Pular para o conteúdo principal

POR QUE OS HOMENS BRASILEIROS TENTAM PARECER CULTURALMENTE MAIS VELHOS?

ANDANDO PARA TRÁS...

Por que os chamados homens influentes, pelo menos aqueles que têm mais de 45 anos e são considerados cultos e abastados, tentam parecer culturalmente mais velhos? Sobretudo quando eles são empresários, executivos ou profissionais liberais, que tentam tomar como referênciais valores e ídolos que correspondem a gerações dez ou vinte anos mais velhas?

Que as pessoas curtam o que quiserem, é verdade. Mas é muito estranho, por exemplo, que homens que nasceram na década de 1950 tentem enfatizar referências de quem viveu os anos 1930 ou 1940, ou abraçar referenciais de seu tempo de infância como se tivessem sido adultos no período. Fala-se aqui dos homens, porque essa tendência não aparece, ao menos com evidência, em mulheres.

Há também o caso de homens nascidos na segunda metade dos anos 1960 cujos heróis são músicos ingleses que se lançaram nessa década e que gravaram músicas lentas nos anos 1980, como Rod Stewart, Elton John, Eric Clapton, Phil Collins e Pink Floyd.

Ora, que diacho é isso? Gente que nasceu em 1967, 1968 ou 1969 que elegem como "heróis de sua geração" gente considerada "mais antiga" para essa geração. Liberdades de gosto à parte, levar isso como tendência soa muito, muito, muito estranho.

Em relação aos born in the 50s, é assustador ver médicos, empresários e economistas, que hoje estão entre seus 61 ou 62 anos, falarem das décadas de 1930 e 1940 como se tivessem vivido naqueles tempos. Falam de Glenn Miller como se tivessem conhecido ele pessoalmente, o que é ridículo para quem nasceu em 1953 e 1954, porque o maestro faleceu em 1944, cerca de dez anos antes.

Se compararmos os homens nascidos nos anos 1950 e 1960 na Grã-Bretanha e nos EUA e seus contemporâneos brasileiros, a diferença é gritante. Os desses dois países, quando nascidos nos anos 1950, anteciparam e desenvolveram o "espírito" dos anos 1980. Quem nasceu nos anos 1960 procurou minimizar a mediocrização dos anos 1990.

E aqui no Brasil? Os homens nascidos na década de 1950, salvo exceções, parecem sentir alergia aos anos 80, sobretudo aqueles que passaram a década com cursos de pós-graduação e rotinas sobrecarregadas de emprego. Acham que, fora de seus escritórios e consultórios, todo mundo era criança e não havia diferença entre Legião Urbana e Trem da Alegria.

Os born in the 50s brasileiros tendem a soarem como "rabo de geração" da anterior, nascida nos anos 1940, ou ir mais para trás nas referências para tentar agradar patrões e professores. Já os nascidos nos anos 60 tentam parecer que viviam como adultos nos anos 1970.

Se fosse uma eventual inclinação natural para o passado, vindo de alguns indivíduos, é compreensível e saudável. Quem nasceu nos anos 1950 pode se aprofundar na apreciação das décadas anteriores se isso for uma identificação natural com esse tempo e não um artifício para agradar patrões mais velhos ou bancar o "maduro autêntico" só porque se casou com uma mulher bem mais jovem.

Não é qualquer um que pode abraçar essa "bandeira" e se apropriar de um passado que mal consegue entender, só para parecer culto e amadurecido é até perigoso, porque diante do estilo de vida convencional e um pouco desleixado dos abastados (apegados em uma vida de formalidades e consumo "moderado" de álcool), a ameaça de um mal de Alzheimer pode ser devastadora.

O mal de Alzheimer, atingindo esses homens na medida em que chegam aos 65 anos, pode ser perigoso porque ele pode lhes roubar não apenas a vivência concreta desses homens em seu tempo de infância, juventude e puberdade, como também rouba a "vivência" simbólica de um passadismo pedante e falsamente nostálgico.

Não seria melhor esses adultos procurarem arejar suas mentes em vez de usarem o passado que mal conseguem entender para impressionar as pessoas? Excetuando aqueles que adoram referências do passado, quem tem mais de 45 anos deveria entender as referências joviais mais contemporâneas, procurando coisas mais descontraídas e modernas, sem forçar a barra em parecer "mais velhos".

