ANITTA, NO CLIPE DE "VAI MALANDRA" E KYM JONG-HYUN, FALECIDO ÍDOLO DO POP SUL-COREANO.
É muito complicado falar em pop comercial para os jovens de hoje.
Tidos como os "donos da verdade", os jovens não suportam que se comente até sobre um espirro de um ídolo desses.
Mesmo diante de uma crítica construtiva os jovens reagem com "linchamento moral" ao comentarista da ocasião.
Isso é um caminho muito perigoso, apesar dos instintos adolescentes da primeira idolatria e da reação a adversidades com rebeldia e até agressividade.
Muitos bolsomitos nasceram assim, nas mídias sociais.
Dito isso, é um risco analisar dois casos envolvendo ídolos juvenis nos últimos dias.
Um é o caso de Anitta, que hoje se consagra como ídolo pop de exportação, e que andou repercutindo muito com várias coisas, sendo a mais recente o clipe de "Vai, Malandra".
Outro é o caso do ídolo pop da Coreia do Sul, Kym Jong-Hyun, também popular no Brasil, que se matou aos 27 anos, no último dia 18.
Vamos falar de Kym, que rende um comentário mais ligeiro.
Ele era vocalista da "banda" Shinee, um dos ícones do K-Pop, como é chamado o pop juvenil sul-coreano.
Assim como o J-Pop, pop juvenil japonês, costuma-se, no Brasil, chamar todo grupo de "banda", ainda que sem instrumentista algum.
Tem grupos de dezenas de cantoras-dançarinas que aqui no Brasil são vistas como "bandas".
Grupos assim deveriam ser chamados de "corais", se não houvesse emburrecimento cultural no Brasil. Seria mais pretensioso, porém mais correto.
Mas fala-se em "banda" num país em que pessoa vira "cliente" até quando compra coxinha de vendedor ambulante (o certo é "freguês"), festa vira "balada" ("valeu" Luciano Huck!) e família virou "galera lá de casa".
Daqui a pouco, até grupo de ginástica fitness vira "banda".
Espera-se que o Shinee tenha sido aquele grupo cujos integrantes, embora façam performances ao vivo só cantando e dançando, sejam ao menos instrumentistas de estúdio, a exemplo da soul music estadunidense.
Mas falemos da morte de Kym, conhecido apenas como Jonghyun, que sugere problemas como a pressão intensa do mercado pop para o sucesso.
Consta-se que Kym não aguentava as pressões, pois na Coreia do Sul e no Japão o pop comercial tende a ser bastante opressivo.
As pressões da fama, da visibilidade, das agendas sobrecarregadas, talvez tenham pesado sobre o rapaz, que era um ser humano, antes de ser um ídolo do show business, e sua tragédia deve ser pensada com muito cuidado respeito ao rapaz.
Respeito dramas assim, muitíssimo tristes, e que deveriam ser vistos como um recado a executivos e empresários do entretenimento que querem sucesso a qualquer preço.
Se nos dois países orientais o mercado pop mostra seu pesadelo, no Brasil o mercado pop finalmente conquistou a hegemonia total.
Há pejotização, trabalho intermitente, terceirização etc no mercado brega-popularesco mais "independente", mas dependente do coronelismo midiático e com QI de indústria hegemônica e nada indie.
Mas, no mainstream, digamos que é um mercado economicamente correto, embora reduzisse a "cultura popular" a uma linha de montagem subordinada a regras econômicas.
E aí, no caso de Anitta - visualmente, cada vez mais parecida com a Sofia Carson, estrela juvenil estadunidense de ascendência colombiana - , uma polêmica a fortaleceu.
O guitarrista e jurado do The Voice Brasil, Lulu Santos, que havia sido ícone do Rock Brasil de 35 anos atrás, resolveu comentar sobre o que ele chamou de "atual cenário da MPB".
"Caramba! É tanta bunda, polpa, bum bum granada e tabaca que a impressão é que dá é que a MPB regrediu para fase anal. Eu hein?", escreveu Lulu no Twitter.
Os internautas interpretaram o comentário relacionando-o a Anitta.
Lulu reagiu, dizendo que não é contra Anitta, e que estava apenas criticando o excesso de letras escatológicas.
