Não é à toa que, há oito anos atrás, um bando de "coxinhas" me esculhambou surgindo de dentro da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo", no Orkut. Os aprendizes de Reinaldo Azevedo defendiam a gíria "balada" e transformarem meu espaço de recados num pastiche de chat com mensagens em bloco de vários internautas com ironias, xingações e ameaças.
É o mesmo que se foi feito, por exemplo, contra Maria Júlia Coutinho, uma das poucas que mostram competência dentro da perigosa maré reacionária da Rede Globo, capitaneada pelo sombrio Ali Kamel. Gente que se combina para mandar mensagens numa mesma hora, por iniciativa de algum valentão, só para desmoralizar e arruinar quem não pensa igual a esse "rebanho".
Não por acaso, o que as pessoas não conseguem perceber e pouco se fala, até mesmo na mídia de esquerda - cujo pecado é de se pautar demais no noticiário político - , sobre as armadilhas que se faz sob o rótulo de "cultura" e que escondem perversidades que acabam favorecendo grupos direitistas que se aproveitam de um único "atchim" dado por algum esquerdista.
Com isso, a direita deita e rola e impõe suas barbaridades "culturais" que se tornam "universais" porque um bando de intelectualoides com relação free lancer com os barões da mídia (eles invadem Carta Capital, Fórum e Caros Amigos defendendo visões culturais da Folha e da Globo) foi jogar ninharia para os meios progressistas.
E aí surgem aberrações como um Eugênio Raggi que escreve e pensa igualzinho a um Reinaldo Azevedo e no entanto se autoproclama "de esquerda" só para agradar a esposa e os colegas professores lá de Belo Horizonte, ligados ao PT ou à CUT.
Se tivermos algum esforço de memória, veremos que as piores armadilhas contra a esquerda aparecem sob a chancela da cultura e que muitos dos fascistas digitais que aterrorizam as mídias sociais na Internet, meio que "sem querer querendo", acabam influindo na ascensão de grupos e personalidades do pior reacionarismo direitista.
TUTINHA, LUCIANO HUCK E OS IRMÃOS MARINHO "NA BALADA"
Se sabemos, depois de muita trabalheira feita por mim na Internet, que a intelectualidade pró-brega era na verdade um bando de tucanos escondidos em fruteiras fingindo promover o guevarismo cultural com suas teses "provocativamente" risíveis, um pouco de memória histórica irá revelar a relação da gíria "balada" com o histórico da Jovem Pan FM, da Globo e de Luciano Huck.
Primeiro, a gíria "balada" surgiu como um jargão de DJs paulistas para certos tipos de "balas" consumidas nesses ambientes. Era um circuito de casas noturnas cujo um dos empresários emergentes era ninguém menos que Luciano Huck.
Para começo de conversa, era uma gíria para quem ouvia Snap! (aquele do "I have the power"), Technotronic, Black Box e era fissurado em "cultura clubber". Gente que só vivia entre a ginástica aeróbica e os agitos noturnos, entre os anabolizantes e os alucinógenos, que só ouvia dance poperó, portanto nada desse status "para todo mundo" que a gíria "balada" queria impor.
E qual a primeira rádio que difundiu a gíria "balada" para além dos ambientes de luzes frenéticas das casas noturnas? A Jovem Pan 2, é claro! Na época as rádios Jovem Pan AM e FM tinham diferença mais acentuada (hoje elas compartilham parte da programação, esperando a fusão final com o fim do AM) e a rádio de Tutinha (ele só comandava a FM) popularizou a gíria entre os paulistas.
O passo para a gíria se tornar nacional foi quando o amigo de Tutinha, Luciano Huck, então um simples empresário com jeito de colunista social, tinha um programa na emissora. Pouco depois a JP encampou a ideia de criar um programa de pop dançante chamado "Na Balada", que passou a ser comercializado no país.
Eis que Luciano Huck sai da TV Bandeirantes e vai para a Rede Globo e a gíria "balada" passa a ser difundida pela emissora dos dos irmãos Marinho. Com isso, a gíria "balada" acabou sendo gíria "do caldeirão", gíria funqueira que, inspirada no Caldeirão do Huck, quer dizer "isto é o máximo".
Aí vemos um fato surreal: uma gíria que, tal como um micróbio, tem vida curta e área de atuação limitada, passou a ser uma gíria totalitária. A "balada" virou uma espécie de "gíria do Terceiro Reich", querendo estar acima dos tempos e das tribos. Não queria ser apenas uma gíria entre clubbers, mas um führer vocabular a montar seu império nos dicionários de língua portuguesa.
Daí a gíria foi empurrada, via rádio FM, para outras rádios, de popularesco ou aquelas que se autoproclamam "rádios rock" forjando falso diferencial. Aí teve carinha que enviou anúncio de evento de punk rock (?!) usando a gíria "balada", o que é uma falta de consenso. "Punk up the Jam"?
A gíria "balada" passou a ter até esquema de marketing próprio, fazia mershandising em novela, e puxava uma espécie de "parnasianismo pelo avesso" (Parnasianismo era aquele movimento literário marcado pelo rigor da linguagem formal) em que a linguagem coloquial juvenil passou a ter esse cacoete de gírias forçadas ("balada", "galera" etc) que mais parecia formalismo que coloquialidade.
Até um desorientado Malcolm Montgomery (espécie de Roberto Justus dos médicos), quando escreveu um livro sobre os Beatles (do qual precisou de um consultor, apesar de Malcolm ter vivido a adolescência na época da Beatlemania) usando a gíria "balada", como se os quatro rapazes de Liverpool estivessem nivelados a qualquer armação inserida em As Sete Melhores da Pan.
E aí, voltamos ao reacionarismo furioso dos "coxinhas" da comunidade "Eu Odeio Acordar Cedo" (que, da parte deles, deveria se chamar "Eu Odeio Cair na Real"), e eles mal poderiam imaginar, na sua histeria reaça pré-Rodrigo Constantino (faltava um líder para dar verniz "racional" a essa moçada), que a rádio favorita deles se destacaria também por posturas reacionárias.
Pois vemos o quanto a rádio que popularizou a gíria "balada" agora coloca um noticiário em que os principais astros são Reinaldo Azevedo, Rachel Sheherazade e Marco Antônio Villa (o historiador que chamou Jango de "fracote"), com suas opiniões altamente reacionárias. Eles também "odeiam acordar cedo", já que pensam a realidade de quem "curte todas na balada".
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