Pular para o conteúdo principal

MANOBRAS DO JOGO ELEITORAL BRASILEIRO


O mercado não quer Jair Bolsonaro. Sua aparente defesa é mais uma chantagem contra aqueles que têm esperança que a plutocracia libere Lula para a corrida presidencial do que um apoio sincero a um político fascista.

As elites sabem que Jair Bolsonaro não é confiável para o meio empresarial, para o mercado financeiro e para a chamada "boa sociedade".

Bolsonaro é o típico político que, num primeiro momento, atenderá aos interesses das elites, mas depois perderá o controle e governará conforme suas convicções pessoais.

Ele é o tipo de político que a extrema-direita, daqui a cinquenta anos, vai querer definir como um "comunista".

É o idioma fascista, bastante confuso e movido a invencionices: o fascista de amanhã é "democrático", o fascista de hoje é o "líder" e o fascista de ontem, o "comunista".

É essa "vída útil" que envolve um fascista, que é lançado como "moderado", torna-se o "comandante" na ocasião presente e, depois de defenestrado pelo desastre cometido, torna-se o "esquerdista" alvo da execração de seus antigos fãs.

Bolsonaro é cortejado pela grande mídia pelo ranço populista feito para desviar as atenções do público em relação a problemas reais e ameaçar as esquerdas com um candidato mais enérgico.

Por outro lado, também é um apelo para que as pessoas com um mínimo de visão progressista, vendo a ameaça autoritária crescendo, apelem para um candidato neoliberal com um mínimo de "instinto democrático".

Por isso a corrida presidencial tornou-se "podada", sem a força do candidato Luís Inácio Lula da Silva, o mais arrojado e com propostas reais de resolver a crise no Brasil.

Sem ele no páreo e com o impedimento do suplente Fernando Haddad, a corrida presidencial se torna morna, quando muito com figuras com algumas propostas interessantes como Ciro Gomes e Guilherme Boulos.

Ou, quase correndo por fora, João Vicente Goulart, filho de Jango e agora usando o codinome João Goulart Filho, querendo realizar o que o pai não conseguiu fazer.

Fora eles, o resto é um elenco de neoliberais ou fascistas que não representam ruptura com o golpe político de 2016.

É ilustrativo que o consórcio midiático-jurídico venha agora partir para cima de Haddad, o "vice" preparado para ser o titular do PT no caso do impedimento a Lula se consolidar.

O Jornal Nacional começa a cutucar o ex-prefeito de São Paulo, enquanto Veja dá a surra final no ex-presidente, apesar da revista ser um leão ferido de uma Editora Abril agonizante, que já anunciou o fim das franquias da famosas publicações Elle e Cosmopolitan (aqui conhecida como Nova).

No meio Judiciário, a Operação Lava Jato, em sua fase final - quando o PT não reconquistar mais o Executivo federal, a operação começará a desmontar seu circo - , embarca em factoides montados pela narrativa do casal João Santana e Mônica Araújo.

Eles descrevem, sem apresentar provas, supostos acordos financeiros da Odebrecht que beneficiariam Dilma Rousseff, Fernando Haddad e Patrus Ananias.

Enquanto isso, o advogado Rodrigo Tacla Duran, com provas e muita coisa para falar, não é sequer cogitado para dar depoimento, porque ele iria estragar com a festa de Sérgio Moro e companhia.

Diante dessas artimanhas, voltemos ao caso Bolsonaro.

A grande mídia o corteja, e no Brasil vemos o quanto a mídia manipula as pessoas a idolatrar ou odiar artificialmente certas personalidades, conforme as conveniências.

No nível da adoração, tivemos um "médium espírita" cuja trajetória foi marcada por confusões graves, como a produção de obras literárias fake atribuídas a personalidades mortas.

Diante de sucessivas narrativas, trazidas por um lobby envolvendo barões da mídia, instituição religiosa, mercado editorial e setores jurídicos associados, o "médium" ganhou, de graça, o status de "símbolo máximo da bondade humana".

Foi uma narrativa tão bem construída que poucos conseguem admitir que essa "caridade" associada ao "médium" pioneiro das obras fake simplesmente foi confusa e medíocre.

A "caridade" era, na maioria das vezes, exercida por terceiros, e o "médium" só se autopromovia com a filantropia dos outros, como uma cigarra obtendo prestígio à custa do trabalho das formigas.

