JOEL MALUCELLI (E), UM AMIGO, SÉRGIO MORO E RAIMUNDO FAGNER EM PLENA CONFRATERNIZAÇÃO, EM CURITIBA.
Ontem repercutiu a notícia de que a nova etapa da Operação Lava Jato pegou o ex-ministro Antônio Delfim Netto.
Antigo ministro da ditadura militar, artífice do "milagre brasileiro" durante o governo do general Artur da Costa e Silva (1967-1969), e presente na reunião do AI-5, há cerca de 50 anos, Delfim Netto, apesar de conservador, não incomodava muito.
Era colunista da Carta Capital, e, embora destoasse da linha editorial de um periódico de esquerda, Delfim não era como Pedro Alexandre Sanches, que sempre tentou fazer esquerdismo com abordagens trazidas da Folha de São Paulo.
Diz uma piada que Sanches é o "embaixador da Folha de São Paulo" na Carta Capital.
Ou "embaixador da Rede Globo", se percebermos que o que Sanches lança de "popular demais" vai aparecer duas semanas depois na Globo. Ou então vira capa de Veja, como MC Guimê, ou matéria no Estadão, como Liniker.
Delfim Netto não queria guevarizar suas ideias liberais. Escrevia seus pontos de vista porque era um espaço reservado a ele. Um contraponto ao avesso, como o esquerdista Luiz Fernando Veríssimo nas páginas de O Globo e Estadão.
Delfim passou a apoiar o governo Michel Temer, após o impeachment, embora tivesse tratado os governos Lula e Dilma com relativa respeitabilidade, até começar a discordar da presidenta, pouco depois.
DELFIM NETTO EM ENTREVISTA À TV TUPI, EM 1968, QUANDO MINISTRO DA FAZENDA DA DITADURA MILITAR, E RECENTEMENTE, AO LADO DE MICHEL TEMER, COM ROMERO JUCÁ AO FUNDO.
A operação que indiciou Delfim Netto, a 49ª etapa da Operação Lava Jato, se chama Buona Fortuna, como toda operação que adota nome engraçadinho para causar efeito.
Delfim é um dos principais alvos da operação, que investiga esquema de propinas envolvendo as obras da hidrelétrica de Belo Monte.
A hidrelétrica é polêmica até mesmo dentro das esquerdas porque foi um projeto originário da ditadura militar, encampado pelos governos do PT e que traria impacto sócio-ambiental, afetando ecossistemas e áreas indígenas.
Segundo a Polícia Federal, Delfim teria sido beneficiado com "vantagens ilícitas", recebendo, em troca de uma "consultoria", 10% do percentual obtido por empreiteiras.
As empreiteiras teriam repassado, segundo o Ministério Público Federal, duas parcelas de 45% , respectivamente para o PMDB e o PT, e 10% para o ex-ministro da Fazenda.
Era um montante estimado em R$ 15 milhões, dos quais cerca de 27% (R$ 4 milhões) foram rastreados, um esquema que se efetuou em 2014.
Entre as empreiteiras envolvidas, além das conhecidas Camargo Correia, Andrade Gutierrez, Odebrecht e OAS, consta-se a paranaense J. Malucelli.
Esta última pertence ao empresário e dirigente esportivo Joel Malucelli.
Joel é sócio da rádio CBN Curitiba, que adquiriu em 2004.
A aquisição se deu nove anos depois que outro empresário e dirigente esportivo, Mário Celso Petraglia (ligado a Jaime Lerner, hoje um dos apoiadores do governo Michel Temer), ceifou a rádio de rock Estação Primeira FM, histórica emissora do segmento que marcou os anos 1980.
Era uma estranha e sucessiva extinção de rádios roqueiras seminais, como a Fluminense FM, de Niterói, e a 97 Rock, de Santo André, que de repente foram extintas quase ao mesmo tempo, entre 1994 e 1995.
A extinção foi uma armação para fortalecer o lobby da 89 FM de São Paulo, de propriedade de José Camargo, ex-deputado ligado a Paulo Maluf e a José Maria Marin (ex-dirigente da CBF).
