Uma situação dramática praticamente não aparece nos telejornais da TV aberta, ocupada em criar fantasias sobre as ditas reformas do governo Michel Temer.
Trata-se da greve de fome de, pelo menos, seis agricultores ligados ao MPA, Movimento dos Pequenos Agricultores, que ocorre desde o dia 05 último em Brasília, no Congresso Nacional.
A greve de fome é motivada pelo projeto da reforma da Previdência, em tramitação no Legislativo federal.
Os trabalhadores rurais sabem muito bem que essa reforma irá anular a aposentadoria.
Até porque essas classes tendem a morrer em plena idade de contribuição.
Daí a greve de fome que conta com adesão de agricultores de vários Estados, da Bahia a Santa Catarina.
Mas o absurdo não está só na reforma da Previdência, mas na já aplicada reforma trabalhista.
Um exemplo é o que ocorreu com uma ex-funcionária do Itaú em Volta Redonda.
Ela processou o banco por descumprimento de obrigações trabalhistas e perdeu a ação judicial.
Como na nova lei, o empregado que perder uma ação judicial terá que pagar R$ 67,5 mil ao banco.
Arrumar R$ 67,5 mil aí é um problema, num "novo" padrão de mercado de trabalho que, incluindo a terceirização e o trabalho intermitente, reduziram o valor salarial.
A funcionária pode recorrer da sentença, porque a ação movida por ela corresponde ao tempo anterior da entrada em vigor da reforma trabalhista.
Ações trabalhistas diminuíram com a reforma por causa desse problema: o trabalhador paga a conta em processos judiciais, se perder a causa, sendo condenado a arrumar dinheiro não se sabe onde.
Então ninguém quer ter mais contas a pagar. Já basta o salário minguado que mal consegue pagar as contas habituais existentes.
A reforma trabalhista já causou sérios problemas em países como a Espanha.
Empregados só podem cumprir obrigações e têm que ganhar abaixo do necessário para viver.
No Brasil, quem é "pejotizado" sabe o drama de ser um empregado vinculado a uma empresa "fantasma", que é o registro de pessoa jurídica.
O fim do horário fixo de emprego com o trabalho intermitente é uma armadilha.
Com R$ 4,45 pagos por hora trabalhada, em oito horas e 22 dias o valor será menor que o salário mínimo de R$ 937: algo em torno de R$ 783.
São tantos absurdos que se agravam quando o empregado se encontra numa situação kafkiana.
Se ele processa o patrão por abusos e este arruma qualquer desculpa que a Justiça desigual de hoje acata, é o empregado que tem que arcar com os custos da causa perdida.
Isso é um grande pesadelo por trás do conto de fadas que os telejornais da TV, como Globo, Band, SBT, e os veículos impressos, radiofônicos e digitais da mídia hegemônica contam para a opinião pública.
Na mídia patronal, evidentemente tudo é às mil maravilhas: as mudanças que degradam o emprego são difundidas como "positivas", inventa-se que os patrões passaram a gostar de contratar etc.
Por baixo dos panos, há a perda de direitos, a queda de salários, o fim das garantias.
As mulheres "podem" trabalhar, grávidas, em condições insalubres, mas a maternidade pode se tornar motivo para demissão.
A greve de fome dos agricultores é um grito que a mídia patronal quer abafar.
É preciso que a reforma trabalhista seja revogada e a previdenciária, vetada, para que a dignidade voltasse ao mercado de trabalho.
Caso contrário, vai estourar mais convulsão social. E quem não tiver dinheiro para arcar com os custos diversos vai assaltar.
A reforma trabalhista está deixando o Brasil mais perigoso e ninguém sabe.
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