Convenhamos. Lulu está muito longe de ser um equivalente, flexível ao rock, de José Ramos Tinhorão ou Ruy Castro, conhecidos defensores da música brasileira de qualidade.
Lulu apoiou o "funk" e converteu para o ritmo uma cover da amiga Rita Lee, focalizada num disco-tributo do cantor e guitarrista.
Talvez o problema seja a forma exagerada com que se promove a Anitta.
Não curto "funk", mas reconheço que Anitta é o nome menos ruim do gênero. Se eu fosse obrigado a escolher entre Valesca e Anitta, preferia Anitta.
Ela tem seus espaços e, dentro do contexto do pop juvenil, a ascensão de Anitta é merecida.
Mas daí a chamá-la de "Tom Jobim da vez" é um exagero.
Da mesma forma que "guevarizá-la", como faz a esquerda fashion, com seus "marxistas de Honolulu", "trotskistas de Beverly Hills" e "tropicalistas da FIESP".
Anitta é um ídolo pop que mantém sua relevância dentro do contexto e do meio em que faz.
Mas seu compromisso não é fazer bolivarianismo com polêmicas e suposto ativismo.
Assim como Madonna também não virou guevariana com suas polêmicas.
Fico desconfiado se essa "guevarização" não seria "desvio de pauta" (ou seja, espécie de "cortina de fumaça" no sentido jornalístico) para evitar se discutir o julgamento de Lula ou a decadência da Operação Lava Jato.
Que a pessoa curta Anitta, vá aos shows com ela, colecione fotos, crie fãs-clubes digitais promovendo reuniões de fãs, eventuais contatos com a cantora para interação etc, tudo bem.
Que Anitta possa fazer sucesso nos EUA, ser incluída no elenco principal do próximo Rock In Rio, liderar no Spotify, no YouTube, no Twitter, não há o menor problema.
O problema está em definir Anitta pelo que não é: vanguardista, modernista, alternativa, bolivariana, guevariana etc.
Bem ou mal, o que ela faz é pop comercial, até certa forma expressivo no seu contexto e na sua função de entretenimento.
Infelizmente, o vício do brasileiro é querer ser o que não é e não querer ser o que é. O comentário acima, creio, irritaria muita gente.
Mas eu larguei uma religião "espiritualista" porque ela queria ser o que nunca foi, ignorando as lições de um educador francês que insiste em bajular.
Não sou fã de Anitta, mas a respeito como pessoa famosa que faz sucesso, mas admito que ela é apenas o primeiro grande nome do pop comercial brasileiro a ultrapassar fronteiras.
Um mérito dentro desse âmbito, mas que não permite que pessoas delirem em papos cabeça pretensamente etnográficos ou guevarianos como a esquerda fashion insiste em fazer.
Portanto, este texto mostra o quanto a juventude hipermidiatizada e hipermercantilizada precisa perceber a sua realidade, em vez de ver Revolução Cubana em copo d'água.
A juventude atual é hipermidiatizada e hipermercantilizada porque se formou "culturalmente" pelas redes sociais, reduto de muito conservadorismo, foram "educados" pela Rede Globo e seguem paradigmas culturais ditados pela mídia e mercado hegemônicos.
Não há como ser anti-mídia de verdade, fingir ser anti-Globo falando gírias como "balada", dialeto do Caldeirão do Huck.
Meses atrás, um grupo de jovens caiu no ridículo protestando contra a Rede Globo cantando um "funk", na sede da emissora. Mais pareciam "coxinhas" ideologicamente perdidos no pretensiosismo.
É preciso ver as coisas com mais realismo e menos idealização. Ver os ídolos como eles realmente são e não como os admiradores acham que deveriam ser.
"Guevarizou-se" demais o "funk". Mas ele, bem ou mal, nasceu na Flórida anti-castrista, cresceu no Brasil patrocinado pela Rede Globo e até os atores "coxinhas" que gritaram "Fora Dilma" apoiaram o gênero.
Que as pessoas gostem de "funk", tudo bem. Mas o pessoal fala tanto em combater o preconceito, deveria perder o preconceito da idealização, porque o "funk" nunca foi bolivariano e sempre foi comercial.
