Pular para o conteúdo principal

SALVADOR, NITERÓI E NOVAS QUESTÕES DE MOBILIDADE URBANA


O que é mobilidade urbana? Apenas iluminar ruas, recapear asfaltos e reparar calçadas? É isso, mas evidentemente não somente isso.

A mobilidade urbana envolve um monte de coisas, uma série de estratégias que devem ser vistas ao longe, em vez de esperar o problema vir.

Niterói está muito atrasada em termos de urbanismo, ainda mais quando, dos anos 1990 para cá, a cidade acompanhou o surto provincianista que fez o Rio de Janeiro decair.

Vejamos. Salvador, com fama de "preguiçosa" - terrível injustiça e preconceito - , e com reputação de uma das piores em trânsito de veículos, trabalha duro para resolver os seus problemas da melhor forma, e está se empenhando para reduzir os problemas.

Niterói, que, pelo jeito, jogou fora o status de quarta maior cidade em Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil, também têm trânsito horrível mas se acomoda no atoleiro do tempo.

Sete décadas foram necessárias para ver o projeto da avenida e túnel Cafubá-Charitas sair do papel.

Não dá para entender a felicidade que o niteroiense médio tinha em enfrentar uma demorada travessia de veículos sobre rodas da Estrada Francisco da Cruz Nunes, com um trecho bem estreito, até São Francisco.

Há um retorno ao longo do Sapê e do Largo da Batalha, uma passagem por Cachoeira e, daí, para São Francisco e Charitas.

Em Salvador, o investimento em passarelas não se limita a rodovias, mas também a avenidas no perímetro urbano.

A Av. Tancredo Neves é um exemplo. Há várias passarelas. Até onde não havia, no acesso à Av. Magalhães Neto, foi instalada uma.

Eu sofria esperando um tempo todo para atravessar, indo do Stiep para o Salvador Trade Center.

Hoje eu repito o mesmo drama quando, na Av. Roberto Silveira, espero a sinaleira na altura do Rio Cricket, em Niterói, para atravessar.

Não há previsão de colocar uma passarela no entorno, ligando os três logradouros - avenidas Roberto Silveira e Marquês do Paraná e Rua Miguel de Frias - , mas, ironicamente, foi colocada uma tela eletrônica de anúncios publicitários.

A novela da nova avenida Rio do Ouro - Várzea das Moças continua, sem um estudo sequer para implantação, com as complicações do tráfego na RJ-106 (que Niterói usa como "avenida de bairro") e outros problemas que o niteroiense médio, masoquista, sofre sem perceber.

Pior: quando se fala que deveria desapropriar terrenos, há quem se assuste. Nova avenida entre Rio do Ouro e Várzea das Moças, sem passar pela RJ-106, parece projeto de invasores marcianos.

Mas para quem esperou deitado na rede pela Cafubá-Charitas, faz sentido.

EM SALVADOR, RECAPEAMENTO DE ASFALTO COMO NA AV. PAULO VI, NA PITUBA, É UMA OBRIGAÇÃO NATURAL...

Aí, temos duas comparações entre Niterói e Salvador.

Em Salvador, se investe em requalificação urbana intensa, como no caso da foto do alto, onde a área de nada menos que a Igreja do Bonfim passará por uma completa obra de requalificação.

São trabalhos intensos que afetarão as ruas do entorno, e darão um novo aspecto urbano ao local, com maior funcionalidade e, também, acessibilidade.

Compara-se isso com a notícia recente das obras da Estrada Caetano Monteiro, em Niterói, que estão na reta final.

O festejo foi exagerado apenas por obras de recapeamento de asfalto e iluminação. Falou-se até em "melhoria de qualidade de vida", para uma via ainda problemática.

Primeiro, porque sua extensão, a RJ-100 (Estrada Velha de Maricá ou Rodovia Pref. João Sampaio) não possui avenida própria de ligação para a RJ-108 (Estrada Ewerton Xavier, rebatizada Av. Plínio Gomes de Matos Filho no trecho compartilhado com São Gonçalo).

Só existe duas ruas carroçáveis ou a constrangedora sobreposição de funções da Rodovia RJ-106, que nesse trecho acumula função de "avenida de bairro".

Já se fala muito nisso e o niteroiense médio (não falo dos que se interessariam no problema) ficam "boiando"...