No Rio de Janeiro, a Fluminense FM foi ceifada para dar lugar à Jovem Pan FM e um xadrez radiofônico foi feito.
Rádios de pop dançante como Cidade, Transamérica e RPC FM tiveram que largar o segmento para deixar o caminho sem concorrentes da rádio de Tutinha, que faturava em cima do cadáver da antiga Maldita.
A RPC FM foi extinta. Virou a popularesca FM O Dia. A Transamérica teve experiência como dublê de rádio de rock, espalhando o boato de que o ex-97 FM Leopoldo Rey coordenaria a programação (mentira: ele apenas virou consultor da emissora).
A Transamérica recuou. Mas a Rádio Cidade, que também virou dublê de rádio de rock ao mesmo tempo que a Transamérica, permaneceu, pelo duplo papel de alimentar o lobby do empresário Roberto Medina e fazer permuta com a 89 FM.
O envolvimento publicitário da Rádio Cidade com os eventos internacionais era tal que jocosamente muitos perguntavam se ela era "rádio rock" ou era "rádio Rock In Rio".
Nesse xadrez radiofônico, uma coisa curiosa acontecia: no patrocínio de filmes de Hollywood exibidos nos cinemas do eixo Rio-São Paulo, havia a estranha dobradinha Jovem Pan (RJ) / 89 FM (SP) na promoção da maioria dos filmes.
Em Curitiba, as rádios de rock não foram ceifadas por FMs pop, mas por rádios noticiosas.
A Estação Primeira (90,3 mhz) foi derrubada pela franquia da CBN Curitiba, a princípio de propriedade de Mario Petraglia, "cartola" do Atlético Paranaense e depois adquirida por Joel Malucelli.
Com o fim da Estação Primeira, veio depois, em 1997, a 96 Rock (96,3 mhz), menos criativa que a antecessora, que em 2005 foi adquirida pela Band News FM.
A 96 Rock, propriedade da família Malucelli, transmitia futebol para fazer média ao lobby dos clubes Coritiba e Atlético Paranaense. Um claro desrespeito aos roqueiros, que ficavam sem ouvir rock durante as transmissões que só interessavam aos "cartolas".
A rádio saiu do ar em 2005, quando a antiga 96 migrou para o prefixo 91,3 mhz, deixado vago pela Transamérica, e virou 91 Rock até 2011, quando a emissora passou a continuar só na Internet.
Joel Malucelli é o principal membro de um dos clãs conservadores de Curitiba, uma cidade que há muito deixou de representar o mito de modernidade e desenvolvimento humano.
A capital paranaense é uma das quatro capitais com maior incidência de feminicídios, é reduto de extremo conservadorismo político e quartel-general do golpismo político que tirou Dilma Rousseff em 2016.
É certo que os cariocas é que decidiram pelo golpe político, elegendo Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro que contribuíram para ceifar o segundo mandato da presidenta.
Mas o estímulo da operação do juiz Sérgio Moro, ligado aos interesses do Departamento de Estado dos EUA, deu destaque a Curitiba na retomada ultraconservadora, a ponto da capital paranaense ser apelidada de "República de Curitiba".
Segundo o Diário do Centro do Mundo, Mário Celso Petraglia, conhecido pelos roqueiros paranaenses como o carrasco da Estação Primeira, havia citado as relações de Moro com Malucelli, em postagem publicada em 2014 e depois deletada.
De acordo com Petraglia, Malucelli seria informante de Sérgio Moro em algumas investigações da Lava Jato.
Malucelli também é dono do Banco Paraná, tem um patrimônio avaliado em R$ 2 bilhões e é dono de 40 empresas, sendo um dos homens mais ricos do Estado.
Malucelli também é suplente do senador Álvaro Dias e presidente estadual do Podemos, antigo PTN, partido hoje alinhado com a retomada conservadora, mas desvinculado da base aliada do governo Michel Temer.
Um histórico do empresário Malucelli é detalhado por Joaquim de Carvalho, do DCM.
E imaginar que uma rivalidade empresarial acabou empastelando rádios de rock, se enriquecendo com futebol e colaborando com o cenário político conservador de Curitiba.