Apreciar o passado que existia antes do berço de alguém só é saudável para quem se identifica naturalmente com ele, algo que não vem necessariamente de convívios profissionais com gente mais velha, mas com o interesse próprio da pessoa, um interesse natural que o pretensiosismo não consegue desenvolver.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

LULA ESTÁ A SERVIÇO DA ELITE DO ATRASO

A queda de popularidade de Lula está sendo apontada por supostas pesquisas de opinião, o que, na verdade, soam como um reflexo suavizado do que já ocorre desde que Lula decidiu trocar o combate à fome e o desemprego pelas viagens supérfluas ao exterior. Mas os lulistas, assustados com essa realidade, sem saber que ela é pior do que se imagina, tentam criar teorias para amenizar o estrago. Num dia, falam que é a pressão da grande mídia, noutro, a pressão dos evangélicos, agora, as falas polêmicas de Lula. O que virá depois? Que o Lula perdeu popularidade por não ser escalado para o Dancing With the Stars dos EUA para testar o "novo quadril"? A verdade é que Lula perdeu popularidade porque sei governo é fraco. Fraquíssimo. Pouco importam as teorizações que tentam definir como "acertadas" as viagens ao exterior, com a corajosa imprensa alternativa falando em "n" acordos comerciais, em bilhões de dólares atraídos para investimentos no Brasil, isso não convence

RETORNEI DE FÉRIAS

Foram dezoito dias no Grande Rio. Duque de Caxias, sobretudo Xerém, mais Rio de Janeiro, principalmente Tijuca, com passeios pelo Centro, Méier, Del Castilho e Barra da Tijuca. Uma breve passagem em Niterói, focalizando Icaraí e Jardim Icaraí, mas passando pela Rodoviária na Avenida Feliciano Sodré e no Plaza Shopping, no Centro. Dias de férias, entre 19 de dezembro e 06 de janeiro. Ao voltar para São Paulo, é tempo de arrumar a casa e planejar a vida. E o Linhaça Atômica está de volta, depois de alguns dias com reprise de antigas postagens. 2022 foi embora, bastante difícil e um tanto doloroso, e 2023 começa, prometendo ser também um outro ano difícil. Mas vamos seguir em frente, e esperamos que melhorias ocorram. O blogue está de volta.  

LULA NÃO QUER ROMPER COM A VELHA ORDEM

Vamos combinar uma coisa. As redes sociais são dominadas por uma elite bem de vida e de bem com a vida, uma classe brasileira que se acha "a mais legal do planeta", e "a mais equilibrada", sem os fundamentalismos afro-asiáticos nem os pessimismos distópicos do Existencialismo europeu. Essa classe quer parecer tudo de bom e soar, para outras pessoas, diferente dos padrões convencionais da humanidade. Daí a luta de muitos em serem aquilo que não são, parecerem o oposto de si mesmos para lacrar na Internet e obter popularidade e prestígio. Daí ser compreensível que a falsidade é um fenômeno tipicamente brasileiro. O "tomar no cool " que combina pretensiosismos e falsos preciosismos, grandiloquência e espiral do silêncio, a obsessão em parecer diferente sem abandonar as convenções sociais, a luta em parecer novo sem deixar de ser velho, de estar na vanguarda mesmo sendo antiquado, na esperança de que o futuro repita o passado enquanto se vê um museu de grandes

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

PERDEMOS JEFF BECK

Uma meningite tirou a vida do superguitarrista inglês Jeff Beck, um dos grandes músicos do rock britânico da década de 1960. Ele tinha 79 anos incompletos e estava em atividade, tanto que um de seus últimos trabalhos foi o disco de covers 18 , lançado no ano passado, quando o britânico fazia parcerias com o ator Johnny Depp em suas atividades musicais. Também em 2022 Jeff Beck fez uma participação no disco de Ozzy Osbourne, Patient Number 9 . Em 2016, Jeff lançou seu último disco de estúdio, Loud Hailer . Jeff Beck foi famoso por ter integrado a icônica banda Yardbirds, uma daquelas bandas seminais de rock que são criminosamente menosprezadas no Brasil, cujo mercado roqueiro quase sempre foi contaminado pelo viralatismo e por uma mídia sem qualquer especialização no gênero, em especial as tais "Jovem Pan com guitarras", uma dessas rádios comandadas por um chefão da Faria Lima. Nem a participação dos Yardbirds no filme Blow Up, de Michelangelo Antonioni, fez a banda deapertar