Pular para o conteúdo principal

GERAÇÕES MAIS NOVAS SUPERESTIMAM SONS COMERCIAIS

PABLO DYLAN, NETO DE BOB DYLAN, ATRIBUIU VALOR "REVOLUCIONÁRIO" AO ARROZ-DE-FESTA KANYE WEST.

As gerações mais recentes não tendem a ver diferença entre sons comerciais e outros de valor artístico. Desde os anos 1990, essa noção, que parece "libertária" ou "democrática", revela a falta de discernimento que a overdose de informações faz na juventude, e a supremacia das FMs pop na influência de suas vidas.

Um exemplo é o neto de Bob Dylan, Pablo Dylan, que está no começo da faixa dos 20 anos. Ele parece ser um artista bem intencionado, e pode ser que seu talento até cresça com o decorrer dos tempos, mas ele tem sua boa-fé em relação ao hip hop recente, mais carregado de pretensão do que de musicalidade e criatividade.

Pablo produziu nomes recentes do gênero, se diz influenciado por Drake e alegou que, quando ouviu Kanye West, "sua vida mudou". Ele diz que o hip hop é o "novo rock'n'roll", "uma música que quer dizer alguma coisa e é importante para uma geração. Eles (rock e hip hop) têm o mesmo poder".

O hip hop em si é bom. Mas a geração que veio de 1998 em diante não tem a mesma criatividade da fase áurea. Algo fez o pessoal desaprender as lições do Sugarhill Gang, Grandmaster Flash e, um pouco mais adiante, LL Cool J, Beastie Boys e Public Enemy.

O que se vê é que, com o gangsta rap, a maior parte dos intérpretes passou a se carregar de pretensão, estrelismo, arrogância, com uma postura que pouco tem a ver com música, um "excesso de atitude" que mais parece um golpe de marketing do que um talento.

Os jovens de hoje foram educados numa sociedade midiatizada e mercantilista que, mesmo que procurem aprimorar-se artisticamente, não veem a música comercial com suficiente visão crítica. Imagina-se até que essas pessoas avaliam o valor da música não pela música em si, mas pela associação da mesma aos momentos que lhes são agradáveis.

No Brasil, a coisa é bem mais complicada, já que houve uma elite de artistas, acadêmicos, jornalistas e cineastas que tentaram dar um "novo sentido" no comercialismo explícito e tosco do brega-popularesco, carregando-o de pretensiosismos artísticos, ativistas e comportamentais que levaram seus ídolos a sério demais.

O entretenimento musical passou a ser controlado pelos executivos de mídia e da indústria fonográfica. Eles se apropriavam de estereótipos de transgressão para inseri-los, em larga escala, nos sucessos comerciais produzidos a partir de 1990, e com maior intensidade uma década depois, o que fez com que marketing, coreografia, factoides e outros artifícios se sobressaíssem à música.

Numa vida frenética e consumista, aliada ao deslumbramento tecnológico e ao consumo de obras de ficção, dos quadrinhos ao cinema, da literatura à TV, os mais jovens não conseguem discernir o que realmente é arte e o que é mercadoria "artística". Tudo para eles é comercial, e só dentro dos limites pode arrumar algumas possibilidades "não-comerciais", uma contradição que é mal resolvida.

Os mais jovens perderam aquele discernimento dos anos 1960, daí o problema em ver rebelião nas listas das paradas de sucesso da Billboard ou nos tabloides sensacionalistas. ou achar que valor cultural se confunde com uma mera trilha sonora de momentos infelizes, algo similar que considerar uma bala "nutritiva" só porque tem um sabor delicioso.

É verdade que a criação artística é livre e pode ser inusitada, mas falta esse discernimento, que acabará produzindo artistas mais convencionais, mesmo quando tentam alguma transgressão ou apresentam uma relativa abrangência de informações culturais.

Isso porque eles acabam compactuando com um esquema que envolve massificação e, por conseguinte, banalização, e quando a expressão artística é submetida ao mercado, mesmo quando finge se voltar contra ele, ela perde boa parte de sua essência. E quando não há esse discernimento entre o comercial e o artístico, a situação torna-se bastante perigosa para a cultura.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

"ANIMAIS CONSUMISTAS"AJUDAM A ENCARECER PRODUTOS

O consumismo voraz dos "bem de vida" mostra o quanto o impulso de comprar, sem ver o preço, ajuda a tornar os produtos ainda mais caros. Mesmo no Brasil de Lula, que promete melhorias no poder aquisitivo da população, a carestia é um perigo constante e ameaçador. A "boa" sociedade dos que se acham "melhores do que todo mundo", que sonha com um protagonismo mundial quase totalitário, entrou no auge no período do declínio da pandemia e do bolsonarismo, agora como uma elite pretensamente esclarecida pronta a realizar seu desejo de "substituir" o povo brasileiro traçado desde o golpe de 1964. Vemos também que a “boa” sociedade brasileira tem um apetite voraz pelo consumo. São animais consumistas porque sua primeira razão é ter dinheiro e consumir, atendendo ao que seus instintos e impulsos, que estão no lugar de emoções e razões, ordenam.  Para eles, ter vale mais do que ser. Eles só “são” quando têm. Preferem acumular dinheiro sem motivo e fazer de ...

