
A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover.
O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural.
No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado::
“De acordo com as investigações, o cantor realiza shows exclusivamente em áreas dominadas pelo CV, com a presença ostensiva de traficantes armados com armas de grosso calibre, como fuzis, garantindo a 'segurança' do artista e do evento. Além disso, a investigação identificou que o repertório das músicas entoadas por ele faz clara apologia ao tráfico de drogas, ao uso ilegal de armas de fogo e incita confrontos armados entre facções rivais, o que frequentemente resulta em vítimas inocentes”.
Poze também é acusado de envolvimento em um esquema de sorteios ilegais nas redes sociais ao lado de sua esposa, a influenciadora Viviane Noronha e outros influenciadores digitais. O funqueiro também conta com um riquíssimo patrimônio que inclui carros de luxo, mansão, apartamento luxuoso e joias.
Apesar disso, a choradeira em torno do “funk” voltou à tona, Em seu perfil oficial, a parlamentar Talíria Perrone (PSOL-RJ) fez um comentário em favor de MC Poze do Rodo, que se diz “perseguido”. Escreveu Talíria:
“Eu fico impressionada com a hipocrisia de quem tá defendendo a prisão de um arista. Vamos falar sério e enfrentar de forma verdadeira o crime, as armas e as milícias?
As armas não podem determinar as vidas de quem mora nas favela e nas quebradas Brasil afora. Ponto.
Mas a saída para isso é criminalizando quem canta a realidade da favela? Acredito que não.
Um enfrentamento contundente a lógica das armas e da morte passa por um modelo de segurança pública que seja efetivo. Com inteligência, investigação e menos mortes. Estamos falando de perícia independente, controle externo das polícias pelo Ministério Público, valorização dos policiais e demais servidores das forças de segurança, perseguir o dinheiro do crime de forma efetiva e rápida.
Só assim poderemos avançar para o fim dessa guerra que mata, em sua esmagadora maioria, jovens negros e favelados. E isso é defender a família’”.
O problema é que essa declaração de Talíria Perrone, que provoca uma comoção paternalista nas esquerdas médias, não só consente com esse cenário de precarização cultural do “funk” e do trap, como também se apoia no ideal da glamourização da pobreza, como se as favelas fossem um habitat natural dos pobres, e não são.
Hipócrisia são esses funqueiros se venderem como “porta-vozes do povo pobre” - embora na prática, eles representam somente o “pobre de novela” - e, depois, se enriquecerem de forma abusiva, fútil e supérflua.
A choradeira do “conbate ao preconceito” continua, mas esse discurso já não surte o efeito persuasivo de antes. Afinal, enquanto os funqueiros e ídolos do trap se enriquecem e compram mansões, os jovens pobres continuam vivendo no suplício da vida precaria das favelas que, nem de longe, são a Disneylândia dos sonhos dos esquerdas médias.
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