E aí se constrói um mito durante décadas, como se faz hoje com Luciano Huck.

Num outro plano de persuasão, é o que se faz com Jair Bolsonaro, endeusado pelos sociopatas das redes sociais.

Constrói-se uma narrativa específica, inventando qualidades aqui e ali, para convencer o público de que tal personalidade, que nunca foi grande coisa, "merece" o máximo de admiração.

Com um engenhoso discurso midiático, envolvendo as mais engenhosas técnicas de persuasão, se forjam pretensas unanimidades.

Mas até que ponto a grande mídia irá descartar Bolsonaro, e quem é que vai convencer o público a desistir dele? Quem terá visibilidade o suficiente para convencer o "brasileiro zangado" a evitá-lo, por ser ele politicamente inconsistente?

Enquanto isso, Geraldo Alckmin não consegue convencer o eleitorado e, por baixo dos panos, Álvaro Dias e Marina Silva tentam ser as alternativas "viáveis" dos neoliberais.

Consta-se que a "solução Pindamonhangaba", ou seja, um segundo turno entre os dois "filhos" da cidade paulista, Alckmin e Ciro Gomes, pode não acontecer.

E, sem Lula no páreo, a corrida presidencial continuará na sua mediocridade e, talvez, a grande mídia possa descartar o "mito", no fundo um "bicho papão" para tentar assustar as esquerdas no Brasil.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

PESQUISISMO E RELATORISMO

As mais recentes queixas a respeito do governo Lula ficam por conta do “pesquisismo”, a mania de fazer avaliações precipitadas do atual mandato do presidente brasileiro, toda quinzena, por vários institutos amigos do petista. O pesquisismo são avaliações constantes, frequentes e que servem mais de propaganda do governo do que de diagnóstico. Pesquisas de avaliação a todo momento, em muitos casos antecipando prematuramente a reeleição de Lula, com projeções de concorrentes aqui e ali, indo de Michelle Bolsonaro a Ciro Gomes. Somente de um mês para cá, as supostas pesquisas de opinião apontavam queda de popularidade de Lula, e isso se deu porque os próprios institutos foram criticados por serem “chapa branca” e deles se foi cobrada alguma objetividade na abordagem, mesmo diante de métodos e processos de pesquisa bastante duvidosos. Mas temos também outro vício do governo Lula, que ninguém fala: o “relatorismo”. Chama-se de relatorismo essa mania de divulgar relatórios fantásticos sobre s...

SIMBOLOGIA IRÔNICA

  ACIMA, A REVOLTA DE OITO DE JANEIRO EM 2023, E, ABAIXO, O MOVIMENTO DIRETAS JÁ EM 1984. Nos últimos tempos, o Brasil vive um período surreal. Uma democracia nas mãos de um único homem, o futuro de nosso país nas mãos de um idoso de 80 anos. Uma reconstrução em que se festeja antes de trabalhar. Muita gente dormindo tranquila com isso tudo e os negacionistas factuais pedindo boicote ao pensamento crítico. Duas simbologias irônicas vêm à tona para ilustraresse país surrealista onde a pobreza deixou de ser vista como um problema para ser vista como identidade sociocultural. Uma dessas simbologias está no governo Lula, que representa o ideal do “milagre brasileiro” de 1969-1974, mas em um contexto formalmente democrático, no sentido de ninguém ser punido por discordar do governo, em que pese a pressão dos negacionistas factuais nas redes sociais. Outra é a simbologia do vandalismo do Oito de Janeiro, em 2023, em que a presença de uma multidão nos edifícios da Praça dos Três Poderes, ...

A PRISÃO DE MC POZE E O VELHO VITIMISMO DO “FUNK”

A prisão do funqueiro e um dos precursores do trap brasileiro, o carioca MC Poze do Rodo, na madrugada de ontem no Rio de Janeiro, reativou mais uma vez o discurso vitimista que o “funk” utiliza para se promover. O funqueiro, cujo nome de batismo é Marlon Brandon Coelho Couto Silva, e que já deixou a Delegacia de Repressão a Entorpecentes para ir a um presídio no bairro carioca de Benfica, tem entre o público da Geração Z e das esquerdas identitárias a reputação que Renato Russo teve entre o público de rock dos anos 1980, embora o MC não tenha 0,000001% do talento, pois se envolve em um ritmo marcado pela mais profunda precarização artístico-cultural. No entanto, MC Poze do Rodo foi detido por acusações de apologia ao crime organizado, ao porte ilegal de armas e à violência. Em várias vezes, Poze aparecia com armas nas fotos das redes sociais, o que poderia sugerir um funqueiro bolsonarista em potencial. A polícia do Rio de Janeiro enviou o seguinte comunicado:: “De acordo com as inves...

