MARCELO JENECI - MESMO COM OLHAR DE "MALVADO", É MUSICALMENTE INOFENSIVO.
A Música Popular Brasileira, que há 50 anos atrás era um movimento de resistência cultural e herdeiro dos debates culturais do forçadamente extinto Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, hoje sofre uma grave crise de identidade.
Os grandes artistas de MPB autêntica, do nível de Edu Lobo, Marília Medalha e dos saudosos Sylvia Telles e Sidney Miller, continuam existindo, mas eles não conseguem ter um por cento a mais de projeção midiática ou terão que compactuar com o mercado e a mídia para ter um mínimo de cartaz e competir com os brega-popularescos.
Exemplo disso é a brilhante cantora Roberta Sá, que com todo seu admirável talento teve que usar um reality show para obter visibilidade, usou trilhas de novelas e até gravou música de Michael Sullivan, uma espécie de "Fernando Collor" da música brasileira, que quase destruiu a MPB nos anos 80, para ter algum lugar ao "sol" do show business.
Recentemente, o letrista do Clube da Esquina, Ronaldo Bastos, lançou um CD em que mescla canções emepebistas e sucessos bregas que contaram com sua participação como letrista, a exemplo de Paulo Sérgio Valle, o irmão do bossanovista Marcos Valle que também compactuou com a breguice musical.
É claro que, a essas alturas, os brega-popularescos também estão perdendo força, até porque sua natural mediocridade os impediram de lançar algo que deixasse alguma marca além da rotineira execução em programações de rádio e programas poularescos de TV. Soa risível ver a canastrona dupla Chitãozinho & Xororó apelando para um constrangedor tributo a Tom Jobim.
Nem mesmo a blindagem da mídia, de intelectuais e até de internautas troleiros fez com que a geração brega que veio a partir de 1990 se equiparasse aos grandes nomes da MPB, porque eles só gravaram covers tendenciosos da MPB que tentavam ocultar um repertório autoral tenebroso, fraco, e pensavam que fazer MPB era vestir roupas de gala e botar jogo de luzes no palco.
E isso atingindo nomes do neo-brega que a memória curta fez associar-se equivocadamente à MPB, como Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó, que nunca tiveram um repertório à altura da projeção que têm na mídia e que, perdidos, ultimamente só estão se dedicando a covers e tributos oportunistas, parasitando a MPB da qual possuem uma ideia confusa e altamente burguesa.
Mas nem um Luan Santana, nem um Léo Santana, um Mr. Catra, um Bruno & Marrone, uma Banda Calypso ou um César Menotti & Fabiano, para não dizer o horripilante Calcinha Preta que massacrava hits estrangeiros, ou um João Bosco & Vinícius que, pelos nomes (que juram ser de batismo), queriam confundir os fãs de MPB, conseguem manter o frágil sucesso que tiveram.
Estéreis, hoje todos eles vivem de factoides, de auto-tributos, de declarações banais na mídia, matérias pagas em Caras, pois, de tão medíocres e musicalmente ruins, eles não conseguem repetir sequer os breves anos de sucesso obtido por muito jabaculê. Nem a blindagem da intelectualidade pró-bregalização consegue salvá-los.
E A MPB?
A MPB autêntica continua tentando. Os veteranos Edu Lobo e Francis Hime, que simbolizaram a modernidade musical e tinham, nos anos 60, a projeção que hoje só um Luan Santana da vida consegue obter, lançaram novos discos e estão prontos para lançar novos clássicos musicais.
No entanto, quase ninguém dá ouvidos à MPB, embora, volta-e-meia, quando é um evento patrocinado pela grande mídia, ainda que seja Paulinho da Viola tratado como um estrangeiro numa apresentação gratuita em Madureira, berço do sambista, até os piores funqueiros comparecem para pedir bênção aos medalhões emepebistas.
Quando são tributos bastante divulgados até pela mídia "popular", o pessoal corre atrás desses eventos emepebistas como pombos voando sobre o milho. E, de preferência, só para dar a impressão de que estavam lá, sem se cuidar em saber a diferença entre Djavan e Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, Gal Costa e Maria Bethânia.
E os novinhos da "emepebê", então, contaminados pelo ecletismo e pela overdose de informações, correm o risco de sucumbir aos cacoetes que fazem dos artistas hispano-americanos os mais confusos e dispersos do mundo, a exemplo do que ocorre no pop italiano, por exemplo.