EDITORAS MUSICAIS EXERCEM PODER SOBRE ARTISTAS VETERANOS E NO GOSTO POPULAR DAS PESSOAS

    ROBERTO CARLOS E HERDEIROS DE ERASMO CARLOS PERDERAM A BATALHA CONTRA A EDITORA FERMATA, NOS DIREITOS AUTORAIS DE MÚSICAS DOS ANOS 1960 E 1970. O poderio das editoras musicais pode estar por trás de muita coisa que parece natural e normal no cotidiano das pessoas. Ela determina as músicas estrangeiras que devem pegar no gosto musical das pessoas, até mesmo no aparentemente exigente segmento rock, filtra o que pode ser tocado nas emissoras de rádio, promove a mediocrização da cultura popular musical e, além disso, controla as obras de compositores que deixam de ser responsáveis pelas próprias canções. A recente decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de dar ganho de causa à editora Fermata (que um dia também foi gravadora, responsável pelos "tapa-buracos" nas trilhas sonoras de novelas da Rede Globo, com intérpretes "estrangeiros" de baixa categoria e regravações de sucessos estrangeiros), em detrimento de uma ação movida por Roberto Carlos e Erasmo Carlos,...

A PROIBIÇÃO DO "FUNK" E DO USO DOS CELULARES NAS ESCOLAS

Nos dois lados da polarização, há iniciativas que, embora bastante polêmicas, pretendem diminuir a fuga de foco dos alunos dos ensinos fundamental e médio no cotidiano escolar. Do lado lulista, temos a aprovação de uma lei que limita o uso de telefones celulares para fins pedagógicos, proibindo o uso recreativo nos ambientes escolares. Do lado bolsonarista, várias propostas proíbem projetos que proíbem o "funk" e outras músicas maliciosas a serem tocados nas escolas. Lula sancionou a lei surgida a partir da aprovação do Projeto de Lei 104, de 03 de fevereiro de 2015, do deputado Alceu Moreira (MDB-RS), que estabelece a proibição do uso informal dos telefones celulares pelos alunos das escolas públicas e privadas. A lei só autoriza o uso dos celulares para fins pedagógicos, como pesquisar textos indicados pelos professores para exercícios em salas de aula. ""Essa sanção aqui significa o reconhecimento do trabalho de todas as pessoas sérias que cuidam da educação, de ...

QUANDO, NO ATEÍSMO, O GALINHEIRO SE TRANSFORMA EM TEMPLO DE RAPOSA

O ateísmo virou uma coisa de gente à toa. Além da má compreensão do que é mesmo a descrença em Deus - uma figura lendária e folclórica que grande parte da humanidade atribui como "o Criador de todas as coisas" - , que chega mesmo a se tornar uma "religião invertida" cheia de dogmas (como a certeza da "inexistência de Jesus Cristo", sem admitir pesquisas nem debates sobre o suposto "Jesus histórico" que causa polêmicas nos meios intelectuais), há costumes estranhos nessa descrença toda. Como se vê em comunidades como Ateísmo BR, há uma estranha complacência e até devoção em torno de um farsante religioso, o tal "médium da peruca" que transformou a Doutrina Espírita em um chiqueiro. O "médium dos pés de gelo", que amaldiçoou alguns de seus devotos famosos que, tempos depois, viam seus filhos morrerem prematuramente de repente, é defendido por supostos ateus com uma persistência muitíssimo estranha. As alegações sempre se referem...

NÃO SE ACHA UM WALTER SALLES EM QUALQUER BOATE DESCOLADA OU BAR DA ESQUINA

Costumo dizer que exceção é como um micro-ônibus no qual as muitos querem que tenha a lotação de um trem-bala. Todos querem ser exceção à regra. A regra quer ser exceção de si mesma. E num Brasil afundado de muito pretensiosismo e falsidade, todos querem ser reconhecidos pelo que realmente eles não são. Na burguesia e, principalmente, na elite financeira, temos uma brilhante exceção que é o cineasta Walter Salles, de uma obra humanista e progressista. Por uma questão de vínculo familiar, Walter é membro de uma família de banqueiros, acompanhou o auge da carreira do pai, Walther Moreira Salles - do qual herdou o nome, acrescido da palavra "Júnior" - , e é uma das pessoas mais ricas do país. Mas Walter Salles é uma grande exceção à regra, e o seu cinema tem uma proposta de lançar questões que ele mesmo tem em mente, indo do documentário sobre Chico Buarque ao recente drama sobre Rubens Paiva, Eu Ainda Estou Aqui , passando por temas como a geração beat  e a juventude de Che Gue...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...

