Pular para o conteúdo principal

CONFLITOS ENTRE AS ESQUERDAS E OS PUXADORES DE TAPETES


O fato recente do Duplo Expresso e seu "documento bombástico" com estranhas marcas d'água mostra os conflitos internos existentes nas esquerdas.

Evidentemente, surge a preocupação de resolver divergências e retomar a união, ainda mais com o alto risco do ex-presidente Lula ser preso.

Unir é necessário, mas sempre temos que tomar cautela. Afinal, quem realmente é nosso aliado?

Há muita gente que aparece como "boa esquerdista", paga chope para os amigos, oferece a visibilidade necessária, até o momento em que vai puxar o tapete.

Há quem pareça "solidário em tudo": quer ver Lula de volta à presidência, odeia a Rede Globo, esculhamba Sérgio Moro, grita "Fora Temer" e define o PSDB como partido decadente.

Mas, por baixo dos panos, insere causas e procedimentos estranhos aqui e ali.

Na Cultura, prega a bregalização, transformando o povo pobre em caricatura de si mesmo porque é melhor pobre dançar o "funk" do que pedir reforma agrária.

Na Economia, cria desordens internas que, entre outras coisas, acabam pondo em risco a nossa soberania, oferecendo nosso patrimônio a empresas estrangeiras.

Na Educação criam conflitos que permitem que universidades públicas mais uma vez sejam ameaçadas de privatização.

O inimigo interno é uma novidade no Brasil. A forma com que ele se chega a muitas pessoas é tão habilidosa que o nível de desconfiança chega a ser o menor possível, para não dizer nulo.

Eu já larguei a religião do Espiritismo porque muitas pessoas informaram sobre essa realidade.

A religião fundada por Allan Kardec foi empastelada no Brasil, com seu conteúdo original substituído por devaneios católicos medievais.

Isso causou uma série de crises e já levou um "médium" aos tribunais, em 1944, por causa das obras fake que usavam o nome de Humberto de Campos.

Mas, assim como hoje, a Justiça é seletiva, e o tal "médium" foi posto na impunidade e hoje ele é "santificado" por uma grande legião de incautos.

Graças a esse sujeito, o Espiritismo no Brasil fugiu completamente da essência do original francês e virou um engodo religioso de falsas mediunidades e conservadorismo moral e religioso.

As crises provocadas com isso, quando os fiéis seguidores de Kardec reagiram com indignação, chegaram ao auge nos anos 1970 e a solução da conciliação foi a pior possível.

Naquela época se optou pela união, mas da forma bastante equivocada.

Uniram-se os espíritas genuínos com os traidores de Kardec que, prometendo resgatar os ensinamentos do Espiritismo francês, vestiram a máscara de "kardecistas autênticos".

Foi nessa época que os dois "médiuns" mais famosos, o que foi julgado em 1944 e outro que expressou homofobia recentemente, viveram seus momentos áureos, ganhando inclusive a blindagem da Rede Globo.

Os genuínos adeptos da Doutrina Espírita acharam que a conciliação era possível e, confundindo perdão com permissividade, aceitaram a atuação dos traidores que prometeram "se corrigir".

Nada foi corrigido e a traição cresceu ainda mais, e o Espiritismo virou uma confusão doutrinária, onde conceitos originais e outros empastelados se misturaram, contradizendo entre si.

"Médiuns" farsantes passaram a fazer palestras, vejam só, sobre "como reconhecer um falso médium".

Obras fake eram publicadas em quantidades industriais, ofendendo as memórias dos mortos, mesmo quando as mensagens envolvem supostos ensinamentos cristãos.

Isso mostra o quanto temos que tomar muito cuidado com a necessidade de união.

Os conflitos e crises recentes, nas esquerdas, se deram quando um aparente aliado, Romulus Maia, passou a atacar as esquerdas, dos blogues progressistas a parlamentares de coragem e atuação como Paulo Pimenta e Wadih Damous.

Não se trata de gente como Marta Suplicy ou Fernando Gabeira, antes um eminente símbolo das esquerdas que ultimamente andou apoiando o MBL e a intervenção militar.

