Gilmar Mendes é uma figura controversa.
Desde que, em 2009, ele comparou os jornalistas a cozinheiros ao defender o fim da exigência de diploma, o jurista nomeado por Fernando Henrique Cardoso tornou-se um popstar do Judiciário.
Amigo dos políticos do PSDB, amigaço do presidente Michel Temer, anjo-guardião de Aécio Neves.
Gilmar Mendes era protegido da grande mídia, até que começou a entrar em eventuais conflitos com a Operação Lava Jato.
Esse conflito se tornou mais intenso quando ele começou a soltar acusados de envolvimento em corrupção no sistema de ônibus do Rio de Janeiro.
O sistema "podrenizado", trocadilho com a pintura padronizada que deu um visual "lata velha" nos ônibus de pintura igualzinha, dos ônibus cariocas, revelou seus desastres: busólogos reacionários e de extrema-direita e empresários e políticos corruptos.
A prisão de alguns desses empresários e políticos pela Lava Jato foi festejada, mas era um objetivo correto feito de maneira errada.
Marcelo Bretas, o juiz que decidiu por tais prisões, virou herói até da esquerda fashion, que deixou a máscara cair lá mesmo.
Isso porque a esquerda fashion já aparecia na mídia de esquerda fazendo proselitismo ideológico, empurrando as breguices patrocinadas pela Globo, SBT e Jovem Pan como se fosse "bolivarianismo pós-tropicalista".
Gilmar soltou os que Bretas prendeu, e não há como ver maniqueísmo.
Assim como não dá para ver maniqueísmo a reação da mídia patronal a Gilmar Mendes.
Tudo isso não é um duelo entre heróis e vilões, mas um grande jogo de interesses.
É certo que as atitudes de Gilmar soltar, por exemplo, Jacob Barata Filho e a ex-primeira-dama fluminense, Adriana Ancelmo, o fazem ter o apelido de "laxante".
Mas a mídia está no lado da Lava Jato.
Que, no entanto, parece estar no inferno astral, depois do depoimento de Rodrigo Tacla Duran.
Além do mais, o "fantasma" do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, Luiz Carlos Chancellier de Olivo, parece rondar a República de Curitiba, metaforicamente falando.
Isso quer dizer que o suicídio do reitor mostrou a atrocidade da condução coercitiva, a novidade da carreira de Gilmar Mendes.
Mendes mandou proibir em todo o país o uso da condução coercitiva para suspeitos serem levados a dar depoimentos na Polícia Federal.
Sabe-se que, no caso da UFSC, a condução rendeu um trauma e uma humilhação muito forte no reitor, que esperou um shopping center de Florianópolis abrir para ele se jogar para a morte.
A tragédia acabou revelando o abuso de um dos instrumentos da Lava Jato para colher depoimentos. Uma grande truculência jurídico-policial.
Movimentos sociais passaram a se manifestar contra a condução coercitiva.
Mas o caso Lula foi também um trágico precedente. O falecimento da primeira-dama, Marisa Letícia Lula da Silva, começou com a traumática invasão da polícia na casa do ex-presidente.
A festa da Lava Jato parece terminar com a soltura, sob a condição da prisão domiciliar e uso de tornozeleira, de um dos principais suspeitos e delatores do esquema de corrupção, Marcelo Odebrecht, herdeiro da famosa empreiteira baiana que leva seu sobrenome.
Mas o fim de festa, segundo os "moretes" (não confundir com o sobrenome da deliciosa atriz estadunidense Chloe Moretz, que admiro) e dallagnoletes, deve vir no dia 24 de janeiro próximo.
Será o primeiro grande acontecimento no Brasil em 2018, o julgamento de Lula pelos valentões de toga do Tribunal Regional Federal da 4ª Região - TRF-4, em Porto Alegre.
Um julgamento baseado em condenação tendenciosa de Sérgio Moro, feita em primeira instância.
Se os desembargadores, um deles amigaço de Moro, acatarem a condenação, Lula será condenado em segunda instância e pode não concorrer para a Presidência da República em 2018.
O evento poderá decidir se o golpe político-jurídico segue ou não.
Não se sabe o que vai acontecer. Mas ao que tudo indica, Bono Vox, do U2, que lança novo disco, estará presente em Porto Alegre para ver o julgamento.
Os movimentos sociais também marcarão presença. Os portais progressistas da Internet já estão convidando e pedindo para que o maior número de populares apareça na capital gaúcha.
Prefiro acreditar que o desfecho possa ser sombrio. Será preciso uma mobilização acima do esperado para pressionar a plutocracia a recuar do cenário montado em 2016 e desmontá-lo peça por peça.
Caso contrário, 2016 continuará no seu curso medonho em 2018.
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