Uma intriga política com gosto de jabaculê e ritmo de Lava Jato.
Ontem repercutiu a notícia de que a nova etapa da Operação Lava Jato pegou o ex-ministro Antônio Delfim Netto.
Antigo ministro da ditadura militar, artífice do "milagre brasileiro" durante o governo do general Artur da Costa e Silva (1967-1969), e presente na reunião do AI-5, há cerca de 50 anos, Delfim Netto, apesar de conservador, não incomodava muito.
Era colunista da Carta Capital, e, embora destoasse da linha editorial de um periódico de esquerda, Delfim não era como Pedro Alexandre Sanches, que sempre tentou fazer esquerdismo com abordagens trazidas da Folha de São Paulo.
Diz uma piada que Sanches é o "embaixador da Folha de São Paulo" na Carta Capital.
Ou "embaixador da Rede Globo", se percebermos que o que Sanches lança de "popular demais" vai aparecer duas semanas depois na Globo. Ou então vira capa de Veja, como MC Guimê, ou matéria no Estadão, como Liniker.
Delfim Netto não queria guevarizar suas ideias liberais. Escrevia seus pontos de vista porque era um espaço reservado a ele. Um contraponto ao avesso, como o esquerdista Luiz Fernando Veríssimo nas páginas de O Globo e Estadão.
Delfim passou a apoiar o governo Michel Temer, após o impeachment, embora tivesse tratado os governos Lula e Dilma com relativa respeitabilidade, até começar a discordar da presidenta, pouco depois.
DELFIM NETTO EM ENTREVISTA À TV TUPI, EM 1968, QUANDO MINISTRO DA FAZENDA DA DITADURA MILITAR, E RECENTEMENTE, AO LADO DE MICHEL TEMER, COM ROMERO JUCÁ AO FUNDO.
A operação que indiciou Delfim Netto, a 49ª etapa da Operação Lava Jato, se chama Buona Fortuna, como toda operação que adota nome engraçadinho para causar efeito.
Delfim é um dos principais alvos da operação, que investiga esquema de propinas envolvendo as obras da hidrelétrica de Belo Monte.
A hidrelétrica é polêmica até mesmo dentro das esquerdas porque foi um projeto originário da ditadura militar, encampado pelos governos do PT e que traria impacto sócio-ambiental, afetando ecossistemas e áreas indígenas.
Segundo a Polícia Federal, Delfim teria sido beneficiado com "vantagens ilícitas", recebendo, em troca de uma "consultoria", 10% do percentual obtido por empreiteiras.
As empreiteiras teriam repassado, segundo o Ministério Público Federal, duas parcelas de 45% , respectivamente para o PMDB e o PT, e 10% para o ex-ministro da Fazenda.
Era um montante estimado em R$ 15 milhões, dos quais cerca de 27% (R$ 4 milhões) foram rastreados, um esquema que se efetuou em 2014.
Entre as empreiteiras envolvidas, além das conhecidas Camargo Correia, Andrade Gutierrez, Odebrecht e OAS, consta-se a paranaense J. Malucelli.
Esta última pertence ao empresário e dirigente esportivo Joel Malucelli.
Joel é sócio da rádio CBN Curitiba, que adquiriu em 2004.
A aquisição se deu nove anos depois que outro empresário e dirigente esportivo, Mário Celso Petraglia (ligado a Jaime Lerner, hoje um dos apoiadores do governo Michel Temer), ceifou a rádio de rock Estação Primeira FM, histórica emissora do segmento que marcou os anos 1980.
Era uma estranha e sucessiva extinção de rádios roqueiras seminais, como a Fluminense FM, de Niterói, e a 97 Rock, de Santo André, que de repente foram extintas quase ao mesmo tempo, entre 1994 e 1995.
A extinção foi uma armação para fortalecer o lobby da 89 FM de São Paulo, de propriedade de José Camargo, ex-deputado ligado a Paulo Maluf e a José Maria Marin (ex-dirigente da CBF).
No Rio de Janeiro, a Fluminense FM foi ceifada para dar lugar à Jovem Pan FM e um xadrez radiofônico foi feito.