Se trata de gente que "é amiga mesmo" mas que insere nas veias das esquerdas ideias e procedimentos estranhos.

Quem não se lembra de Pedro Alexandre Sanches esculhambando Chico Buarque, chamando-o de "coronel da Fazenda Modelo"?

O farofafeiro, que nunca apresentou uma ideia própria de esquerda e vivia papagaiando os esquerdismos dos outros, agora tenta ganhar as esquerdas para si entrevistando pesos-pesados da MPB autêntica, como Aldir Blanc e Egberto Gismonti.

E isso depois de empurrar para as Viradas Culturais patrocinadas pelo PT ídolos bregas dos anos 1970 e 1990 patrocinados pela mídia venal e pelas grandes gravadoras.

O "bom esquerdista" Pedro Sanches tanto fez pela bregalização que ele acabou abrindo o microfone para gente reacionária como Rodrigo Constantino, Reinaldo Azevedo e outros.

Sanches, com aquele papo de empurrar a bregalização nas esquerdas, deixou os esquerdistas em situação vexatória no que se diz à pauta cultural e transformou inexpressivos jornalistas reaças em pretensos paladinos da "cultura popular de verdade", estes que nunca ligaram para o povo pobre.

Daí o aspecto surreal, em níveis buñuelianos: esquerdistas defendendo coisas caricatas como MC Créu e direitistas hidrófobos e reacionários defendendo Cartola e Jackson do Pandeiro como a verdadeira cultura do povo pobre.

Ou de lançar bregas emergentes como falso guevarismo musical e que, duas semanas depois, apareceriam nas capas de Veja e Caras e nas telas da Rede Globo.

Evidentemente, a busca por visibilidade e protagonismo desnorteia as esquerdas.

Elas ficam surdas em muitos momentos, pois setores das próprias esquerdas adotam posturas estranhas à pauta progressista.

E não se trata de um ponto de vista mais inflexível. Mesmo considerando divergências e aspectos mais flexíveis, essas posturas ainda assim se consideram estranhas.

Como, por exemplo, definir como "feminismo" a moda das mulheres "turbinadas", usando como desculpa para esse recreio, fundamentalmente machista, das mulheres-objeto o pretexto da "liberdade do corpo".

Esse falso empoderamento prevaleceu durante anos nas pautas das feministas de esquerda, antes que episódios como estupros coletivos, assédios violentos etc chamassem a atenção para o problema.

Aqui durante muito tempo as esquerdas acharam a prostituição o máximo, e, sob a desculpa de defenderem o lado humano das prostitutas, preferiram defender a prostituição e condenar as prostitutas.

As prostitutas acabaram sendo escravas da própria prostituição, sob a desculpa de que isso era "libertário".

E aí isso criava um contraste. Enquanto no Brasil, em que as periferias são transformadas em Disneylândias dos subúrbios, em Miamis pseudo-cubanas, a prostituição era vista como um "paraíso de empoderamento e emancipação", lá fora o que se via era tragédia.

Eu mesmo li relatos de prostitutas estrangeiras que viveram o pesadelo da violência de seus fregueses e cafetões, e de como o ofício trouxe mais traumas do que orgulho ou emancipação.

No Brasil, havia aquela fantasia: imagina-se que as prostitutas só teriam chefes mulheres, as cafetinas, e que elas chutariam os homens no menor sinal de agressão.

Quanta ingenuidade. E essa fantasia toda é difundida por gente que se diz instruída e acumula diplomas de pós-graduação.

O "funk" também é outro problema. As esquerdas sentem no "funk" uma espécie de "paixão não-correspondida".

É aquela história que se vê nas comédias estudantis: o nerd que se apaixona pela garota mais linda da escola e ela não dá bola para ele.

Aí a garota pede para o nerd lavar o automóvel que ela diz ser do pai dela e ele pensa que ela está apaixonada por ele.

Mas ela depois revela que o automóvel é do namorado dela e que ele vai usar o carro para levá-la ao baile da noite seguinte.

