascendia tranquilamente em 2006, não só como atriz mas também como cantora, havia engatado dois sucessos, o filme Sin City - Cidade do Pecado (2005), e o filme de animação Happy Feet - O Pinguim (Happy Feet), de 2006, do qual participava também como cantora em duas covers na trilha sonora, "Boogie Wonderland" (Earth Wind & Fire) e "Somebody to Love" (Queen).
Sobre Sin City, os cineastas Robert Rodriguez e Frank Miller, este também criador da HQ que inspirou o filme, fizeram calar a boca dos que pensam que Brittany era uma atriz relapsa e irresponsável, visão difundida pela imprensa sensacionalista dos EUA.
Eles afirmam que Brittany gravou toda sua participação como a personagem Shelly num só dia, com uma agilidade dramática que surpreendeu os dois cineastas de tal maneira que, sem Brittany, eles decidiram excluir a personagem do filme Sin City 2 - A Dama Fatal (Sin City - A Dame to Kill For), lançado este ano.
Diversas teses envolvem a tragédia de Brittany, que ao menos poderia ter sobrevivido mesmo estando a princípio em estado grave, não fosse a demora no socorro médico. A tese oficial é que ela morreu por causa de uma overdose acidental de remédios, aliada a anemia, pneumonia e ataque cardíaco, com apenas 32 anos de idade.
No entanto, existem outras teorias. O pai dela, Angelo Bertolotti, encomendou um outro exame, este ano, que constatou presença de veneno de rato, sugerindo que ela e o marido Simon Monjack teriam sido envenenados por uma "terceira pessoa", dando a crer que houve um atentado, em que especulações diversas citavam da CIA a um suposto maníaco que rondava Hollywood.
Há também uma tese em que o próprio Simon, que havia traído Brittany repassando parte do salário da esposa para sustentar ex-namoradas do produtor inglês (que além disso também foi casado com uma jornalista britânica) e seus respectivos filhos, teria envenenado a mulher para evitar que ela o denunciasse à polícia e criasse um divórcio tumultuado.
Em todo caso, tudo indica que o casamento de Brittany com Simon, independente da hipótese que teria gerado a tragédia, está relacionado com o falecimento da jovem atriz, que antes da relação conturbada - que contraria a suposta imagem de "Romeu e Julieta" associada aos dois - parecia bem em sua carreira e sua vida pessoal.
Para piorar, a mídia sensacionalista dos EUA só fala da morte dela, como se fosse um luto de cinco anos. Com vários trabalhos interessantes e uma carreira expressiva de 18 anos, Brittany tornou-se conhecida como uma "atriz de um drama só", a sua própria tragédia.
Foi produzido um filme baseado nessa tragédia, The Brittany Murphy Story, cujo enredo se baseia nas notícias sensacionalistas. O filme foi duramente atacado pelo pai, que exageradamente disse que Brittany ficaria horrorizada até com a atriz que foi escolhida para interpretá-la.
Conhecendo, porém, a personalidade de Brittany, ela não teria sentido horror a Amanda Fuller, a atriz de Last Man Standing escolhida para o papel e que, apesar de sete anos mais nova que Britt, começou a carreira quase no mesmo tempo que a outra, no começo dos anos 90, chegando mesmo a participar, cada uma num episódio diferente, do mesmo seriado, O Quinteto (Party of Five).
Embora Brittany evidentemente não tivesse gostado do enredo do filme, julgando a história absurda, ela, por seu temperamento, teria respeitado a equipe e manifesto sua admiração por Amanda Fuller, que talvez pudesse ser sua amiga. Brittany teria consciência de que o enredo do filme pecou por ser baseado nas notícias sensacionalistas, várias delas inverídicas.
Em todo caso, é injusto que Brittany fosse conhecida só por sua tragédia, ela que era uma moça alegre e divertida, e uma atriz esforçada e de talento reconhecido. E que, do contrário que especulou a reacionária revista Veja, encantou os produtores do filme Algo Maligno (Something Wicked), último filme da atriz.
Enquanto a revista, famosa por sua histeria antissocial, inventou que Brittany teve sua atuação cortada pelo filme por causa de seu temperamento difícil, os produtores de Algo Maligno afirmaram recentemente que a atuação da atriz foi "arrepiante", ou seja, muito impressionante.
Mesmo nesse contexto muito triste, o filme confirmou o talento admirável de Brittany, uma moça que faz muita falta hoje em dia, como atriz e cantora, já que tinha uma belíssima voz num contexto de outras vozes medíocres robotizadas. Fica aqui nosso carinho para Brittany Murphy. Beijos para ela.
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