...MAS, EM NITERÓI, RECAPEAR ASFALTOS, COMO NA ESTRADA CAETANO MONTEIRO, É FESTEJADO COMO SE FOSSE UMA "REVOLUÇÃO EM MOBILIDADE URBANA LOCAL".

Em Salvador, recapear asfaltos é um procedimento normal de renovação das ruas para garantir o tráfego de veículos com menos risco possível.

Está em andamento um trabalho desses na Av. Paulo VI, na Pituba.

Em Niterói, no entanto, as obras na Estrada Caetano Monteiro foram vistas com euforia exagerada, pois o trabalho, correto e necessário, é todavia apenas parte do trabalho de requalificação de um bairro, mas longe de ser a dita "repaginação" que a imprensa alardeia com muito alvoroço.

Só falta colocar um trio elétrico de axé-music para celebrar o recapeamento do asfalto das avenidas, como se isso fosse apenas o trabalho final de requalificação urbana dos bairros.

Quanta ingenuidade. E Salvador tem muitas passarelas, enquanto uma Estrada Francisco da Cruz Nunes, em Niterói, não tem uma sequer.

Perde-se tempo para atravessar ruas, e tempo é dinheiro.

Devia haver muitas passarelas na Av. Marquês do Paraná, Estrada Francisco da Cruz Nunes, Estrada Caetano Monteiro, Av. Rui Barbosa e Av. Feliciano Sodré.

Elas não ficam feias, não comprometem a paisagem, podendo serem construídas valorizando a estética, ao mesmo tempo que a funcionalidade.

Na Rua Marechal Deodoro, também devia haver um mergulhão para evitar os problemas da sinaleira com a Av. Marquês do Paraná, juntamente com a passarela para pedestres.

É um drama ir para a Ponte Rio-Niterói vindo do centro niteroiense. Nem todos vão pela Feliciano Sodré em direção à Av. do Contorno.

Mobilidade urbana, em Niterói, tem que deixar de ser uma questão de imobilidade.

Fechar olhos e ouvidos aos problemas da cidade não adianta, não traz qualidade de vida e só faz o acomodado de plantão ficar reclamando pelas costas.

Reiteramos aqui nossa espera para a desapropriação (com indenização justa aos proprietários) do terreno de Rio do Ouro e Várzea das Moças para a nova avenida.

Vamos deixar a Região dos Lagos ir e vir a Niterói pela RJ-106, que deveria abandonar a função de "avenida de bairro".

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

FUNQUEIROS, POBRES?

As notícias recentes mostram o quanto vale o ditado "Quem nunca comeu doce, quando come se lambuza". Dois funqueiros, MC Daniel e MC Ryan, viraram notícias por conta de seus patrimônios de riqueza, contrariando a imagem de pobreza associada ao gênero brega-popularesco, tão alardeada pela intelectualidade "bacana". Mc Daniel recuperou um carrão Land Rover avaliado em nada menos que R$ 700 mil. É o terceiro assalto que o intérprete, conhecido como o Falcão do Funk, sofreu. O último assalto foi na Zona Sul do Rio de Janeiro. Antes de recuperar o carro, a recompensa prometida pelo funqueiro foi oferecida. Já em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, outro funqueiro, MC Ryan, teve seu condomínio de luxo observado por uma quadrilha de ladrões que queriam assaltar o famoso. Com isso, Ryan decidiu contratar seguranças armados para escoltá-lo. Não bastasse o fato de, na prática, o DJ Marlboro e o Rômulo Costa - que armou a festa "quinta coluna" que anestesiou e en

FIQUEMOS ESPERTOS!!!!

PESSOAS RICAS FANTASIADAS DE "GENTE SIMPLES". O momento atual é de muita cautela. Passamos pelo confuso cenário das "jornadas de junho", pela farsa punitivista da Operação Lava Jato, pelo golpe contra Dilma Rousseff, pelos retrocessos de Temer, pelo fascismo circense de Bolsonaro. Não vai ser agora que iremos atingir o paraíso com Lula nem iremos atingir o Primeiro Mundo em breve. Vamos combinar que o tempo atual nem é tão humanitário assim. Quem obteve o protagonismo é uma elite fantasiada de gente simples, mas é descendente das velhas elites da Casa Grande, dos velhos bandeirantes, dos velhos senhores de engenhos e das velhas oligarquias latifundiárias e empresariais. Só porque os tataranetos dos velhos exterminadores de índios e exploradores do trabalho escravo aceitam tomar pinga em birosca da Zona Norte não significa que nossas elites se despiram do seu elitismo e passaram a ser "povo" se misturando à multidão. Tudo isso é uma camuflagem para esconder

DEMOCRACIA OU LULOCRACIA?

