A presente constatação deixa a intelectualidade "bacana" e alguns setores "muito simpáticos" da nossa sociedade horrorizados, mas é bem mais realista: música brega NADA tem a ver com a Música Popular Brasileira, estando mais ligada à "cultura de massa" e um certo coronelismo cultural.
Estamos imaginando quantos artigos chorosos, pretensamente poéticos e carregadamente sentimentaloides, publicados até mesmo sob a roupagem de monografias e artigos acadêmicos, lacrimejando a tese fantasiosa de que o brega "não só é parte da MPB como é a verdadeira MPB", como andavam dizendo por aí.
"Verdadeira MPB", "autêntica MPB", "MPB com P maiúsculo". A intelectualidade "bacaninha", que camuflava seus preconceitos elitistas com um paternalismo politicamente correto, populista e um tanto trash, com uma postura supostamente "sem preconceitos" que apreciava as classes populares desde que domesticadas pelo poder da mídia e do mercado, há muito apelou em suas visões.
O grande problema, dentro dessa postura chorosa, lacrimosa, desesperada, é ser uma classe preconceituosa de intelectuais e famosos que recentemente se solidarizou com a embriaguez de uma atriz, Gente que não queria saber de qualidade de vida para o povo brasileiro, que só queria gandaia e "guloseimas" e que poderá ter que engolir Kátia Abreu no ministério de Dilma.
E aí esse pessoal vai todo choramingando por que alguém diz que brega não é MPB. "Absurdo! Preconceito, discriminação, elitismo cruel, desprezo contra o que há de mais genuíno (sic) na cultura popular brasileira!", diriam eles, que, apesar de autoproclamados "progressistas", possuem uma visão de povo pobre não muito diferente da de qualquer figurão do jornal O Estado de São Paulo.
Vamos esclarecer por que o brega nunca teve qualquer relação com a MPB e dar uma visão realmente sem preconceitos da coisa, mostrando que romper o preconceito não é aceitar qualquer coisa de bandeja - já que isso envolve posturas ainda mais preconceituosas, diante da pouca informação - e por isso não vale essa "etnografia de butique" que defende a bregalização de tudo.
BREGAS DESPREZAVAM CULTURAS LOCAIS E MPB
É só verificarmos o que é a música brega. Uma colcha de retalhos, um Frankestein composto de modismos ultrapassados, uma "cultura" ditada pelo poder radiofônico, combinando uma visão entreguista, que supervaloriza o que vem de fora, com outra bairrista, a que mal consegue acompanhar as atualidades do seu próprio lugar.
De um lado, o hit-parade, a "cultura de fora", que nada serve para o provinciano local, mas que se torna sua obsessão pela influência persuasiva do poder radiofônico (controlado por forças coronelistas, vale frisar). De outro, o menosprezo pelas culturas locais, um desdém pelas próprias tradições regionais que faz surgir o "homem-brega" fascinando com o que há de fora.
Nessa incompreensão do que é de fora ou de dentro, exagerando a valorização do primeiro e praticamente anulando o segundo, surge o brega que, pelas próprias caraterísticas, é uma aberração que nada tem de bem brasileira nem de "universal".
O brega é o extremo-oposto da Bossa Nova, ritmo carioca que assimilou bem influências estrangeiras mas as subordinou a uma brasilidade forte, buscava fortalecer a auto-estima cultural, atualizava a antropofagia de Oswald de Andrade e lançou as bases para uma MPB moderna e empolgante. A Bossa Nova tornou-se ao mesmo tempo brasileira e universal pelas suas qualidades.
O brega mal digeria influências estrangeiras,assimiladas não pela via horizontal da livre escolha de ouvintes, mas pela via vertical do poderio radiofônico coronelista, Desprezava as tradições culturais e sonhava em viver em Miami, Veneza, Acapulco ou em Cannes.
Sim, o brega desprezava a MPB, tinha um desprezo quase odioso à MPB, não queria saber de tradições culturais, pouco se lixava se a cultura estava bem ou mal, ele só fazia sua música comercial com base no que ouvia no rádio, produzia sucessos fáceis e imediatos e pronto.
Odair José, numa entrevista antiga à revista Showbizz - me escapou o crédito da data - , declarou desprezar a Bossa Nova. Os bregas, além disso, eram retardatários artísticos, e só nas "brilhantes" duas primeiras gerações, a de Waldick e a de Odair, via-se que eles seguiam modismos ultrapassados, eram os últimos ídolos de modismos musicais que já haviam encerrado seu ciclo.
Só mesmo uma intelectualidade "bacaninha", que se diz "sem qualquer tipo de preconceito" mas é dotada de preconceitos piores - à altura de um dirigente do Instituto Millenium, mesmo! - para dizer que o brega faz parte da MPB e que ele sofria discriminação dos emepebistas.
Grande lorota, apesar dela ter prevalecido por conta das relações de prestígio, compadrios (e "compradrios"), favores e visibilidade de intelectuais "muito legais" e famosos "adoráveis". Isso porque não foi a MPB que discriminou o brega, o brega é que discriminou primeiro a MPB, até com raivoso desdém!
A MPB até que foi condescendente demais, tão condescendente que, neste ano, chegou a beijar as mãos em Michael Sullivan, um sujeito cínico e traiçoeiro que se tornou uma espécie de "Fernando Collor" da música brasileira, o Rei do Jabá que queria destruir a MPB e colocar uma caricatura de hit-parade norte-americano no lugar.
O brega é que desprezou tudo. Sentia horror às tradições de Altamira, Caetité, Taubaté, Goiás, Teófilo Otoni, Vassouras, Maringá, Rio Branco, Campina Grande, Nova Iguaçu etc etc etc. Queria era fingir que vivia em Miami, Veneza, Cannes, Barcelona, queria passear em Roma de Fiat 500 e óculos Ray-Ban.
O brega era UDN, era IPES-IBAD, era coronelismo fazendo parceria com o imperialismo, era o desenvolvimento subordinado do Brasil, com matéria-prima obsoleta do hit-parade dos EUA e Europa (de preferência os sub-produtos do Eurovision). O brega nunca foi progressista e sempre foi conservador, retrógrado, retardatário e culturalmente subordinado.
Só mesmo nas mentes férteis da intelligentzia para choramingar um lugar de honra do brega na MPB e em tudo que seja avançado e vanguardista. Isso sim é que é preconceito. E haja Michael Sullivan transformando a música brasileira em fast food da pior qualidade para depois ele ser carregado nos braços pelos condescendentes e masoquistas emepebistas.
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