Gente que acha que portar uma guitarra elétrica irá salvar o planeta, alternando poses de malvados nas fotos e letrinhas de amor piegas, misturando sâmpler, violoncelo, reggae, heavy, e, visualmente, mesclando penteados punk, roupas hippie, clipes em rodovias no deserto (como nos EUA) e outros em casarões antigos, tudo numa mistura bem-intencionada, mas sem pé nem cabeça.
Aí vemos artistas "carneirinhos", como Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz, muito bem informados, conhecedores de YouTube, Facebook, da estética MTV, da trajetória do pop contemporâneo etc, etc, etc, mas sem muita força para representar sangue novo para nossa sofrida MPB azucrinada pela breguice estéril mas ainda dominante.
Só para se ter uma ideia do caráter domesticado de Jeneci, semanas atrás o cantor fez uma parceria publicitária com uma indústria de cosméticos que envolvia uma criação por encomenda da nova canção do artista, numa jogada claramente comercial.
Aí a MPB vive uma situação delicada. A ala mais veterana e tradicionalista está vivendo de tributos, como se fosse uma crônica de uma morte anunciada e um requiém misturado de extrema-unção para o fim de uma trajetória musical, em que pesem emepebistas pouco conhecidos buscarem espaço de divulgação até em programas musicais da TV Senado e da TV Câmara.
Já a ala mais nova mais parece um pop, em tese semi-sofisticado, que promete surpreender e provocar, mas não surpreende nem provoca um segundo sequer, sendo mais um reflexo de uma má digerida variedade de informações culturais, que trazem uma sonoridade superficial, inofensiva, acomodada, por mais que boas intenções estivessem em jogo.
Daí a MPB hoje sofrer de crise de identidade. Periga se transformar no pop italiano fraquíssimo, que apenas camufla sua pieguice conservadora com adereços pop pós-MTV. Um pop simpático mas confuso, que mistura guitarra elétrica com violoncelo, poesia concreta com breguice, jaquetas de couro com vestuário do século XIX.
Estamos condenados a viver sob uma MPB "fofinha", uma Música Perfumada e Bonitinha sem pé nem cabeça, que se torna facilmente cansativa e culturalmente descartável, já que não oferece diferencial nem ruptura com as regras do mercado dominante. E que, com todo seu pretensiosismo, não deixará marca nem transformará a cultura brasileira.
A Música Popular Brasileira, que há 50 anos atrás era um movimento de resistência cultural e herdeiro dos debates culturais do forçadamente extinto Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, hoje sofre uma grave crise de identidade.
Os grandes artistas de MPB autêntica, do nível de Edu Lobo, Marília Medalha e dos saudosos Sylvia Telles e Sidney Miller, continuam existindo, mas eles não conseguem ter um por cento a mais de projeção midiática ou terão que compactuar com o mercado e a mídia para ter um mínimo de cartaz e competir com os brega-popularescos.
Exemplo disso é a brilhante cantora Roberta Sá, que com todo seu admirável talento teve que usar um reality show para obter visibilidade, usou trilhas de novelas e até gravou música de Michael Sullivan, uma espécie de "Fernando Collor" da música brasileira, que quase destruiu a MPB nos anos 80, para ter algum lugar ao "sol" do show business.
Recentemente, o letrista do Clube da Esquina, Ronaldo Bastos, lançou um CD em que mescla canções emepebistas e sucessos bregas que contaram com sua participação como letrista, a exemplo de Paulo Sérgio Valle, o irmão do bossanovista Marcos Valle que também compactuou com a breguice musical.
É claro que, a essas alturas, os brega-popularescos também estão perdendo força, até porque sua natural mediocridade os impediram de lançar algo que deixasse alguma marca além da rotineira execução em programações de rádio e programas poularescos de TV. Soa risível ver a canastrona dupla Chitãozinho & Xororó apelando para um constrangedor tributo a Tom Jobim.
Nem mesmo a blindagem da mídia, de intelectuais e até de internautas troleiros fez com que a geração brega que veio a partir de 1990 se equiparasse aos grandes nomes da MPB, porque eles só gravaram covers tendenciosos da MPB que tentavam ocultar um repertório autoral tenebroso, fraco, e pensavam que fazer MPB era vestir roupas de gala e botar jogo de luzes no palco.
E isso atingindo nomes do neo-brega que a memória curta fez associar-se equivocadamente à MPB, como Alexandre Pires e Chitãozinho & Xororó, que nunca tiveram um repertório à altura da projeção que têm na mídia e que, perdidos, ultimamente só estão se dedicando a covers e tributos oportunistas, parasitando a MPB da qual possuem uma ideia confusa e altamente burguesa.
