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O ARRIVISMO E A BANALIZAÇÃO DO ERRO


TEM GENTE QUE CHUTA O OUTRO ACHANDO QUE ESTÁ MARCANDO UM GOL.

O recente fenômeno de Jair Bolsonaro, com sua perigosa ascensão na corrida presidencial, revela uma falha gigantesca no Brasil.

Bolsonaro continua como favorito nas pesquisas num cenário sem Lula, mesmo cometendo gafes, injúrias, burrice, arrogância e autoritarismo através de seus atos e ideias. Isso é assustador.

Os erros gigantescos não impedem que Bolsonaro adquira perigosa vantagem nas pesquisas, num país em que os "heróis" não cometem acertos, antes se promovendo às custas de escândalos.

É a consagração da chamada banalização do erro, quando erros graves são insuficientes para abalar reputações, mas, pelo contrário, acabam impulsionando a ascensão de muitos deles.

A década de 1990 foi um celeiro do que se conhece como arrivista, ou ao menos o tipo principal de arrivista, que primeiro busca algum espaço social se ascendendo com um erro, para depois bancar o certinho, sem se arrepender de verdade dos deslizes cometidos.

Chama a atenção a mania das pessoas de dizer que "todo mundo erra", de ficar se gabando com a própria imperfeição e quer levar vantagem mesmo com uma coleção de falhas, não raro graves.

Sim, todos erram, mas a banalização do erro nem de longe representa uma postura de autocrítica, mas antes simboliza a apologia, a complacência ou mesmo à propaganda do próprio erro.

Não por acaso, quando um feminicídio acontece e vira notícia em todo o país, uma onda de feminicídios acontece, não se sabe por que razão aparente, mas talvez visando um sentimento camicaze de visibilidade.

Nos anos 1990, o arrivismo virou onda no Brasil.

Tivemos de tudo, entre pessoas que primeiro se projetam com algum erro sério, para depois bancarem os certinhos de alguma forma.

Tivemos cantores canastrões de "sertanejo" e "pagode" que, depois de cinco anos de sucesso, queriam se passar por "emergentes da MPB" às custas de repertório alheio.

Tivemos um presidente que praticou corrupção e tinha um projeto político conservador, mas que passou a brincar de falso esquerdismo durante dez anos, até passar a apoiar o impeachment de Dilma Rousseff.

Tivemos um prefeito, em Salvador, que era filhote da ditadura militar e que, depois de armar um esquema de corrupção, virou dono de rádio e, como dublê de radiojornalista, quer bancar o "dono" das forças progressistas da Bahia.

Tivemos um ator que matou uma colega de elenco e, anós após sair da prisão, virou pastor evangélico e subcelebridade.

Tivemos jornalista cultural criado pelo anti-esquerdista Projeto Folha, mas que depois passou a bancar o suposto intelectual de esquerda, enganando uma boa parcela das forças progressistas.

Tivemos uma ex-integrante da Banheira do Gugu, ex-mulher de um pagodeiro-brega, que foi "sensualizar demais" expressando falso feminismo.

Sem falar de um obscuro colunista social para jovens que, ultimamente, banca o dublê de filantropo num quadro de seu programa de tevê.

Pessoas que no seu caminho cometem tropeços gravíssimos, escândalos que variam da hipersexualização, das músicas com letras machistas, dos crimes de morte, dos desvios de grandes verbas públicas, das opiniões reacionárias, e saem ilesos de tudo isso.

Chegam perto de sofrerem alguma encrenca e chegam a abrir mão de antigas vantagens, mas mantém seus privilégios praticamente intatos e, muitas vezes, vão adiante, em terrenos fora de sua área de atuação.

Quantos arrivistas vindos da mídia ou da política direitista migram para a esquerda não pela identificação natural a esse plano ideológico, querendo levar vantagem numa falsa solidariedade ao ex-presidente Lula?

Quantas mulheres-objeto se ascendem remexendo seus glúteos nas caras dos fãs, para depois bancarem supostas representantes do feminismo popular brasileiro?

A mídia venal promove ídolos que sobem escadarias com pernas de pau, mas que espancam concorrentes com suas muletas.

Ídolos que começam errando demais, para bancarem os certinhos. Gente que não se arrepende do erro, apenas se aposenta dele.

Quem por exemplo ouviu uma mulher-objeto arrependida por "mostrar demais" e remexer os glúteos, mesmo quando hoje posa de "feminista empoderada"?

Um antigo precedente desse arrivismo está associado a um conhecido "médium espírita". Sim, aquele que usava peruca e que virou um pretenso símbolo de caridade que conseguiu enganar muita gente boa. Até eu, em outros tempos, mas felizmente pude me despertar dessa ilusão.

Ele sempre é visto por sua "linda trajetória" de "dedicação total ao próximo".

Mas a memória curta ocultou seu passado de criador de livros fake que evocavam supostamente grandes nomes de literatos falecidos, que provocou escândalos e até processo judicial (que deu em impunidade).

Embora ele seja definido como "espírito de luz", sua trajetória claramente arrivista derruba em definitivo o pretenso mérito da reputação elevada que esse indivíduo possui.

"Mérito" por sinal consolidado depois que o "médium de peruca" foi promovido a "filantropo da Rede Globo" desde os anos 1970.

Afinal, os grandes humanistas não se afirmam em trajetórias de confusão, mas em trajetórias de enfrentamento diante de limitações.

A ascensão desse "médium", pretensa unanimidade nacional, nos explica como o Brasil se rende fácil a um Bolsonaro.

Trata-se da catarse humana que se sujeita a escândalos, com o fascínio de boa parte da sociedade pelos escândalos e pelo sensacionalismo.

Uma boa parcela de brasileiros, que nunca recebeu uma educação escolar que promovesse a cidadania e nem recebeu a atenção devida dos pais, acabou sendo movida ao sensacionalismo, ao pitoresco, à pieguice, ao grotesco, ao medíocre.

As redes sociais estão cheias dessas pessoas e a banalização do erro gerou o fenômeno do "quenunca", aquela pessoa que faz apologia do erro humano como se isso fosse "ato humano".

Gente que fascina com mulheres siliconadas, "médiuns" que produzem livros fake, ex-militares que querem governar o Brasil, entre tantas e tantas aberrações.

Gente indigna de ficar com a palavra final, mesmo se considerando que não existe verdade absoluta.

Mas, infelizmente, são esses indignos que querem ficar com a verdade, mesmo que seja pelo preço do valentonismo digital.

O pior disso tudo é que essa turma de midiotas quer fazer se impor pelo voto, como se não bastasse suas cavernas digitais onde impõem seu trogloditismo social.

Não podemos deixar que essa elite de sociopatas imponha um Brasil só para eles, através do voto a um político autoritário, confuso, ignorante e arrogante.

Se deixarmos, será a consagração do erro, banalizado e glamourizado pelo sensacionalismo, pela catarse e pelo grotesco.

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