O ATRASO CULTURAL OCULTO DA GERAÇÃO Z

Fico pasmo quando leio pessoas passando pano no culturalismo pós-1989, em maioria confuso e extremamente pragmático, como se alguém pudesse ver uma espessa cabeleira em uma casca de um ovo. Não me considero careta e, apesar dos meus 54 anos de idade, prefiro ir a um Lollapalooza do que a um baile de gala. Tenho uma bagagem cultural maior do que mimha idade sugere, pelas visões de mundo que tenho, até parece que sou um cidadão mediano de 66 anos. Mas minha jovialidade, por incrível que pareça, está mais para um rapazinho de 26 anos. Dito isso, me preocupa a existência de ídolos musicais confusos, que atiram para todos os lados, entre um roquinho mais pop e um som dançante mais eroticamente provocativo, e no meio do caminho entre guitarras elétricas e sintetizadores, há momentos pretensamente acústicos. Nem preciso dizer nomes, mas a atual cena pop é confusa, pois é feita por uma geração que ouviu ao mesmo tempo Madonna e AC/DC, Britney Spears e Nirvana, Backstreet Boys e Soundgarden. Da...

LÉO LINS E A DECADÊNCIA DE HUMORISTAS E INFLUENCIADORES

LÉO LINS, CONDENADO A OITO ANOS DE PRISÃO E MULTA DE MAIS DE R$ 300 MIL POR CONTA DE PIADAS OFENSIVAS. Na semana passada, a Justiça Federal, através da 3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, condenou o humorista Léo Lins a oito anos de prisão, três deles em regime inicialmente fechado, e multa no valor de R$ 306 mil por fazer piadas ofensivas contra grupos minoritários.  Só para sentir a gravidade do caso, uma das piadas sugere uma sutil apologia ao feminicídio: "Feminista boa é feminista calada. Ou morta". Em outra piada machista, Léo disse: "Às vezes, a mulher só entende no tapa. E se não entender, é porque apanhou pouco". Léo também fez piadas agredindo negros, a comunidade LGBTQIA+, pessoas com HIV, indígenas, evangélicos, pessoas com deficiência, obesos e nordestinos, entre outros. O vídeo que inspirou a elaboração da sentença foi o espetáculo Perturbador, um vídeo gravado em 2022 no qual Léo faz uma série de comentários ofensivos. Os defensores de Léo dizem qu...

ELITE DO BOM ATRASO PIROU NAS REDES SOCIAIS

A BURGUESIA DE CHINELOS NÃO QUER OUTRO CANDIDATO EM 2026. SÓ QUER LULA. A elite do bom atraso, a “frente ampla” social que vai do “pobre de novela” - tipo que explicaremos em outra postagem - ao famoso muito rico, mas que inclui também a pequena burguesia e a parcela “legal” da alta burguesia, enlouqueceu nas redes sociais, exaltando o medíocre governo Lula e somente desejando ele para a Presidência da República na próxima eleição. Preso a estereótipos que deixaram de fazer sentido na realidade, como governar para os pobres e deixar a classe média abastada em segundo plano, Lula na prática expressa um peleguismo que é facilmente reconhecido por proletários, camponeses, sem-teto e servidores públicos, que veem o quanto o presidente “quer, mas não quer muito” trabalhar para o bem-estar dos brasileiros. Lula tem como o maior de seus inúmeros erros o de tratar a reconstrução do Brasil como se fosse uma festa. Esse problema, é claro, não é percebido pela delirante elite do bom atraso que, h...