Querer ver as coisas não como são, mas como se sonha ser, também é preconceito.
É muito complicado falar em pop comercial para os jovens de hoje.
Tidos como os "donos da verdade", os jovens não suportam que se comente até sobre um espirro de um ídolo desses.
Mesmo diante de uma crítica construtiva os jovens reagem com "linchamento moral" ao comentarista da ocasião.
Isso é um caminho muito perigoso, apesar dos instintos adolescentes da primeira idolatria e da reação a adversidades com rebeldia e até agressividade.
Muitos bolsomitos nasceram assim, nas mídias sociais.
Dito isso, é um risco analisar dois casos envolvendo ídolos juvenis nos últimos dias.
Um é o caso de Anitta, que hoje se consagra como ídolo pop de exportação, e que andou repercutindo muito com várias coisas, sendo a mais recente o clipe de "Vai, Malandra".
Outro é o caso do ídolo pop da Coreia do Sul, Kym Jong-Hyun, também popular no Brasil, que se matou aos 27 anos, no último dia 18.
Vamos falar de Kym, que rende um comentário mais ligeiro.
Ele era vocalista da "banda" Shinee, um dos ícones do K-Pop, como é chamado o pop juvenil sul-coreano.
Assim como o J-Pop, pop juvenil japonês, costuma-se, no Brasil, chamar todo grupo de "banda", ainda que sem instrumentista algum.
Tem grupos de dezenas de cantoras-dançarinas que aqui no Brasil são vistas como "bandas".
Grupos assim deveriam ser chamados de "corais", se não houvesse emburrecimento cultural no Brasil. Seria mais pretensioso, porém mais correto.
Mas fala-se em "banda" num país em que pessoa vira "cliente" até quando compra coxinha de vendedor ambulante (o certo é "freguês"), festa vira "balada" ("valeu" Luciano Huck!) e família virou "galera lá de casa".
Daqui a pouco, até grupo de ginástica fitness vira "banda".
Espera-se que o Shinee tenha sido aquele grupo cujos integrantes, embora façam performances ao vivo só cantando e dançando, sejam ao menos instrumentistas de estúdio, a exemplo da soul music estadunidense.
Mas falemos da morte de Kym, conhecido apenas como Jonghyun, que sugere problemas como a pressão intensa do mercado pop para o sucesso.
Consta-se que Kym não aguentava as pressões, pois na Coreia do Sul e no Japão o pop comercial tende a ser bastante opressivo.
As pressões da fama, da visibilidade, das agendas sobrecarregadas, talvez tenham pesado sobre o rapaz, que era um ser humano, antes de ser um ídolo do show business, e sua tragédia deve ser pensada com muito cuidado respeito ao rapaz.
Respeito dramas assim, muitíssimo tristes, e que deveriam ser vistos como um recado a executivos e empresários do entretenimento que querem sucesso a qualquer preço.
Se nos dois países orientais o mercado pop mostra seu pesadelo, no Brasil o mercado pop finalmente conquistou a hegemonia total.
Há pejotização, trabalho intermitente, terceirização etc no mercado brega-popularesco mais "independente", mas dependente do coronelismo midiático e com QI de indústria hegemônica e nada indie.
Mas, no mainstream, digamos que é um mercado economicamente correto, embora reduzisse a "cultura popular" a uma linha de montagem subordinada a regras econômicas.
E aí, no caso de Anitta - visualmente, cada vez mais parecida com a Sofia Carson, estrela juvenil estadunidense de ascendência colombiana - , uma polêmica a fortaleceu.
O guitarrista e jurado do The Voice Brasil, Lulu Santos, que havia sido ícone do Rock Brasil de 35 anos atrás, resolveu comentar sobre o que ele chamou de "atual cenário da MPB".
"Caramba! É tanta bunda, polpa, bum bum granada e tabaca que a impressão é que dá é que a MPB regrediu para fase anal. Eu hein?", escreveu Lulu no Twitter.
Os internautas interpretaram o comentário relacionando-o a Anitta.
Lulu reagiu, dizendo que não é contra Anitta, e que estava apenas criticando o excesso de letras escatológicas.