Mas nem um Luan Santana, nem um Léo Santana, um Mr. Catra, um Bruno & Marrone, uma Banda Calypso ou um César Menotti & Fabiano, para não dizer o horripilante Calcinha Preta que massacrava hits estrangeiros, ou um João Bosco & Vinícius que, pelos nomes (que juram ser de batismo), queriam confundir os fãs de MPB, conseguem manter o frágil sucesso que tiveram.
Estéreis, hoje todos eles vivem de factoides, de auto-tributos, de declarações banais na mídia, matérias pagas em Caras, pois, de tão medíocres e musicalmente ruins, eles não conseguem repetir sequer os breves anos de sucesso obtido por muito jabaculê. Nem a blindagem da intelectualidade pró-bregalização consegue salvá-los.
E A MPB?
A MPB autêntica continua tentando. Os veteranos Edu Lobo e Francis Hime, que simbolizaram a modernidade musical e tinham, nos anos 60, a projeção que hoje só um Luan Santana da vida consegue obter, lançaram novos discos e estão prontos para lançar novos clássicos musicais.
No entanto, quase ninguém dá ouvidos à MPB, embora, volta-e-meia, quando é um evento patrocinado pela grande mídia, ainda que seja Paulinho da Viola tratado como um estrangeiro numa apresentação gratuita em Madureira, berço do sambista, até os piores funqueiros comparecem para pedir bênção aos medalhões emepebistas.
Quando são tributos bastante divulgados até pela mídia "popular", o pessoal corre atrás desses eventos emepebistas como pombos voando sobre o milho. E, de preferência, só para dar a impressão de que estavam lá, sem se cuidar em saber a diferença entre Djavan e Milton Nascimento, Paulinho da Viola e Martinho da Vila, Gal Costa e Maria Bethânia.
E os novinhos da "emepebê", então, contaminados pelo ecletismo e pela overdose de informações, correm o risco de sucumbir aos cacoetes que fazem dos artistas hispano-americanos os mais confusos e dispersos do mundo, a exemplo do que ocorre no pop italiano, por exemplo.
Gente que acha que portar uma guitarra elétrica irá salvar o planeta, alternando poses de malvados nas fotos e letrinhas de amor piegas, misturando sâmpler, violoncelo, reggae, heavy, e, visualmente, mesclando penteados punk, roupas hippie, clipes em rodovias no deserto (como nos EUA) e outros em casarões antigos, tudo numa mistura bem-intencionada, mas sem pé nem cabeça.
Aí vemos artistas "carneirinhos", como Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz, muito bem informados, conhecedores de YouTube, Facebook, da estética MTV, da trajetória do pop contemporâneo etc, etc, etc, mas sem muita força para representar sangue novo para nossa sofrida MPB azucrinada pela breguice estéril mas ainda dominante.
Só para se ter uma ideia do caráter domesticado de Jeneci, semanas atrás o cantor fez uma parceria publicitária com uma indústria de cosméticos que envolvia uma criação por encomenda da nova canção do artista, numa jogada claramente comercial.
Aí a MPB vive uma situação delicada. A ala mais veterana e tradicionalista está vivendo de tributos, como se fosse uma crônica de uma morte anunciada e um requiém misturado de extrema-unção para o fim de uma trajetória musical, em que pesem emepebistas pouco conhecidos buscarem espaço de divulgação até em programas musicais da TV Senado e da TV Câmara.
Já a ala mais nova mais parece um pop, em tese semi-sofisticado, que promete surpreender e provocar, mas não surpreende nem provoca um segundo sequer, sendo mais um reflexo de uma má digerida variedade de informações culturais, que trazem uma sonoridade superficial, inofensiva, acomodada, por mais que boas intenções estivessem em jogo.
Daí a MPB hoje sofrer de crise de identidade. Periga se transformar no pop italiano fraquíssimo, que apenas camufla sua pieguice conservadora com adereços pop pós-MTV. Um pop simpático mas confuso, que mistura guitarra elétrica com violoncelo, poesia concreta com breguice, jaquetas de couro com vestuário do século XIX.
Estamos condenados a viver sob uma MPB "fofinha", uma Música Perfumada e Bonitinha sem pé nem cabeça, que se torna facilmente cansativa e culturalmente descartável, já que não oferece diferencial nem ruptura com as regras do mercado dominante. E que, com todo seu pretensiosismo, não deixará marca nem transformará a cultura brasileira.
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