Pular para o conteúdo principal

PODE-SE TER UM GOSTO MUSICAL DE GENTE DEZ ANOS MAIS VELHA?

É BOM AVISAR QUE JOY DIVISION NÃO FEZ SÓ "LOVE WILL TEAR US APART".

Quem nasceu nos anos 1980 pode ouvir músicas que gente adulta ouvia na época?

Quem nasceu nos anos 1950 pode ouvir músicas dos anos 1940?

A sociedade é complicada e há muito mais pedantismo do que especialização cultural.

Nas minhas pesquisas na mídia, vejo senhores e senhoras nascidos nos anos 1950 falando de tempos que eram mais para gente nascida uma, duas ou três décadas antes.

Talvez mais os homens, porque as mulheres conseguem olhar mais para a frente, para o futuro.

Salvo exceções, soa ridículo que pessoas nascidas em 1952, 1953 ou 1954 falem com falsa intimidade sobre a década de 1940.

Geralmente são empresários ou profissionais liberais, complexados por se casarem com moças mais novas, que desde que completaram 50 anos acham que têm 20 anos a mais.

Nasceram junto com a geração britânica do punk rock e do pós-punk e, no entanto, se acham entendedores do cenário musical dos anos 1930.

Ou a literatura, então. O fulano granfino nasceu em 1954 e acha que umas horas falando com colegas mais velhos em festinhas de gala vai lhes trazer uma compreensão aprofundada dos anos 1930 e 1940.

Não, não vai. Entender o passado é algo que vem da juventude, não de uma meia-dúzia de bate-papos granfinos.

Eu, por exemplo, nasci em 1971 e entendo a década de 1960 porque me interessei por ela desde os dois anos de idade.

Bem pequeno, me lembro bem que eu, em casa, nos dias de chuva, via a cortina de casa fechada e me lembrava, não se sabe como, que programas de TV mais antigos tinham como cenário justamente uma cortina fechada.

Depois eu pude confirmar que programas dos anos 1950 e 1960 tinham esse cenário.

Entender o passado não é coisa de alguém dizer "isso é legal e vou gostar".

No caso dos sessentões de hoje, não é aquele pedantismo que os faz não passarem de "adolescentes de terceira idade", algo que em inglês poderia ser chamado de grey-haired teens.

E o que sobra de pedantismo nos born in the 50s que acham que podem tirar de letra a narrativa da fundação do Copacabana Palace ou a vida de Glenn Miller, falta em informação na geração de seus filhos.

Se os "pais" nascidos nos anos 1950 querem entender os anos 1940 como se tivessem sido testemunhas oculares dessa época, os "filhos" nascidos nos anos 1980 não perceberam o mundo que estava em volta deles.

Os homens de 65 anos querem ter a bagagem de 80 anos. Mas seus filhos e filhas de 35 anos parecem que não saem dos 25 anos.

A geração 1950 esconde que só conhece o Frank Sinatra de 1980, quando ele se apresentou no Brasil, mas teima em se achar perita no cantor, embora a fase dos anos 1940 lhes continuasse estranha.

Só ficam citando músicas óbvias: "Strangers in the Night", "New York New York", "My Way", "Let Me Try Again".

Neste caso, seus filhos não são muito diferentes, quanto o negócio é se apegar aos hits.

Eles têm muito medo de apreciar os anos 80 que não fossem as referências infantis que se observa nos Ploc 80 da vida: Xuxa, Bozo, Dr. Silvana & Cia., Balão Mágico, Caverna do Dragão, He-Man.

Aqui há diferença para seus pais, cujos heróis reais foram Carequinha, Arrelia, Roy Rogers, Rin Tim Tim, Pica-Pau e Tom & Jerry, mas eles não assumem isso e teimam em dizer que seus heróis do tempo de infância foram Millôr Fernandes, Tom Jobim, Sérgio Porto e Norman Mailer.

Mas a geração nascida nos anos 1980 teria mais facilidade de conhecer referenciais culturais da gente adulta de seu tempo. Conheceram um fluxo informacional muito melhor que seus pais, estes ainda no tempo do rádio transistor e da TV do vizinho.

É mais fácil um nascido no período 1980-1985 conhecer o som pós-punk de 1977-1980 do que um nascido no período 1950-1955 conhecer o bebop dos anos 1940 e começo dos 1950.

Por exemplo, quem nasceu em 1981-1982 poderia ouvir não apenas U2 ou Cure, mas se aprofundar no cenário alternativo do rock britânico.

Ouvir faixas menos dançantes de New Order, ver que o grupo não fez só "Bizarre Love Triangle" e "Blue Monday".

Ou a sua "encarnação" anterior, o Joy Division (quando era vivo o músico Ian Curtis), que sabemos não fez só "Love Will Tear Us Apart", que nem é o cartão de visitas do grupo e, gravada nos anos 1980, foi um hit póstumo.

Mas também encarar nomes nada massificados como Woodentops, XTC, Weather Prophets, e garimpar muito mais coisas.

Ou, no caso de bandas conhecidas como Police, reconhecer que a banda não é só Sting, e que Stewart Copeland e Andy Summers possuem boas composições gravadas pela banda, e notáveis carreiras solo.

As pessoas que hoje tem 35, 36 anos têm mais condições de terem a bagagem cultural de pessoas dez anos mais velhas que a geração de seus pais, à qual poucos especializados têm essa capacidade.

Para os nascidos nos anos 1980, é uma questão de ter menos Facebook, menos Rede Globo, menos rádio FM, jogar no lixo a mofada trilogia Jovem Pan-Transamérica-89 FM, que, decadentes, nada dizem mais para o radialismo contemporâneo.

Esperamos ver a turma dos 35, 36 anos ouvindo nos carros as músicas do XTC e o rock da Baratos Afins, jogar em alto volume as músicas menos badaladas dos anos 80.

Vamos ver nossas gatinhas de 35, 36, 37 anos trocando as infantilices dos anos 80 e as breguices dos anos 90 pelo som do Fellini, do Monochrome Set, do Teardrop Explodes, das faixas menos badaladas dos Smiths.

Sair da zona de conforto do hit-parade faz bem para a mente.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...