O "funk" nunca foi de esquerda. Seu discurso "libertário" foi construído numa combinação de muita falácia, muitas meias-verdades, muito wishful thinking, muito etnocentrismo e doses imensas de puro marketing.

O bom observador sabe que o "funk", antes de ser empurrado para as esquerdas, marcou presença em tudo quanto era veículo das Organizações Globo.

Era uma aparição totalitária: era "funk" da novela das nove ao canal Futura, incluindo até personagens criados por encomenda para o já anti-petista Casseta & Planeta.

A ideia era botar na mente do espectador médio da Globo que o "funk" estava por "todos os lados", desde os núcleos suburbanos das novelas das nove até os eventos de moda que viravam notícia na revista da corporação dos Marinho, a Quem Acontece.

Até a comédia Sob Nova Direção era aconselhada a promover o "funk" como "música para trintões".

A presença do "funk" na Globo não era um enfrentamento por parte do "funk" nos espaços da grande mídia, nem uma apropriação da Globo do sucesso de um ritmo.

Da forma como foi feita, a aliança foi clara, mesmo. Para desespero das esquerdas, traídas pelo apelo populista dos funqueiros.

Pediu-se para as esquerdas se unirem pelo "funk", sob a desculpa de ser a "última palavra em rebelião popular".

Mas o "funk" trabalhava as classes populares de uma forma um tanto perniciosa.

Glamourizava a pobreza, a ignorância e o caráter grotesco das classes populares. Falando em "ruptura do preconceito", o "funk" foi o que mais estimulou a imagem preconceituosa e pejorativa das classes pobres diante das elites.

O "funk" também colocava o consumismo acima da cidadania. E, no discurso, herdou a retórica pseudo-esquerdista que Cabo Anselmo pregou há 55 anos.

O "funk" chegou até a ir longe nas traições à esquerda do que Cabo Anselmo, da maneira explícita e com provas.

Mas aí baixa o "espírito de Sérgio Moro" em certos setores das esquerdas e elas acabam chamando os funqueiros para se mobilizar ao lado delas, acreditando na busca de maior visibilidade.

Eu já dei exemplos dessas traições: o DJ Rômulo Costa, da Furacão 2000, que atuou na passeata de Copacabana em 2016, tem relações com profissionais da Rede Globo e políticos cariocas interessados na queda da presidenta Dilma Rousseff.

Ou seja, Rômulo Costa, que nunca foi esquerdista um segundo sequer, estava na verdade a serviço dos artífices do golpe, procurando sobrepôr o barulho do "funk" naqueles últimos apelos antes da votação da abertura do impeachment.

Outro exemplo foi a Liga do Funk, comandada por Bruno Ramos.

Conforme descrevi antes, a Liga do Funk participou de uma passeata contra a Rede Globo, em São Paulo, em março de 2016.

Quatro meses depois, a mesma Liga do Funk, ao lado da equipe do canal de "funk" Kondzilla, exibido no YouTube, foi gravar reportagem para o Fantástico da mesma Rede Globo.

Notem os contextos: a manifestação anti-Globo (acusada de incitar o povo a pedir "Fora Dilma") contou com a participação de uma organização de funqueiros. Dilma ainda estava no governo.

Pouco tempo depois, eles mesmos aceitaram participar de um programa da Rede Globo, o Fantástico, que exibiu a gravação em outubro daquele mesmo ano de 2016. Dilma já havia sido expulsa do poder em definitivo, no fim de agosto.

Vale lembrar que o Fantástico é um jornalístico, portanto, sob "jurisdição" de Ali Kamel, e que havia também atuado nas "denúncias de corrupção" atribuídas tendenciosamente ao PT.

É esse jogo duplo que se deve levar em conta quando se pensa em unir as esquerdas.

O inimigo interno muitas vezes é um falso amigo que mantém o tempo todo o seu teatro de pretensa solidariedade e demora muito tempo a desembarcar.

A lição que os espíritas, no Brasil, têm dessa utopia da conciliação fácil - interpretando mal sua crença no que chamam de "perdoar os inimigos" - , teve seu desfecho mês passado.

