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"CHEGA DE FIU-FIU" NÃO VAI REPRIMIR MAUS PAQUERADORES


Saudades dos tempos do namorinho de portão. Naqueles tempos, em que pese o moralismo que fazia as mulheres escandalizarem apenas por usar uma saia que não cobrisse os joelhos, se podia paquerar na rua. E os homens poderiam ser correspondidos em tais paqueras.

Hoje, ocorre uma coisa surreal, num país como o Brasil, em que valores retrógrados e avançados se relacionam promiscuamente a ponto de muitos jovens se apegarem a um padrão de entretenimento e curtição de 40 anos atrás.

Numa época em que "boazudas" perdem todo o tempo na vida mostrando seus "corpões" para provar a todo custo o quanto elas são "gostosas", a sociedade lançou uma campanha contra paqueras em ambientes públicos, através do lema "Chega de Fiu-fiu".

Paqueras assim já são proibidas há muito tempo. As mulheres há muito estão indiferentes ao assédio masculino, torcendo o nariz quando são paqueradas até por aqueles que poderiam ser seus melhores maridos. Todo homem virou um canalha quando o processo é paquera nas ruas.

Isso é inconstitucional. A Constituição Federal de 1988 prevê que todos somos inocentes até prova em contrário. No caso das paqueras nas ruas, todo homem é culpado até prova em contrário. Mas, para completar o surrealismo, a campanha "Chega de Fiu-fiu", que pede o fim das paqueras nas ruas, não conseguirá atingir o objetivo maior: afastar os maus paqueradores.

Eles sempre arrumam um jeitinho e encontrarão outros ambientes para adotar suas táticas. Os maus paqueradores e assediadores canastrões nem de longe se sentem incomodados com o "Chega de Fiu-fiu". Eles têm como se virar, dotados de esperteza que são.

Eles são péssimos maridos, não dão provas de afeto, não auxiliam suas companheiras nas horas difíceis, e uns as traem e outros até as maltratam, agridem ou matam. Vide os casos de brasileiras mortas em hotéis por seus companheiros, aqueles caras "legais" que tiveram um papo envolvente em algum momento na cantada.

O PIOR "FIU-FIU" CONTINUA NA "NÁITE"

Aliás é aí que está o grande erro. Pede-se o fim das paqueras nas ruas, mas ninguém faz campanha contra as paqueras em boates, ou mesmo uma "regulação" da prática, porque, redutos da embriaguez humana, são ambientes em que mais se encontram pessoas traiçoeiras e mesquinhas, que se escondem numa índole momentaneamente simpática e afável.

Nas boates, bares e casas noturnas, os piores paqueradores continuam lá e se misturam a muita gente que, em tese, é de boa índole e personalidade interessante. Como diz o ditado, à noite todos os gatos são pardos e a mulherada fica feliz diante do assédio de um rapaz descontraído, falador e sedutor, que em muitos casos poderá ser o pior inimigo no futuro.

O contexto de bebedeira, de felicidade provisória sob um céu noturno e sob ambientes fechados com alguma iluminação e sob as espumas abundantes dos copos de cerveja, além da ilusão festiva de algumas horas, dá uma impressão enganosa de que tais ambientes são redutos de fraternidade e solidariedade humana.

A vida noturna, ou a "náite" - para não dizer a enjoada e irritante gíria "balada", patente não assumida de Luciano Huck e de um Tutinha (executivo da Jovem Pan FM) que transformou sua rádio em ninho de "urubólogos" - , são situações provisórias em que a diversão torna-se um consenso para pessoas que deixam de lado suas próprias divergências, não raro cruéis e inconciliáveis.

Isso porque, enquanto todos apenas bebem, dançam e riem, pessoas reduzidas a meros motores humanos, a depender do álcool para movimentar alguma emoção em suas almas insensíveis, todos se afinam provisoriamente numa situação que não dura umas poucas horas, como no conto de Cinderela, com a diferença de que o relógio só toca a partir das três da manhã, e não pela meia-noite.

Tudo é maravilhoso e até os maus paqueradores, aqueles que fazem as mulheres apelarem para esse "AI-5" da vida amorosa, parecem agradáveis. De repente o que é constrangedor e humilhante nas ruas, mesmo em situações sóbrias, passa a ser socialmente saudável e recomendável nos momentos de embriaguez, para não dizer sob a ação de um "baseado".

Isso é até pior, porque o risco de consequências danosas é bem maior. Por que não nos atentarmos para as paqueras em boates, bares e casas noturnas? Será que os piores crápulas se tornam "galãs" ou "grandes amigos" na "náite"?

Por outro lado, entre os homens considerados de boa índole, um cara, visto como um "patinho feio" nas ruas e em ambientes públicos mais sóbrios (como bibliotecas), virá a ser um "galã" para moças tomadas de muito pileque?

Tudo é bonito quando pessoas estão entorpecidas pelo álcool e outras drogas. Tudo parece alegre, fraternal, poético, fascinante etc etc etc. Dá para compreender como Letícia Sabatella conseguiu sair ilesa de uma gafe que, normalmente, é constrangedora. Porque é Letícia Sabatella, não é a Maria da Lavanderia. Mas isso é outra história.

O que se lamenta é que se pensa em proibir as paqueras nas ruas e ambientes públicos, empurrando a prática para os espaços privativos e nada gratuitos dos bares, boates e casas noturnas. o que podem tornar as relações amorosas mais perigosas.

Quem pensa que a campanha "Chega de Fiu-fiu" irá afastar os paqueradores mais repugnantes, as mulheres estão enganadas. Eles estão lá no "maravilhoso mundo" da "vida noturna", onde os gatos são todos pardos e as pessoas parecem amigas e felizes. Até que o cotidiano quebre a ilusão e mostre sua mesquinhez, pior do que no conto da Cinderela. A vida não é um conto de fadas.

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