Até que ponto o "favoritismo" de Jair Bolsonaro tem sentido?
Se for pelas razões normais de grande líder apto a governar o país, dotado de segurança e espírito de liderança, Bolsonaro seria a última pessoa a representar tais qualidades.
Ele é temperamental, ignorante em economia - e seu "posto Ipiranga", o economista Paulo Guedes, uma subcelebridade do setor - , e em certos casos capaz de quebrar a hierarquia e a disciplina militares que ele tanto diz representar.
Ele foi acusado de se envolver num plano de terrorismo, há 30 anos. Foi aí que ele foi posto à reserva, como medida disciplinar.
Como candidato, sendo ele ex-capitão, ele colocou como vice um general, Hamilton Mourão.
Isso é inadmissível numa hierarquia militar, o que poderia render inquérito na Justiça militar.
Bolsonaro, no debate da Rede TV!, foi flagrado com uma colinha na palma da mão com os temas que deveria trabalhar. Até o desnecessário tema "Lula", que os bolsonaristas por impulso abordam, da maneira mais negativa possível, estava escrito à caneta.
O filho Eduardo Bolsonaro destacou, nas redes sociais, que colar em prova é demonstração grave de indisciplina e desonestidade nos colégios militares.
Só esses três aspectos desmerecem o "mito", além do fato de Jair ser réu por machismo, por causa do famoso incidente com a deputada petista Maria do Rosário, dele poder ser réu por racismo, devido ao discurso sobre quilombolas, e um processo de impugnação de sua candidatura.
Mas o Brasil é extremamente surreal, desde que passou a santificar um suposto "médium" (o que usava peruca) como um pretenso filantropo de frases bonitinhas, só que não, depois que esse sujeito se projetou com obras fake literárias de conteúdo duvidoso.
Então, admite-se certas coisas que estão acima da lógica e da normalidade, ou da ética e dos direitos humanos. Mas se pessoas endeusam falsos filantropos que falavam em "sofrer em silêncio, sem queixumes", faz sentido.
E aí temos o "favoritismo" de Jair Bolsonaro ficando em pé, apesar das gafes e outros defeitos do "mito".
E aí várias ameaças surgem na pessoa de Jair, que não são só o fato dele ser uma figura de extrema-direita com apelo supostamente forte entre os jovens.
Ele representa o rebute (reboot) da ditadura militar, embora com apelo moralista-populista que remete a Jânio Quadros.
Bolsonaro também representa a radicalização do golpe político dos "coxinhas" e "manifestoches", que agora têm nos bolsonaristas seus equivalentes mais psicóticos.
Mas outra coisa chama a atenção: esse fenômeno pode também representar a volta à República Velha, através da prática do "voto de cabresto".
Sebastião Bonfim, da Centauro, e Flávio Rocha, da Riachuelo, estão comandando a cavalgada louca que lembra toda a rede de subornos e patrocínios para impor seu candidato na marra.
Jair Bolsonaro comete gafes, faz declarações sociopatas, é suspeito de corrupção e outros crimes como injúria, e "não cai nas pesquisas". A ciência ainda está para descobrir um remédio para diminuir a "febre Bolsonaro" que adoece muitos "cidadãos de bem".
Há o risco de fraude eleitoral, com o uso de algoritmos em urnas eletrônicas para "confirmar" o favoritismo artificial do "mito".
E há, sobretudo, o risco do voto de cabresto, um velho fantasma que retornou com toda força nas redes sociais.
Este voto de cabresto puxa o "efeito manada" que faz o antipopular Bolsonaro ser um "legítimo (sic) líder popular".
Há pressões morais nas redes sociais, com valentões forçando os demais internautas a apoiarem o "mito", tudo para não manchar a "amizade" que os sociopatas têm com pessoas nem tão sociopatas assim, mas que estão inseridas nas comunidades por eles lideradas.
Há o constrangimento de seitas evangélicas contra quem não quiser votar em Bolsonaro, mesmo que seja sob alegações risíveis de que "brasileiro que não votar em Jair vai arder no fogo do inferno".
E o que não se sabe da ordem dos patrões das filiais da Centauro e Riachuelo para seus funcionários votarem em Bolsonaro, sob pena de serem demitidos por "justa causa" (sic)?
São esses velhos paradigmas da República Velha que podem estar crescendo para forçar a vitória de Bolsonaro e consagrar o golpe político de 2016 sob o verniz do "voto popular".
Primeiro, a atualização do voto de cabresto nas redes sociais e nas instituições diversas e nos ambientes de trabalho.
Segundo, a pressão do poder econômico associado para "segurar o mito", ainda que de forma artificial, evitando a queda de Jair mesmo nas suas piores atitudes.
E, terceiro, pela ameaça da fraude eleitoral, com a manipulação eletrônica das urnas eletrônicas em favor de Bolsonaro.
São ameaças reais que a sociedade em geral, independente do plano ideológico, precisa se atentar. Uma ditadura pode se instalar por recursos pseudo-democráticos herdados da República Velha.
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