É muito preocupante o caminho que se segue a música em geral. A cada vez mais a era de qualidade artística e de talentos espontâneos anda ficando mais rara, enquanto se multiplicam programas de reality show musical em que, salvo pouquíssimas exceções, não passam de uma fábrica de "músicos amestrados".
No Brasil, então, em que cada vez mais cresce a supremacia da Música Paralisada Brasileira, sejam os tributos "moribundos" da MPB autêntica, sejam as aventuras pseudo-emepebistas dos bregas de plantão, a coisa tende a ser cada vez pior. E que, no Brasil, programas como The Voice Brasil, Superstar, Breakout Brasil, entre outros, só conseguem agravar.
O que se nota são os chamados oversingers, adotando clichês de malabarismo vocal, como a tremedeira vocal - versos cantados de maneira trêmula - , os prolongamentos de sílabas, as gritarias "emotivas" e os falsos trejeitos "black" que contaminam até os cantores de axé-music que cantam igualzinho Rogério Flausino.
O crescimento dos programas de reality show musical e de competição de novos talentos - há, no canal Sony, o Breakout, que inclui também a versão brasileira, Breakout Brasil - e outros festivais competitivos que tiram a espontaneidade e criam "artistas" ainda mais cordeirinhos.
Isso cria uma mentalidade tão castradora e convencional, do músico "fazendo o gosto do freguês" ou moldando suas referências nos hits que mesmo eventos musicais comuns acabam se enchendo - e nos enchendo - desses "talentos".
Um exemplo: um evento de rock em Itaguaí, meses atrás, com bandas emergentes do gênero, mostra um grupo inspirado em Detonautas Roque Clube prometendo cantar letras "tipo Legião" (cacoete que muitos sub-clones de Capital Inicial e Zero prometiam há 25 anos), banda punk com nome de senhora que abriu para os Raimundos e grupo "alternativo" (?!) que coverizou Skid Row e Velhas Virgens.
Puxa, se era para eu pegar um ônibus e ir lá pelo Centro-Sul fluminense para ver bandinhas dessas categorias, preferia ficar em casa e ouvir um CD de MP3 com bandas de rock instrumental do começo dos anos 60. O grande mal do rock brasileiro nos últimos 25 anos é ter muita "atitude", mas pouca postura de enfrentamento e criatividade, além de menos talento musical ainda.
A mediocrização cultural atingiu toda a música brasileira. A "nova MPB" com seus cantores carneirinhos, fazendo pop inofensivo com a desculpa de que é "urbano, moderno e hiperconectado com o mundo".
Há os bregas - sobretudo "pagodeiros românticos" e "sertanejos" - pretensiosos que acham que basta coverizar "Nervos de Aço" de Lupicínio Rodrigues e "Tocando em Frente" de Renato Teixeira que atingirão a tão sonhada sofisticação musical, às custas de trajes de gala e de arranjos musicais que já vem prontos de parte de terceiros.
Há funqueiros achando que estão recriando a Semana de Arte Moderna se associando forçadamente a ativismos sócio-culturais, se vendendo por qualquer polêmica enquanto contam com a blindagem de intelectuais "bacaninhas" capazes de criar mirabolantes teses etnográficas até com o remexer de glúteos das "mulheres-frutas".
E dentro desse cenário, quem será o "novo grande artista" brasileiro? É aquele cara que só ouve rádio e, por isso mesmo, têm o gosto cultural subnutrido e anoréxico. O "roqueiro" já mostra isso, não indo além da mesmice do grunge e de Guns N'Roses, ou de outro que fizer sucesso. Na música brasileira em geral, o que se nota são cantores "bem treinados" mas sem criatividade.
São muitos, muitos covers, de canções até boas porém surradas - "Não Quero Dinheiro", de Tim Maia, já soma à galeria de "boas canções que ninguém aguenta mais ouvir" que inclui "Stairway to Heaven" do Led Zeppelin, "Sultans of Swing" do Dire Straits e "I Feel Good" de James Brown - , por isso previsíveis e que não fazem diferencial algum diante de sub-Ivetes e sub-Flausinos.
Quando o repertório é autoral, não deixa marca alguma, evaporando depois de uns seis meses de veiculação nas rádios, e cujo exemplo já se mostra com os neo-bregas em seus delírios pseudo-MPB, pegando carona em tributos emepebistas porque suas músicas autorais são horríveis e mal resistem a uma morna execução nas rádios FM "mais populares".
Enfim, parece que se vive uma fase paralítica ou tetraplégica da música mundial. Poucos talentos que deixam marca pela música, muitos que apenas são entertaniners, com artifícios que vão de multidões de dançarinos acompanhantes e malabarismos vocais extremamente burocráticos. Poucos se salvam nesse deserto de ideias criativas e espontâneas do âmbito da música.
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