No terreno pantanoso do show business, há estados civis que não são o que parecem ser oficialmente.
No brega-popularesco, há "musas" que falam tanto que "estão solteiras", dizendo sempre as mesmas frases sobre o "medo dos homens" e a "solteirice feliz" que a gente até desconfia.
São tantas frases prontas que fazem muitos perguntarem se elas não são, em verdade, mulheres casadas que estão escondendo o jogo.
Muitas até são casadas, mas seus maridos são indenizados pelos empresários das mulheres a viverem longe delas, geralmente em algum canto do Nordeste ou Centro-Oeste.
Esses maridos mantém o casamento, mas criam um divórcio de fachada para manterem a privacidade deles e não perturbarem a imagem "sensual" de suas esposas.
Numa época em que, nas classes populares, se precisa estimular a solteirice sem fim das mulheres, como um projeto plutocrático de reduzir as populações negras, índias e mestiças pelo controle da natalidade, essa manobra é muito usada.
As elites querem muito que as populações negras, índias e mestiças desapareçam, por isso investe na bregalização cultural em que a imagem de "solteira" de certas "musas empoderadas" precisa ser enfatizada.
Daí as músicas de solteirice convicta, alternadas com outras com brigas de casais, mais os noticiários policialescos promovendo uma imagem sórdida dos homens.
Daí o pouco caso com a baixa auto-estima de crianças órfãs de pai vivo, sofrendo ainda o estresse da mãe que tem que bancar sozinha os gastos da família numerosa em que o filho mais velho vira dublê de pai para os demais irmãos.
E isso numa classe social ainda despreparada para a novidade das famílias LGBT, sobretudo quando as favelas também são dominadas por religiões homofóbicas.
Essa é a realidade que existe nas classes populares. A que existe nas elites é outra.
Nas elites reina a "solidão a dois" dos casamentos aparentemente estáveis.
São casamentos aparentemente indissolúveis, mas cuja esposa, geralmente a que mais se expõe na mídia de celebridades, aparece quase sempre sozinha.
O marido, que tem um papel bastante decorativo e só serve como financiador da emancipação da esposa, é geralmente um sisudo e aborrecido empresário, executivo ou profissional liberal.
Ou um banqueiro, às vezes um político.
Um sujeito que parece viver para seu dinheiro ou para zelar sua imagem no mundo privado dos negócios, e que vive mais tempo com seu celular do que nos braços de sua esposa.
Mesmo quando o casal aparece junto, em eventos formais, geralmente de gala, ou com os filhos, a cumplicidade é, praticamente, nula.
A mulher parece querer viver sem o vínculo de imagem do marido.
É até engraçado. Há casais que se divorciam em que, na busca do Google, é mais fácil ver fotos em que os dois estão juntos.
Há, por outro lado, mulheres oficialmente casadas que, apenas em algumas fotos, aparecem com o marido.
Além disso, a mulher de elite, quando cita algum homem bonito, não cita o marido.
Em suas entrevistas, o marido mais parece um patrocinador da "vida de solteira" que a mulher leva.
E ele é um sujeito que procura marcar sua imagem com sisudos paletós ou smokings e um bem engraxado mas pouco confortável par de sapatos de couro ou verniz.
Geralmente ele dá poucas entrevistas, como se não tivesse satisfações a dar para a sociedade, pois tudo o que ele quer é se recolher em um gabinete ou sala e seguir com seu plano de acumular dinheiro.
Ás vezes, informações vazam que os casais vivem se desentendendo.
Nos bastidores, os filhos até estranham isso, mas têm que se acostumar.
Os filhos dessas famílias de elite, ricas ou de classe média bem alta, até se iludem ao ver os filhos de "musas" popularescas oficialmente solteiras parecerem "felizes".
Ignoram que esses filhos levam tempo só para poder ficar com os respectivos pais, e têm que se consolar em ver eles e suas "ex" mulheres raramente juntos para um entendimento amistoso.
Esses filhos de casais bregas supostamente desfeitos é que têm inveja dos filhos dos casais de elite, que acham que vivem o tempo todo com pai e mãe conjugalmente unidos.
Essas duas armações, a solteirice de "comédia de cinema" das "musas populares" e o casamento de "comercial de margarina" das mulheres famosas de elite, têm um propósito.
Estimular a geração e formação social dos filhos nas classes ricas, enquanto se desestimula a das classes pobres.
Mesmo em comunidades pobres dominadas por pregações evangélicas, empurra-se a causa LGBT sem que as populações entendam direito as condições e vantagens dessa novidade.
E, num contexto de pobreza imensa, só falta as mães solteiras carregarem cimento e tijolos na sua tentativa de colocar um pouco de renda na casa.
Enquanto as mulheres de elite ficam preocupadas com a possibilidade de se divorciarem de seus maridos com apenas três filhos a cuidar, as mulheres pobres, com bem mais filhos, têm que viver solteiras a vida toda com uma vida ainda mais sobrecarregada.
Nas periferias, filhos e filhas crescem sem a figura masculina do pai, uma figura de convívio apenas provisório, e sem o vínculo afetivo com a mãe.
Nas classes ricas, as figuras do pai e mãe convivem em desentendimento, isso quando estão juntos, porque, mesmo com ambos em casa, o clima é de solidão a dois.
Os casais simbolicamente pobres da classe média popularesca se entendem melhor mesmo quando oficialmente divorciados.
Já os casais de elite, formalmente indissolúveis, convivem num mesmo lar e dormem num mesmo leito como dois estranhos que parece ainda não se conhecerem, mesmo, em certos casos, com mais de 20 anos de casamento.
Os filhos e filhas ricos crescem sem uma formação social consistente. Os filhos e filhas pobres, também.
Mas cada um a seu modo.
Os filhos e filhas ricos crescem sem uma noção do que é o amor, a solidariedade e a afinidade pessoal, convivendo com pais que vivem se desprezando ou se desentendendo, embora permanecessem juntos até não se sabe quando.
Os filhos e filhas pobres crescem sem uma noção de proteção, energia física e bravura num contexto em que é muito complexo haver mães solteiras ou casais LGBT, em áreas marcadas pela violência ou pelo trabalho braçal masculino.
Gerações de pessoas em maioria inseguras e sem caráter acabam surgindo, digerindo valores que, tradicionais ou não, são empurrados não como condições de contextos específicos, mas como conveniências sociais a serem aceitas sem críticas.
Enquanto isso, mulheres popularescas de classe média e mulheres de elite aparecem sozinhas por motivos muito opostos.
Em nome da privacidade, as primeiras preservam seus casamentos em segredo, mas passam uma imagem de "oficialmente solteiras".
Em nome da privacidade, as segundas vivem "vidas de solteiras", mesmo passando uma imagem de "oficialmente casadas".
Esse é um dos principais pontos do terreno pantanoso do show business.
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