BOLSONARISTAS CAUSAM PÂNICO COM MENTIRAS SOBRE PIX

Os últimos dias foram marcados, na Economia brasileira, por um escândalo provocado por uma onda de mentiras transmitidas por bolsonaristas, a partir de um vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG). Assim que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou que pretende aumentar a fiscalização para movimentações financeiras, as mentiras se voltaram para a hipotética taxação do Pix. Trata-se de uma interpretação leviana do que a equipe econômica cogitava fazer, que seria o aumento da fiscalização sobre transferências em valores superiores a R$ 5 mil através do Pix de pessoas físicas e acima de R$ 15 mil de pessoas jurídicas (empresas). A interpretação supunha que o Governo Federal iria aumentar os impostos de pessoas físicas que utilizassem pagamentos através do Pix, sistema de pagamento criado pelo Banco Central. Várias pessoas ligadas a grupos bolsonaristas espalharam a mentira e estarão sob investigação pela Polícia Federal, a pedido da Advocacia-Geral da União. A medida causou pânic...

PRÉ-CANDIDATURA DE GUSTTAVO LIMA À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA REVELA ESTRATEGISMO PERIGOSO DA EXTREMA-DIREITA

RONALDO CAIADO APADRINHA A POSSIBILIDADE DO BREGANEJO GUSTTAVO LIMA SER CANDIDATO À PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. O anúncio do cantor breganejo Gusttavo Lima para se candidatar à Presidência da República em 2026 revela uma habilidade estratégica da extrema-direita em diversificar suas opções e pulverizar o jogo eleitoral. Diferente dos lulistas, que apostam na velha opção de Lula, que busca reeleição, numa arriscada iniciativa de investir num idoso para conduzir o futuro do Brasil, os extremo-direitistas buscam renovar e diversificar as opções, buscando atrair o público jovem e as classes populares. O caso de Pablo Marçal, influenciador e empresário, mas representante do brasileiro “indignado”, foi um teste adotado na campanha para a Prefeitura de São Paulo. É uma tendência perigosa, que mostra a habilidade dos extremo-direitistas em jogar pelo improviso. Eles podem ser patéticos no conjunto da obra, mas são muito, muito habilidosos em suas estratégias. O Brasil vive um cenário viciado de ...

NÃO EXISTE ALMOÇO GRÁTIS. MUITO MENOS DE PICANHA DE GADO ZEBU

JOVENS "AGRO" DO INTERIOR PAULISTA - O verdadeiro público-alvo do mito de "cidade barata" de Uberaba. Devemos sempre desconfiar de muitas notícias veiculadas. Perguntar, indagar, exigir fundamento. Como jornalista, não tenho o compromisso de escrever textos agradáveis nem em narrar contos de fadas. Faço postagens programadas para serem publicadas de manhã, mesmo se eu escrever numa madrugada de um dia anterior, e por isso não sou obrigado a contar estorinhas para ninar marmanjões e marmanjonas. Dito isso, ainda persistem certos mitos que, numa interpretação fragmentada dos fatos, fazem sentido e são vendidos como "verdades absolutas" por pessoas que aceitam tudo de bandeja. Vide a falácia de que Uberaba é "uma das cidades mais baratas do Brasil", mentira que não tem tamanho, e que é divulgada pela imprensa tendenciosa, muitas vezes através do "Ctrl+C/Ctrl+V" de uma mesma fonte, para atrair o turismo econômico e até religioso, pois a cid...

GOVERNO TRUMP TRARÁ MOMENTO DE TENSÃO NA POLARIZAÇÃO IDEOLÓGICA

Mais empoderado do que no mandato anterior, o presidente dos EUA , Donald Trump, tende a tornar a realidade do mundo mais complexa, depois do breve fenômeno das esquerdas políticas domesticadas por neoliberais "democratas" - como foi com Alberto Fernandez na Argentina e ainda são com Luís Arce na Bolívia e Lula no Brasil - que parecia, em tese, sepultar a onda neoconservadora de 2016. Trump já mudou o lema da campanha que o fez vencedor. Se no primeiro mandato o lema era "Make America Great Again" ("Fazer a América Grande de Novo"), hoje o lema é ainda mais austero, "America First". Lembrando que os estadunidenses chamam seu país como "a América". Quem nasceu nos EUA deveria ser chamado stattish , mas elas se autodefinem como american . Abaixo dos EUA, a "outra" América, incluindo o Brasil, só tem sua razão de existir se se submeter ao jugo de Titio Samuca. Com as esquerdas prometendo mais sonho do que realidade, sem significa...