GOVERNO LULA AGRAVA SUA CRISE

INDICADO POR LULA PARA O BANCO CENTRAL, GABRIEL GALÍPOLO PREFERIU MANTER OS JUROS ALTOS "POR MUITO TEMPO". Enquanto o governo Lula limita gastos mensais com universidades federais, a farra das ONGs nas ditas “emendas parlamentares” é de R$ 274 milhões. Na viagem para a China, Lula é acusado de gastar café com valor equivalente a R$ 56 e de conprar um terno no valor equivalente a R$ 850. Quanto às universidades públicas, a renomada Academia Brasileira de Ciências acusa o governo Lula de desmontar as instituições de ensino superior público através desses cortes financeiros. Lulistas blindam Janja quando ela quebrou o protocolo da conversa entre o marido e o presidente chinês Xi Jinping, para falar de sua preocupação com o Tik Tok. Em compensação, Lula não cumpriu a promessa de implantar o Plano Nacional de Transição Energética, que iria tirar o Brasil da dependência de combustível fóssil. Mas o presidente ainda quer devastar a Amazônia Equatorial para extrair mais petróleo. Lul...

QUANDO A CAPRICHO QUER PARECER A ROCK BRIGADE

Até se admite que o departamento de Jornalismo das rádios comerciais ditas “de rock” é esforçado e tenta mostrar serviço. Mas nem de longe isso pode representar um diferencial para as tais “rádios rock”, por mais que haja alguma competência no trabalho de seus repórteres. A gente vê o contraste que existe nessas rádios. Na programação diária, que ocupa a manhã, a tarde e o começo da noite, elas operam como rádios pop convencionais, por mais que a vinheta estilo “voz de sapo” tente coaxar a palavra “rock”. O repertório é hit-parade, com medalhões ou nomes comerciais, e nem de longe oferecem o básico para o público iniciante de rock. Para piorar, tem aquele papo furado de que as “rádios rock” não tocam só os “clássicos”, mas também as “novidades”. Papo puramente imbecil. É aquela coisa da padaria dizer que não vende somente salgados, mas também os doces. Que diferença isso faz? O endeusamento, ou mesmo as passagens de pano, da imprensa especializada às rádios comerciais “de rock” se deve...

A ILUSÃO DE QUERER PARECER O “MAIS LEGAL DO PLANETA”

Um dos legados do Brasil de Lula 3.0 está na felicidade tóxica de uma parcela de privilegiados. A obsessão de uns poucos bem-nascidos em parecer “gente legal”, em atrair apoio social, os faz até manipular a carteirada para cima e para baixo, entre um sentimento de orgulho aqui e uma falsa modéstia ali, sempre procurando mascarar a hipocrisia que não consegue se ocultar nas mentes dessas pessoas. Com a patrulha dos negacionistas factuais, “isentões” designados para promover o boicote ao pensamento crítico nas redes sociais, a “boa” sociedade que é a elite do bom atraso precisa parecer, aos olhos dos outros, as mais positivas possíveis, daí o esforço desesperado para criar um ambiente de conformidade e até de conformismo, sobretudo pela perigosa ilusão de acreditar que o futuro do Brasil será conduzido por um idoso de 80 anos. Quando ouvimos falar de períodos de supostas regeneração e glorificação do “povo brasileiro”, nos animamos no primeiro momento, achando que agora o Brasil será a n...

APOIO DAS ESQUERDAS AO "FUNK" ABRIU CAMINHO PARA O GOLPE DE 2016

MC POZE DO RODO, COM SEU CARRO LAMBORGHINI AVALIADO EM TRÊS MILHÕES DE REAIS. A choradeira das esquerdas médias diante da prisão de MC Poze do Rodo tenta reviver um hábito contraído há 20 anos, quando o esquerdismo passou a endossar o discurso fabricado pela Rede Globo e pela Folha de São Paulo para "socializar" o "funk", um dos ritmos do comercialismo brega-popularesco que passou a blindar por uma elite de intelectuais sob inspiração do antigo IPES-IBAD, só que sob uma retórica "pós-tropicalista". A revolta contra a prisão do funqueiro e alegações clichês como "criminalização da cultura" e "realidade da favela" feita por parlamentares e jornalistas da mídia esquerdista se tornam bastante vergonhosas e, em muitos casos, descontextualizada com a real preocupação com as classes pobres da vida real, que em nenhum momento são representadas ou se identificam com o "funk" ou o trap. O "funk" e o trap apenas falam sobre o ...