Um "médium" que se ascendeu há mais de 40 anos, beneficiado por uma solução conciliatória, e que durante anos vendeu a falsa imagem de "pacifista, filantropo e humanista", resolveu mostrar sua verdadeira face.

Fez comentários rancorosos contra o marxismo, o PT e a ideologia de gênero e exaltou figuras como Sérgio Moro, definido desejosamente pelo "médium" como "presidente da República de Curitiba".

Como se o "médium" quisesse que Moro governasse o país.

O tal "médium" sempre foi assim, reacionário, mas durante muito tempo as esquerdas espíritas estavam complacentes com ele, por causa da fachada da "caridade", embora até esta tenha sido descrita como "condenável" pelo insuspeito jornalista José Herculano Pires.

Afinal, essa "caridade" nunca trouxe grandes resultados para os mais necessitados, embora, em contrapartida, rendesse mais publicidade, promoção pessoal e prêmios para o suposto filantropo.

O Brasil é um país conservador e mesmo as esquerdas progressistas ainda possuem resíduos desse conservadorismo. É herança da educação paternal, religiosa e escolar que tivemos.

Hoje problemas desafiam até mesmo a hipótese de união das esquerdas, afinal, embora ela seja necessária, mesmo assim ela deve ser tratada com muita cautela.

A questão de tomarmos cuidado com os inimigos internos é algo que não deve ser ignorado a pretexto de esquecermos as divergências.

Porque existe uma grande diferença entre pessoas que divergem de forma saudável e os inimigos internos que possuem divergências ameaçadoras, mas que fingem concordar com tudo e todos.

Da maneira como ocorre no Brasil, as esquerdas precisam agir como carneiros que precisam discernir a ovelha negra de um coiote.

A situação é muito mais complexa do que ver um Fernando Gabeira, símbolo das esquerdas e da luta contra a ditadura militar, estar entrosado com o golpismo político.

Afinal, até que ponto podemos acreditar num antigo ex-político da ARENA, o baiano Mário Kertèsz, que como dublê de radiojornalista, "astro-rei" da Rádio Metrópole FM, quer forjar protagonismo nacional entrevistando o ex-presidente Lula?

Kertèsz é um sujeito que havia sido desmascarado pelo meu ex-professor na UFBA, o ativista negro Fernando Conceição, em trabalhos de jornalismo investigativo.

Ex-prefeito de Salvador, Kertèsz havia se tornado um usurpador das esquerdas na capital baiana.

Salvador é um dos redutos de forças progressistas, se contrapondo com redutos de gente mais reacionária que são Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

São Paulo e Porto Alegre ainda têm movimentos esquerdistas fortes, embora minoritários. O Rio de Janeiro, bem menos, embora seja ainda mais superestimado como se a esquerda fosse maioria no Estado.

Daí que, em Salvador, Kertèsz sempre se empenhou em usar os movimentos sociais para vincular à sua imagem, ele que é um sujeito no íntimo reacionário, machista, elitista, privatista e neoliberal. Ele age como se ele se achasse "dono" das esquerdas na Bahia.

Será que as esquerdas baianas, em troca de visibilidade, teriam que aceitar o apoio tendencioso da Rádio Metrópole, que pertence a uma parcela da grande mídia que, como a Isto É, Band e Folha, parecem "mais imparciais" mas sofreram surtos reacionários dos mais chocantes?

Ou será que devemos lutar por uma mídia alternativa própria? A TV 247, o canal de O Cafezinho e Conversa Afiada, são suficientes num contexto em que até a EBC está nas mãos dos golpistas?

É preciso um debate e, mais do que a união entre pessoas realmente solidárias, devemos ficar vigilantes porque os inimigos internos estão aí, exagerando no afeto, nos abraços e comprando nossa credulidade vendendo visibilidade ou rodadas de cerveja.

Isso porque a atuação de inimigos internos sempre irá influenciar nos conflitos internos nas esquerdas.

Querer abafar as divergências no sentido de manter as raposas no galinheiro a pretexto de uma suposta solidariedade é sempre um risco, por mais que haja uma estabilidade forçada.

