Uma coisa é sentir saudade daquelas canções que Waldick Soriano e Wando fizeram. Outra coisa é ficar enrolando e usar a nostalgia para dizer que eles eram "artistas revolucionários" ou tratá-los como se tivessem sido guerrilheiros bolivarianos da cultura brasileira. Isso é que revolta, muito mais do que alguém dizer simplesmente que gosta dos dois cantores.
O preconceito se acentuou no lado de quem defende o brega, porque, em vez do pessoal admiti-lo como um tipo de música ou comportamento cultural convencionais, ligados a uma mentalidade pop e comercial, ficavam teorizando bobagens pseudo-militantes ou pseudo-etnográficas para justificar por que gostam de brega.
Isso sem falar de um tendenciosismo de uma parte da intelectualidade elitista, que desviava parcialmente do caminho aristocrático dos Rodrigo Constantino e Reinaldo Azevedo da vida para adotar um discurso positivista e supostamente simpático às classes populares, embora claramente defende uma visão domesticada e caricata do povo pobre.
Tudo ficou tendencioso, pretensioso, confuso. E isso com a mídia manipulando e distorcendo conceitos e desejos, criando falsas vontades, falsas solidariedades, falsos anseios. O brega, que estava lá tranquilo nos seus espaços, se transformou num Frankestein, não bastasse ele, por si só, ser uma colcha de retalhos de modismos ultrapassados e novidades parcialmente assimiladas.
O brega nunca me incomodou, socialmente, os bregas estavam lá felizes em seu espaço e eu estava nos meus, ouvindo rock alternativo. Mas, de repente, eu, que nunca fui galã na vida, passei a ser até assediado pelas fãs de brega como se eu já fosse noivo de qualquer uma delas. Pior: era até "aconselhado" nas mídias sociais a desejar "mulheres-frutas", algo que nunca foi minha opção.
Nunca gostei de "pagode romântico" e do "pagodão sensual", mas desejava que as fãs do gênero, em vez de me desejarem - paciência, eu nunca fiz o gênero galã, fosse em qualquer contexto - , pudessem desejar homens que fossem à imagem e semelhança dos cantores que elas admiravam. Eu desejava a felicidade delas, da forma que não era de meu interesse nem competência lhes dar.
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