Enquanto Jair Bolsonaro "pagava mito", ou melhor, "pagava mico", na entrevista dada aos jornalistas do Roda Viva, na TV Cultura, as esquerdas se envolviam em duas principais polêmicas.
Uma delas nem é tão surpresa, assim, que é a atitude de Ciro Gomes em jogar com os dois lados, parecendo um liberal nos cenários plutocráticos e um esquerdista nos cenários progressistas.
Ciro enviou uma carta aberta prometendo revogar os retrocessos do governo Temer, da reforma trabalhista às vendas da Embraer e Eletrobras. Mas seu PDT sinaliza apoio ao DEM, para o governo de Minas Gerais, na esperança de garantir palanque para Ciro.
DEM é um dos partidos que mais apoiaram os retrocessos de Temer.
Minas Gerais é um dos dois Estados que foram envolvidos num acordo que foi outra controvérsia, a mais delicada, entre o PT e o PSB, que dividiu claramente as esquerdas.
A coisa pegou pesado em Pernambuco, o outro Estado, porque a Executiva Nacional do Partido dos Trabalhadores preferiu apoiar Paulo Câmara, do Partido Socialista Brasileiro, para o governo do Estado onde Lula nasceu.
Por ironia, Marília Arraes, da família do falecido patriarca Miguel Arraes, deixou o PSB por discordar do partido ter absorvido políticos de direita.
Sabe-se que o PSB também apoiou o golpe político de 2016. A caravana para a direita do PSB não é novidade e, durante um tempo, "abrigou" direitistas históricos como Gabriel Chalita, ligado à Opus Dei, e Jaime Lerner, o "Roberto Campos" da mobilidade urbana.
O acordo que fez a cúpula nacional do PT desistir de candidato próprio para o governo de Pernambuco foi recusado por Marília que, indignada, declarou se manter como candidata, decisão corroborada pelo PT local.
A controversa decisão do PT teve como justificativa, dada pela presidenta Gleisi Hoffmann, o fato de que o PSB pernambucano expurgou membros direitistas e repudiou as medidas do governo Temer.
O acordo PT-PSB combinou também a desistência de Márcio Lacerda, do PSB, de concorrer para o governo mineiro, em benefício do apoio ao petista Fernando Pimentel, que busca a reeleição.
Foi uma polêmica delicada, porque, tanto da parte da militância do PT, contrária ao acordo pernambucano, e parte dos defensores da decisão da cúpula, houve alegações fortes.
Do lado da militância, a manutenção da candidatura de Marília Arraes seria mais estratégica para articular a união das esquerdas para as eleições presidenciais.
Do lado da cúpula, era o acordo PT-PSB que foi visto como estratégico para formular as alianças necessárias para a união das esquerdas.
Numa semana em que os compositores Chico Buarque e Martinho da Vila visitaram Lula na cadeia, e quando já se cogita pôr Fernando Haddad como "coringa" no jogo eleitoral, na hipótese do ex-presidente ser banido da disputa, a situação está delicada.
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral, quebrou o protocolo ao defender a inelegibilidade do ex-presidente Lula.
Ele extinguiu uma ação movida por um cidadão comum que pedia o banimento imediato de Lula na corrida presidencial, mas Fux concordou com a causa apresentada.
A proibição, medida dada pela também ministra do STF, Rosa Weber, vice-presidente do TSE, diante da ação movida pelo Movimento Brasil Livre (aka Movimento Me Livre do Brasil) com o mesmo pedido de apressar a inelegibilidade de Lula.
Apesar de sinalizarem em favor da causa, os ministros do STF que comandam o TSE preferem o timing do Supremo para definir a situação de Lula.
O ministro Luiz Edson Fachin, também STF e membro do TSE, pediu no começo deste mês maior rapidez no julgamento do pedido de suspensão da prisão de Lula, cuja data oficial é o próximo dia 15.
A remarcação do julgamento para antes dessa data, segundo Fachin, era para evitar criar dúvidas ao eleitorado quanto à hipótese de Lula estar ou não autorizado a se candidatar.
Voltando às esquerdas, houve uma sinalização do PT para que Manuela d'Ávila, pré-candidata à Presidência da República pelo PC do B, e um convite foi formulado ontem, segundo uma fonte, durante reunião das lideranças dos dois partidos.
Mas o próprio Lula, esperando uma posição de Ciro Gomes, vetou a escolha imediata de Manuela para se candidatar à vice-presidência.
Hoje ocorrerá a reunião da Executiva Nacional do PT que definirá toda a situação, e que refletirá com a maneira como se irão compor as esquerdas na corrida presidencial.
Até lá, o clima ainda é de desunião e desavenças. O que é perigoso, diante das chances da polarização direita e extrema-direita projetadas para o segundo turno.
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