Tudo está no seu lugar, sim, mas graças aos interesses dos que pretendem banir Lula na corrida presidencial de 2018.
Enquanto se acelera o processo de julgamento que irá desenhar o quadro eleitoral do próximo ano, a CPMI se afrouxa e tenta abafar as denúncias contra integrantes da Operação Lava Jato.
Pressionado pelo governo Temer, o relator da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre supostos esquemas de corrupção da empresa JBS, Carlos Marun, excluiu o depoimento do advogado Rodrigo Tacla Duran do relatório final.
O acordão que poupou a Lava Jato também excluiu o indiciamento do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot e seu ex-chefe de gabinete na PGR, o procurador Eduardo Pellela, limitados a serem citados em um pedido de investigação.
O deputado Wadih Damous, advogado e ex-presidente da OAB-RJ e um dos membros da CPMI, escreveu um relatório parcial pedindo as investigações de Zucolotto e dos procuradores Carlos Fernando dos Santos Lima, Roberto Pozzobom e Júlio Noronha.
O relatório final só incluirá indiciamentos imediatos do ex-procurador Marcelo Miller, acusado e depois delator do caso JBS, e os empresários do grupo, Ricardo Saud e os irmãos Wesley e Joesley Batista.
O relatório de Tacla Duran trazia denúncias sobre os bastidores da Operação Lava Jato e citava o advogado Carlos Zucolotto Jr., amigo do casal Sérgio Moro e Rosângela Moro, esta sócia e beneficiária de honorários do também compadre de casamento.
Zucolotto tentava faturar por fora num acordo de delação premiada de Tacla Duran para o abatimento de um pagamento que este teria que fazer para delatar.
Sobre essa negociação espúria, Duran afirmou que Zucolotto citou um tal "D. D." como intermediário, trazendo indícios de que seria Deltan Dallagnol, procurador de Curitiba.
As denúncias de Duran são de uma gravidade impressionante.
Mas Carlos Marun, deputado que dançou quando o presidente Michel Temer foi salvo da segunda denúncia por corrupção, cantando "Tudo Está no Seu Lugar", de Benito di Paula, preferiu ignorar isso e excluiu o depoimento do relatório final.
O relatório foi anunciado um dia depois de um dos procuradores da Lava Jato, Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos citados na CPMI, ter feito comentários irônicos contra Damous e Marun.
Disse Carlos Fernando, com a arrogância típica de seu temperamento:
"Carlos Marun e Wadih Damous são a melancólica face de um sistema político decadente. Ser mencionado no patético relatório da CPMI só pode ser considerado como um elogio, pois quem desperta a raiva dos vilões está no caminho certo".
Nas mídias sociais, Deltan Dallagnol também chamou o relatório de "deplorável".
O relatório também foi anunciado depois que uma revelação sobre Sérgio Moro e Marcelo Bretas, os midiáticos juízes da Lava Jato (o segundo, da divisão carioca da operação), estiveram, há uma semana, no 4º Evento Anual Petrobras em Compliance.
A participação dos dois é estranha, porque a Petrobras é um dos alvos, em pelo menos três ações, da Operação Lava Jato, o que quebra a alegada isenção de Sérgio Moro.
Além disso, segundo a defesa do ex-presidente Lula, Moro não podia dar conselhos jurídicos à Petrobras, o que o desqualifica para julgar o processo contra o ex-presidente Lula referente ao esquema atribuído à petrolífera brasileira.
O advogado que defende Lula, Cristiano Zanin Martins, vê o episódio como um dos agravantes para a suspeição do juiz Sérgio Moro.
O juiz paranaense também admitiu ter recebido diária de hotel da Petrobras, embora tenha negado que tenha recebido alguma recompensa pela ocasião do debate na sede da instituição, no Rio de Janeiro.
Moro tentou alegar que sua presença na palestra se justificava pelo fato da mesma não se voltar exclusivamente ao caso de Lula.
O midiático juiz também nega ter feito "aconselhamento jurídico", mas o debate deixou clara essa intenção.
Mas como a Petrobras é presidida por gente amiga, o tucano Pedro Parente, tudo bem para Sérgio Moro.
Um grupo de petroleiros fez protesto, naquele dia 08 de dezembro, contra a presença de Sérgio Moro no evento da Petrobras.
Este depoimento será para a Operação Zelotes, um dos derivados da Lava Jato, que acusa os dois de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Como se vê, esse xadrez político deixa o caminho livre para Moro e companhia barrarem o caminho do ex-presidente Lula para a volta à Presidência da República, através da campanha de 2018.
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