Essa estabilidade forçada sempre explode em divergências aqui e ali, porque o inimigo interno representa não uma diferença pontual de abordagem ou ponto de vista, mas uma diferença comprometedora para os interesses progressistas, por mais diversos que sejam.

Quantos agentes dos barões da mídia, dos latifundiários, das multinacionais, dos rentistas e outros grupos elitistas e reacionários vestem a capa de "sinceros adeptos do esquerdismo"?

Eles não devem ser confundidos com direitistas ou centristas arrependidos que passam a ingressar na causa esquerdista por uma sincera identificação pessoal e ideológica.

Daí o problema. Os conflitos nas esquerdas só serão resolvidos quando se perceberem a que nível se encontram as divergências.

As soluções devem ser tomadas para que não se afastem do apoio pessoas com divergências pequenas enquanto se acolhem os inimigos internos a puxarem o tapete no momento decisivo.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

RELIGIÃO DO AMOR?

Vejam como são as coisas, para uma sociedade que acha que os males da religião se concentram no neopentecostalismo. Um crime ocorrido num “centro espírita” de São Luís, no Maranhão, mostra o quanto o rótulo de “kardecismo” esconde um lodo que faz da dita “religião do amor” um verdadeiro umbral. No “centro espírita” Yasmin, a neta da diretora da casa, juntamente com seu namorado, foram assaltar a instituição. Os tios da jovem reagiram e, no tiroteio, o jovem casal e um dos tios morreram. Houve outros casos ao longo dos últimos anos. Na Taquara, no Rio de Janeiro, um suposto “médium” do Lar Frei Luiz foi misteriosamente assassinado. O “médium” era conhecido por fraudes de materialização, se passando por um suposto médico usando fantasias árabes de Carnaval, mas esse incidente não tem relação com o crime, ocorrido há mais de dez anos. Tivemos também um suposto latrocínio que tirou a vida de um dirigente de um “centro espírita” do Barreto, em Niterói, Estado do Rio de Janeiro. Houve incênd...

LULA GLOBALIZOU A POLARIZAÇÃO

LULA SE CONSIDERA O "DONO" DA DEMOCRACIA. Não é segredo algum, aqui neste blogue, que o terceiro mandato de Lula está mais para propaganda do que para gestão. Um mandato medíocre, que tenta parecer grandioso por fora, através de simulacros que são factoides governamentais, como os tais “recordes históricos” que, de tão fáceis, imediatos e fantásticos demais para um país que estava em ruínas, soam ótimos demais para serem verdades. Lula só empolga a bolha de seus seguidores, o Clube de Assinantes VIP do Lulismo, que quer monopolizar as narrativas nas redes sociais. E fazendo da política externa seu palco e seu palanque, Lula aposta na democracia de um homem só e na soberania de si mesmo, para o delírio da burguesia ilustrada que se tornou a sua base de apoio. Só mesmo sendo um burguês enrustido, mesmo aquele que capricha no seu fingimento de "pobreza", para aplaudir diante de Lula bancando o "dono" da democracia. Lula participou da Assembleia Geral da ONU e...

LUÍS INÁCIO SUPERSTAR

Não podemos estragar a brincadeira. Imagine, nós, submetidos aos fatos concretos e respirando o ar nem sempre agradável da realidade, termos que desmascarar o mundo de faz-de-conta do lulismo. A burguesia ilustrada fingindo ser pobre e Lula pelego fingindo governar pelos miseráveis. Nas redes sociais, o que vale é a fantasia, o mundo paralelo, o reino encantado do agradável, que ganha status de “verdade” se obtém lacração na Internet e reconhecimento pela mídia patronal. Lula tornou-se o queridinho das esquerdas festivas, atualmente denominadas woke , e de uma burguesia flexível em busca de tudo que lhe pareça “legal”, daí o rótulo “tudo de bom”. Mas o petista é visto com desconfiança pelas classes populares que, descontando os “pobres de novela”, não se sentem beneficiadas por um governo que dá pouco aos pobres, sem tirar muito dos ricos. A aparente “alta popularidade” de Lula só empolga a “boa” sociedade que domina as narrativas nas redes sociais. Lula só garante apoio a quem já está...