Rádios de pop dançante como Cidade, Transamérica e RPC FM tiveram que largar o segmento para deixar o caminho sem concorrentes da rádio de Tutinha, que faturava em cima do cadáver da antiga Maldita.
A RPC FM foi extinta. Virou a popularesca FM O Dia. A Transamérica teve experiência como dublê de rádio de rock, espalhando o boato de que o ex-97 FM Leopoldo Rey coordenaria a programação (mentira: ele apenas virou consultor da emissora).
A Transamérica recuou. Mas a Rádio Cidade, que também virou dublê de rádio de rock ao mesmo tempo que a Transamérica, permaneceu, pelo duplo papel de alimentar o lobby do empresário Roberto Medina e fazer permuta com a 89 FM.
O envolvimento publicitário da Rádio Cidade com os eventos internacionais era tal que jocosamente muitos perguntavam se ela era "rádio rock" ou era "rádio Rock In Rio".
Nesse xadrez radiofônico, uma coisa curiosa acontecia: no patrocínio de filmes de Hollywood exibidos nos cinemas do eixo Rio-São Paulo, havia a estranha dobradinha Jovem Pan (RJ) / 89 FM (SP) na promoção da maioria dos filmes.
Em Curitiba, as rádios de rock não foram ceifadas por FMs pop, mas por rádios noticiosas.
A Estação Primeira (90,3 mhz) foi derrubada pela franquia da CBN Curitiba, a princípio de propriedade de Mario Petraglia, "cartola" do Atlético Paranaense e depois adquirida por Joel Malucelli.
Com o fim da Estação Primeira, veio depois, em 1997, a 96 Rock (96,3 mhz), menos criativa que a antecessora, que em 2005 foi adquirida pela Band News FM.
A 96 Rock, propriedade da família Malucelli, transmitia futebol para fazer média ao lobby dos clubes Coritiba e Atlético Paranaense. Um claro desrespeito aos roqueiros, que ficavam sem ouvir rock durante as transmissões que só interessavam aos "cartolas".
A rádio saiu do ar em 2005, quando a antiga 96 migrou para o prefixo 91,3 mhz, deixado vago pela Transamérica, e virou 91 Rock até 2011, quando a emissora passou a continuar só na Internet.
Joel Malucelli é o principal membro de um dos clãs conservadores de Curitiba, uma cidade que há muito deixou de representar o mito de modernidade e desenvolvimento humano.
A capital paranaense é uma das quatro capitais com maior incidência de feminicídios, é reduto de extremo conservadorismo político e quartel-general do golpismo político que tirou Dilma Rousseff em 2016.
É certo que os cariocas é que decidiram pelo golpe político, elegendo Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro que contribuíram para ceifar o segundo mandato da presidenta.
Mas o estímulo da operação do juiz Sérgio Moro, ligado aos interesses do Departamento de Estado dos EUA, deu destaque a Curitiba na retomada ultraconservadora, a ponto da capital paranaense ser apelidada de "República de Curitiba".
Segundo o Diário do Centro do Mundo, Mário Celso Petraglia, conhecido pelos roqueiros paranaenses como o carrasco da Estação Primeira, havia citado as relações de Moro com Malucelli, em postagem publicada em 2014 e depois deletada.
De acordo com Petraglia, Malucelli seria informante de Sérgio Moro em algumas investigações da Lava Jato.
Malucelli também é dono do Banco Paraná, tem um patrimônio avaliado em R$ 2 bilhões e é dono de 40 empresas, sendo um dos homens mais ricos do Estado.
Malucelli também é suplente do senador Álvaro Dias e presidente estadual do Podemos, antigo PTN, partido hoje alinhado com a retomada conservadora, mas desvinculado da base aliada do governo Michel Temer.
Um histórico do empresário Malucelli é detalhado por Joaquim de Carvalho, do DCM.
E imaginar que uma rivalidade empresarial acabou empastelando rádios de rock, se enriquecendo com futebol e colaborando com o cenário político conservador de Curitiba.
Uma intriga política com gosto de jabaculê e ritmo de Lava Jato.
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