  TUDO É FESTA - ANIMAÇÃO DE LULA ESTÁ EM DESACORDO COM A SOBRIEDADE COM QUE SE DEVE TER NA VERDADEIRA RECONSTRUÇÃO DO BRASIL. AQUI, O PRESIDENTE DURANTE EVENTO DA VOLKSWAGEN DO BRASIL. O que poucos conseguem entender é que, para reconstruir o Brasil, não há clima de festa. Mesmo quando, na Blumenau devastada pela trágica enchente de 1983, se realizou a primeira Oktoberfest, a festa era um meio de atrair recursos para a reconstrução da cidade catarinense. Imagine uma cirurgia cujo paciente é um doente em estado terminal. A equipe de cirurgiões não iria fazer clima de festa, ainda mais antes de realizar a operação. Mas o que se vê no Brasil é uma situação muito bizarra, que não dá para ser entendida na forma fácil e simplória das narrativas dominantes nas redes sociais. Tudo é festa neste lulismo espetaculoso que vemos. Durante evento ocorrido ontem, na sede da Volkswagen do Brasil, em São Bernardo do Campo, Lula, já longe do antigo líder sindical de outros tempos, mais parecia um showm

VIRALATISMO MUSICAL BRASILEIRO

  "DIZ QUE É VERDADE, QUE TEM SAUDADE .." O viralatismo cultural brasileiro não se limita ao bolsonarismo e ao lavajatismo. As guerras culturais não se limitam às propagandas ditatoriais ou de movimentos fascistas. Pensar o viralatismo cultural, ou culturalismo vira-lata, dessa maneira é ver a realidade de maneira limitada, simplista e com antolhos. O que não foi a campanha do suposto "combate ao preconceito", da "santíssima trindade" pró-brega Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna senão a guerra cultural contra a emancipação real do povo pobre? Sanches, o homem da Folha de São Paulo, invadindo a imprensa de esquerda para dizer que a pobreza é "linda" e que a precarização cultural é o máximo". Viralatismo cultural não é só Bolsonaro, Moro, Trump. É"médium de peruca", é Michael Sullivan, é o É O Tchan, é achar que "Evidências" com Chitãozinho e Xororó é um clássico, é subcelebridade se pavoneando

FOMOS TAPEADOS!!!!

Durante cerca de duas décadas, fomos bombardeados pelo discurso do tal "combate ao preconceito", cujo repertório intelectual já foi separado no volume Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , para o pessoal conhecer pagando menos pelo livro. Essa retórica chorosa, que alternava entre o vitimismo e a arrogância de uma elite de intelectuais "bacanas", criou uma narrativa em que os fenômenos popularescos, em boa parte montados pela ditadura militar, eram a "verdadeira cultura popular". Vieram declarações de profunda falsidade, mas com um apelo de convencimento perigosamente eficaz: termos como "MPB com P maiúsculo", "cultura das periferias", "expressão cultural do povo pobre", "expressão da dor e dos desejos da população pobre", "a cultura popular sem corantes ou aromatizantes" vieram para convencer a opinião pública de que o caminho da cultura popular era através da bregalização, partindo d

ALEGRIA TÓXICA DO É O TCHAN É CONSTRANGEDORA

O saudoso Arnaldo Jabor, cineasta, jornalista e um dos fundadores do Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes (CPC - UNE), era um dos críticos da deterioração da cultura popular nos últimos tempos. Ele acompanhava a lucidez de tanta gente, como Ruy Castro e o também saudoso Mauro Dias que falava do "massacre cultural" da música popularesca. Grandes tempos e últimos em que se destacava um pensamento crítico que, infelizmente, foi deixado para trás por uma geração de intelectuais tucanos que, usando a desculpa do "combate ao preconceito" para defender a deterioração da cultura popular.  O pretenso motivo era promover um "reconhecimento de grande valor" dos sucessos popularescos, com todo aquele papo furado de representar o "espírito de uma época" e "expressar desejos, hábitos e crenças de um povo". Para defender a música popularesca, no fundo visando interesses empresariais e políticos em jogo, vale até apelar para a fal