BURGUESIA ILUSTRADA E SEU VIRALATISMO

ESSA É A "FELICIDADE" DA BURGUESIA ILUSTRADA. A burguesia ilustrada, que agora se faz de “progressista, democrática e de esquerda”, tenta esconder sua herança das velhas oligarquias das quais descendem. Acionam seus “isentões”, os negacionistas factuais, que atuam como valentões que brigam com os fatos. Precisam manter o faz-de-conta e se passar pela “mais moderna sociedade humana do planeta”, tendo agora o presidente Lula como fiador. A burguesia ilustrada vive sentimentos confusos. Está cheia de dinheiro, mas jura que é “pobre”, criando pretextos tão patéticos quanto pagar IPVA, fazer autoatendimento em certos postos de gasolina, se embriagar nas madrugadas e falar sempre de futebol. Isso fora os artifícios como falar português errado, quase sempre falando verbos no singular para os substantivos do plural. Ao mesmo tempo megalomaníaca e auto-depreciativa, a burguesia ilustrada criou o termo “gente como a gente” como uma forma caricata da simplicidade humana. É capaz de cele...

INFANTILIZAÇÃO E ADULTIZAÇÃO

A sociedade brasileira vive uma situação estranha, sob todos os aspectos. Temos uma elite infantilizada, com pessoas de 18 a 25 anos mostrando um forte semblante infantil, diferente do que eu via há cerca de 45 anos, quando via pessoas de 22 anos que me pareciam “plenamente adultas”. É um cenário em que a infantilizada sociedade woke brasileira, que chega a definir os inócuos e tolos sucessos “Ilariê” e “Xibom Bom Bom” cono canções de protesto e define como “Bob Dylan da Central” o Odair José, na verdade o “Pat Boone dos Jardins”, apostar num idoso doente de 80 anos para conduzir o futuro do Brasil. A denúncia recente do influenciador e humorista Felca sobre a adultização de menores do ídolo do brega-funk Hytalo Santos, que foi preso enquanto planejava fugir do Brasil, é apenas uma pequena parte de um contexto muito complexo de um colapso etário muito grande. Isso inclui até mesmo uma geração de empresários e profissionais liberais que, cerca de duas décadas atrás, viraram os queridões...

“COMBATE AO PRECONCEITO” TRAVOU A RENOVAÇÃO REAL DA MPB

O falecimento do cantor e compositor carioca Jards Macalé aos 82 anos, duas semanas após a de Lô Borges, mostra o quanto a MPB anda perdendo seus mestres um a um, sem que haja uma renovação artística que reúna talento e visibilidade. Macalé, que por sorte se apresentou em Belém, no Pará, no Festival Se Rasgum, em 2024. Jards foi escalado porque o convidado original, Tom Zé, não teve condições de tocar no evento. A apresentação de Macalé acabou sendo uma despedida, um dos últimos shows  do artista em sua vida. Belém é capital do Estado da Região Norte de domínio coronelista, fechado para a MPB - apesar da fama internacional dos mestres João Do ato e Billy Blanco - e impondo a música brega-popularesca, sobretudo forró-brega, breganejo e tecnobrega, como mercado único. A MPB que arrume um dueto com um ídolo popularesco de plantão para penetrar nesses locais. Jards, ao que tudo indica, não precisou de dueto com um popularesco de plantão, seja um piseiro ou um axezeiro, para tocar num f...

