Pular para o conteúdo principal

RÁDIO CIDADE FOI VÍTIMA DE SEUS PRÓPRIOS ERROS

BANDAS COMO THE CULT NÃO GRAVARAM UMA OU DUAS MÚSICAS.

Para começo de conversa, eu não sou contra rádio de rock nos 102,9 mhz.

Mas teria que ter um nome novo, uma trajetória surgida do zero e com uma equipe especializada, de gente que realmente entende de rock.

Em dias em que o fluxo de informações é intenso, montar uma "rádio rock" de fachada, que não era mais do que uma "rádio pop que só toca rock", era um atitude de altíssimo risco.

Se o YouTube disponibiliza lados B e músicas obscuras de rock, por que tínhamos que ter FMs "roqueiras" que só tocavam os sucessos?

Desculpas como "firmar o gosto das pessoas" ou "pedir sugestões de ouvintes" não faziam sentido.

Hoje anunciou-se que a Rádio Cidade irá acabar, no final deste mês, migrando apenas para a Internet, para consolo de seus poucos fãs.

Seu fim é anunciado com tristeza e lágrimas desnecessárias.

Afinal, a Rádio Cidade acabou não por causa de supostas campanhas negativas aqui e ali.

Até porque a Rádio Cidade estava tolerada demais para seu péssimo desempenho.

Não havia o marketing de guerrilha que derrubou uma Estácio FM, há 30 anos.

Os adeptos da antiga Fluminense FM até aceitaram demais a Rádio Cidade, sob desculpa de "firmar o rock no mercado", por causa de uma rádio que pelo menos tinha um departamento comercial forte.

Mas a programação da Rádio Cidade era muito, muito fraca.

A morte da Rádio Cidade se deu por dois grandes motivos.

Primeiro, o nome.

A Rádio Cidade que fez história no dial carioca nunca teve compromisso original com o rock.

Não faria sentido a rádio fazer 40 anos, em maio de 1977, renegando sua história original.

A Rádio Cidade original era Donna Summer, Earth Wind & Fire, Bee Gees, Michael Jackson.

Nunca seria AC/DC, Ramones ou Iron Maiden.

Segundo, a equipe.

Não adianta a Rádio Cidade levantar a bandeira do "rock de verdade" com uma equipe sem envolvimento natural com o rock.

Uma equipe de radialistas cujo envolvimento com o rock era medido com o cartão de ponto de seus dias de trabalho.

Era um pessoal incompetente para o gênero, e tinha até um Van Damme que era especializado em "sertanejo universitário", não em rock.

Os radialistas da Rádio Cidade eram gente que já atuava sob a franquia Jovem Pan, mais outros que vieram da Beat 98 e outros que eram sobras do excedente da FM O Dia.

Tudo radialista de esquemão.

Era um pessoal que era apenas pau mandado das gravadoras, que já vinham com o repertório pronto para ser tocado.

Mas rádio de rock não funciona tocando só sucessos.

O mercado radiofônico tem muito preconceito com quem entende de rock, achando que é um bando de motoqueiros fedorentos de pileque vestindo jaquetas de couro.

Queriam ver jaquetas de couro onde não existia, já que os conhecedores de rock são muito mais sóbrios, comportados, bem vestidos e até perfumados do que se imagina.

Mas botavam jaquetas de couro em locutores engraçadinhos, que expressavam a mentalidade Jovem Pan, falavam e agiam como Emílio Surita mesmo exibindo camisetas de Jimi Hendrix e Ramones.

Era patético.

Os radialistas que não entendem de rock não têm a menor segurança em dizer que a banda de rock tal não é conhecida por este ou aquele sucesso e que havia muito mais a tocar.

Ficavam de braços cruzados esperando que os ouvintes lhes apontassem que música deveriam tocar, além daqueles dois sucessinhos.

Eram locutores esquemão que o pessoal aceitava numa boa. Muitos fingiam até para si mesmos que a Rádio Cidade não era rádio esquemão.

Esqueciam que a grade de programação da emissora era de programas de besteirol ou de hit-parade temático (sucessos, flash back, ao vivo, anos 80, nacional etc).

Comparações com a Mix FM e a Jovem Pan eram inevitáveis.

Os locutores eram tudo da mesma turma. Desde os anos 90.

Demmy Morales, Paulo Becker, Rhoodes Dantas, Van Damme, tudo da mesma turma dos DJs de poperó.

Todos da mesma gangue de radialistas como Marcelo Arar, Victor Orelhinha, Mário Bittencourt, DJ Saddam, que derrubaram a Fluminense FM convidados por Rhoodes.

Nos tempos em que havia a Jovem Rio nos 94,9 mhz, a Rádio Cidade era a Junkie Rio.

Só que as pessoas se acostumaram a definir radialismo rock só pelo vitrolão.

Fora o vitrolão "roqueiro", a Rádio Cidade tinha o mesmo QI de rádio pop de sempre.

E só tocava os "sucessos das paradas", a programação enjoava no terceiro dia de audiência.

Cure só com "Boys Don't Cry", Deep Purple só com "Smoke On The Water", Cult só com "Revolution", Jimi Hendrix só com "Fire", Ramones com "Pet Sematary".

Ninguém aguentaria, depois de duas sintonias, com toda a boa vontade do mundo.

Mas também a Rádio Cidade não iria tocar músicas como "The End" dos Doors, "Atmosfere" do Joy Division ou "The Hanging Garden" do Cure.

Daí que a Rádio Cidade teve mesmo que ser extinta, em virtude dos erros que cometeu.

Os executivos do Sistema Rio de Janeiro de Rádio tinham uma boa chance para botar uma rádio de rock de primeira nos 102,9 mhz.

Com novo nome, pessoal especializado e uma programação musicalmente variada, com programação que tivesse também programas de raridades do rock, surf, blues, progressivo etc.

Queimou quando foi repetir justamente a experiência que fez a Rádio Cidade se queimar em 2006.

Até quando os locutores da Rádio Cidade foram mudar o estilo de dicção, falando mais calmo, devagar e mais grave, evitando gírias, já era tarde demais.

Portanto, não há como os sociopatas reagirem com fúria contra o fim de sua FM predileta.

É hora de pensarmos o radialismo rock não como uma repetição dos padrões de radialismo pop.

Chega de mais "Jovem Pan com guitarras", não se opera rádio de rock como se fosse rádio de pop.

Nós já nos resignamos com o fim da Fluminense FM e de muitas rádios de rock mil vezes melhores que a Rádio Cidade, emissoras roqueiras que deram lugar a FMs pop ou de notícias, de brega ou de variedades.

Agora resta as pessoas se conformarem também com o fim da Rádio Cidade.

Afinal, neste caso, o fim se deve a uma rádio que tocava rock, mas pensava e agia como ridiculamente pop.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...