PUBLICADO 'ESSA ELITE SEM PRECONCEITOS (MAS MUITO PRECONCEITUOSA)'

Está disponível na Amazon o livro Essa Elite Sem Preconceitos (Mas Muito Preconceituosa)... , uma espécie de "versão de bolso" do livro Esses Intelectuais Pertinentes... , na verdade quase isso. Sem substituir o livro de cerca  de 300 páginas e análises aprofundadas sobre a cultura popularesca e outros problemas envolvendo a cultura do povo pobre, este livro reúne os capítulos dedicados à intelectualidade pró-brega e textos escritos após o fechamento deste livro. Portanto, os dois livros têm suas importâncias específicas, um não substitui o outro, podendo um deles ser uma opção de menor custo, por ter 134 páginas, que é o caso da obra aqui divulgada. É uma forma do público conhecer os intelectuais que se engajaram na degradação cultural brasileira, com um etnocentrismo mal disfarçado de intelectuais burgueses que se proclamavam "desprovidos de qualquer tipo de preconceito". Por trás dessa visão "sem preconceitos", sempre houve na verdade preconceitos de cl

OS CRITÉRIOS VICIADOS DE EMPREGO

De que adianta aumentar as vagas de emprego se os critérios de admissão do mercado de trabalho estão viciados? De que adianta haver mais empregos se as ofertas de emprego não acompanham critérios democráticos? A ditadura militar completou 60 anos de surgimento. O governo Ernesto Geisel, que consolidou o Brasil sonhado pelas elites reacionárias, faz 50 anos de seu início. Até parece que continuamos em 1974, porque nosso Brasil, com seus valores caquéticos e ultrapassados, fede a mofo tóxico misturado com feses de um mês e cadáveres em decomposição.  E ainda muitos se arrogam de ver o Brasil como o país do futuro com passaporte certeiro para ingressar, já em 2026, no banquete das nações desenvolvidas. E isso com filósofos suicidas, agricultores famintos e sobrinhos de "médiuns de peruca" desaparecendo debaixo dos arquivos. Nossos conceitos são velhos. A cultura, cafona e oligárquica, só defendida como "vanguarda" por um bando de intelectuais burgueses, entre jornalist

MAIS DECEPÇÃO DO GOVERNO LULA

Governo Lula continua decepcionando. Três casos mostram isso e se tratam de fatos, não mentiras plantadas por bolsonaristas ou lavajatistas. E algo bastante vergonhoso, porque se trata de frustrações dos movimentos sociais com a indiferença do Governo Federal às suas necessidades e reivindicações. Além de ter havido um quarto caso, o dos protestos de professores contra os cortes de verbas para a Educação, descrito aqui em postagem anterior, o governo Lula enfrenta protestos dos movimentos indígenas, da comunidade científica e dos trabalhadores sem terra, lembrando que o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) já manifestou insatisfação com o governo e afirmou que iria protestar contra ele. O presidente Lula, ao lado da ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, assinou, no último dia 18, a demarcação de apenas duas terras para se destinarem a ser reservas indígenas, quando era prometido um total de seis. Aldeia Velha (BA) e Cacique Fontoura (MT) foram beneficiadas pelo document

LULA, O MAIOR PELEGO BRASILEIRO

  POR INCRÍVEL QUE PAREÇA, LULA DE 2022 ESTÁ MAIS PRÓXIMO DE FERNANDO COLLOR O QUE DO LULA DE 1989. A recente notícia de que o governo Lula decidiu cortar verbas para bolsas de estudo, educação básica e Farmácia Popular faz lembrar o governo Collor em 1991, que estava cortando salários e ameaçando privatizar universidades públicas. Lula, que permitiu privatização de estradas no Paraná, virou um grande pelego político. O Lula de 2022 está mais próximo do Fernando Collor de 1989 do que o próprio Lula naquela época. O Lula de hoje é espetaculoso, demagógico, midiático, marqueteiro e agrada com mais facilidade as elites do poder econômico. Sem falar que o atual presidente brasileiro está mais próximo de um político neoliberal do que um líder realmente popular. Eu estava conversando com um corretor colega de equipe, no meu recém-encerrado estágio de corretagem. Ele é bolsonarista, posição que não compartilho, vale lembrar. Ele havia sido petista na juventude, mas quando decidiu votar em Lul