Convenhamos. Lulu está muito longe de ser um equivalente, flexível ao rock, de José Ramos Tinhorão ou Ruy Castro, conhecidos defensores da música brasileira de qualidade.
Lulu apoiou o "funk" e converteu para o ritmo uma cover da amiga Rita Lee, focalizada num disco-tributo do cantor e guitarrista.
Talvez o problema seja a forma exagerada com que se promove a Anitta.
Não curto "funk", mas reconheço que Anitta é o nome menos ruim do gênero. Se eu fosse obrigado a escolher entre Valesca e Anitta, preferia Anitta.
Ela tem seus espaços e, dentro do contexto do pop juvenil, a ascensão de Anitta é merecida.
Mas daí a chamá-la de "Tom Jobim da vez" é um exagero.
Da mesma forma que "guevarizá-la", como faz a esquerda fashion, com seus "marxistas de Honolulu", "trotskistas de Beverly Hills" e "tropicalistas da FIESP".
Anitta é um ídolo pop que mantém sua relevância dentro do contexto e do meio em que faz.
Mas seu compromisso não é fazer bolivarianismo com polêmicas e suposto ativismo.
Assim como Madonna também não virou guevariana com suas polêmicas.
Fico desconfiado se essa "guevarização" não seria "desvio de pauta" (ou seja, espécie de "cortina de fumaça" no sentido jornalístico) para evitar se discutir o julgamento de Lula ou a decadência da Operação Lava Jato.
Que a pessoa curta Anitta, vá aos shows com ela, colecione fotos, crie fãs-clubes digitais promovendo reuniões de fãs, eventuais contatos com a cantora para interação etc, tudo bem.
Que Anitta possa fazer sucesso nos EUA, ser incluída no elenco principal do próximo Rock In Rio, liderar no Spotify, no YouTube, no Twitter, não há o menor problema.
O problema está em definir Anitta pelo que não é: vanguardista, modernista, alternativa, bolivariana, guevariana etc.
Bem ou mal, o que ela faz é pop comercial, até certa forma expressivo no seu contexto e na sua função de entretenimento.
Infelizmente, o vício do brasileiro é querer ser o que não é e não querer ser o que é. O comentário acima, creio, irritaria muita gente.
Mas eu larguei uma religião "espiritualista" porque ela queria ser o que nunca foi, ignorando as lições de um educador francês que insiste em bajular.
Não sou fã de Anitta, mas a respeito como pessoa famosa que faz sucesso, mas admito que ela é apenas o primeiro grande nome do pop comercial brasileiro a ultrapassar fronteiras.
Um mérito dentro desse âmbito, mas que não permite que pessoas delirem em papos cabeça pretensamente etnográficos ou guevarianos como a esquerda fashion insiste em fazer.
Portanto, este texto mostra o quanto a juventude hipermidiatizada e hipermercantilizada precisa perceber a sua realidade, em vez de ver Revolução Cubana em copo d'água.
A juventude atual é hipermidiatizada e hipermercantilizada porque se formou "culturalmente" pelas redes sociais, reduto de muito conservadorismo, foram "educados" pela Rede Globo e seguem paradigmas culturais ditados pela mídia e mercado hegemônicos.
Não há como ser anti-mídia de verdade, fingir ser anti-Globo falando gírias como "balada", dialeto do Caldeirão do Huck.
Meses atrás, um grupo de jovens caiu no ridículo protestando contra a Rede Globo cantando um "funk", na sede da emissora. Mais pareciam "coxinhas" ideologicamente perdidos no pretensiosismo.
É preciso ver as coisas com mais realismo e menos idealização. Ver os ídolos como eles realmente são e não como os admiradores acham que deveriam ser.
"Guevarizou-se" demais o "funk". Mas ele, bem ou mal, nasceu na Flórida anti-castrista, cresceu no Brasil patrocinado pela Rede Globo e até os atores "coxinhas" que gritaram "Fora Dilma" apoiaram o gênero.
Que as pessoas gostem de "funk", tudo bem. Mas o pessoal fala tanto em combater o preconceito, deveria perder o preconceito da idealização, porque o "funk" nunca foi bolivariano e sempre foi comercial.
Querer ver as coisas não como são, mas como se sonha ser, também é preconceito.
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