O ERRO QUE DENISE FRAGA COMETEU, NA BOA-FÉ

A atriz Denise Fraga, mesmo de maneira muito bem intencionada, cometeu um erro ao dar uma entrevista ao jornal O Estado de São Paulo para divulgar o filme Livros Restantes, dirigido por Márcia Paraíso, com estreia prevista para 11 de dezembro. Acreditando soar “moderna” e contemporânea, Denise, na melhor das intenções, cometeu um erro na boa-fé, por conta do uso de uma gíria. “As mulheres estão mais protagonistas das suas vidas. Antes esperavam que aos 60 você estivesse aposentando; hoje estamos indo para a balada com os filhos”. Denise acteditou que a gíria “balada” é uma expressão da geração Z, voltada a juventude contemporânea, o que é um sério equívoco sem saber, Denise cometeu um grave erro de citar uma gíria ligada ao uso de drogas alucinógenas por uma elite empresarial nos agitos noturnos dos anos 1990. A gíria “balada” virou o sinônimo do “vocabulário de poder” descrito pelo jornalista britânico Robert Fisk. Também simboliza a “novilíngua” do livro 1984, de George Orwell, no se...

A RELIGIÃO QUE COPIA NOMES DE SANTOS PARA ENGANAR FIÉIS

SÃO JOÃO DE DEUS E SÃO FRANCISCO XAVIER - Nomes "plagiados" por dois obscurantistas da fé neomedieval "espirita". Sendo na prática uma mera repaginação do velho Catolicismo medieval português que vigorou no Brasil durante boa parte do período colonial, o Espiritismo brasileiro apenas usa alguns clichês da Doutrina Espírita francesa como forma de dar uma fachada e um aparato pretensamente diferentes. Mas, se observar seu conteúdo, se verá que quase nada do pensamento de Allan Kardec foi aproveitado, sendo os verdadeiros postulados fundamentados na Teologia do Sofrimento da Idade Média. Tendo perdido fiéis a ponto de cair de 2,1% para 1,8% segundo o censo religioso de 2022 em relação ao anterior, de 2012, o "espiritismo à brasileira" tenta agora usar como cartada a dramaturgia, sejam novelas e filmes, numa clara concorrência às novelas e filmes "bíblicos" da Record TV e Igreja Universal. E aí vemos que nomes simples e aparentemente simpáticos, como...

O BRASIL DOS SONHOS DA FARIA LIMA

Pouca gente percebe, mas há um poder paralelo do empresariado da Faria Lima, designado a moldar um sistema de valores a ser assimilado “de forma espontânea” por diversos públicos que, desavisados, tom esses valores provados como se fossem seus. Do “funk” (com seu pseudoativismo brega identitário) ao Espiritismo brasileiro (com o obscurantismo assistencialista dos “médiuns”), da 89 FM à supervalorização de Michael Jackson, do fanatismo gurmê do futebol e da cerveja, do apetite “original” pelas redes sociais, pelo uso da gíria “balada” e dos “dialetos” em portinglês (como “ dog ”, “ body ” e “ bike ”), tudo isso vem das mentes engenhosas das elites empresariais do Itaim Bibi, na Zona Sul paulistana, e de seis parceiros eventuais como o empresariado carnavalesco de Salvador e o coronelismo do Triângulo Mineiro, no caso da religião “espírita”. E temos a supervalorização de uma banda como Guns N'Roses, que não merece a reputação de "rock clássico" que recebe do público brasile...

DOUTORADO SOBRE "FUNK" É CHEIO DE EQUÍVOCOS

Não ia escrever mais um texto consecutivo sobre "funk", ocupado com tantas coisas - estou começando a vida em São Paulo - , mas uma matéria me obrigou a comentar mais o assunto. Uma reportagem do Splash , portal de entretenimento do UOL, narrou a iniciativa de Thiago de Souza, o Thiagson, músico formado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) que resolveu estudar o "funk". Thiagson é autor de uma tese de doutorado sobre o gênero para a Universidade de São Paulo (USP) e já começa com um erro: o de dizer que o "funk" é o ritmo menos aceito pelos meios acadêmicos. Relaxe, rapaz: a USP, nos anos 1990, mostrou que se formou uma intelectualidade bem "bacaninha", que é a que mais defende o "funk", vide a campanha "contra o preconceito" que eu escrevi no meu livro Esses Intelectuais Pertinentes... . O meu livro, paciência, foi desenvolvido combinando pesquisa e senso crítico que se tornam raros nas teses de pós-graduação que, em s...