O que assusta, no caso do "fenômeno" Jair Bolsonaro, não é exatamente o seu "favoritismo", que, sabemos, é em si uma farsa, como nas fake news de hoje.
O assustador é a farsa querer se impor à verdade, a fantasia à vida real, no caso através das urnas eleitorais.
Hoje um alto comissário da ONU em despedida de mandato - sucedido pela ex-presidenta chilena Michelle Bachelet - , Zeid Al Hussein, da Comissão de Direitos Humanos, afirmou que o discurso de Jair Bolsonaro é perigoso para o Brasil.
Ele lembrou do discurso simplista do candidato do PSL, que pode causar estragos ao Brasil a longo prazo.
"Quando as pessoas estão ansiosas, quando existem incertezas econômicas, globais ou não, ao dar uma resposta simplista e tocando nas emoções naturais das pessoas – e talvez olhando para uma liderança mais forte, firme – é uma combinação que é bastante poderosa", disse Al Hussein.
Ele acrescentou: "O perigo é que isso venha às custas de um certo grupo no curto prazo e, no longo prazo, de todo o País".
"Não é para dizer que o progresso humano foi fácil. Eu confesso que, de muitas maneiras, não entendo o pensamento conservador. Se apenas escutássemos a isso, talvez alguns de nós ainda estivéssemos em cavernas. O progresso ocorreu porque estipulamos que todos devem ter direitos iguais", concluiu.
O risco que existe é que, no Brasil, há elites que põem as leis, a ética e a coerência às favas e, com isso, são capazes de transformar causas particulares em reivindicações públicas.
O número de apoiadores de Jair Bolsonaro é bem menor do que se imagina. Não passa de 5% da população.
A "popularidade" se anabolizou de duas formas, como num doping olímpico.
Primeiro, pela multiplicação de identidades fake e pela manipulação dos algoritmos que se deu nas redes sociais, criando uma visibilidade artificial do "mito".
Segundo, pela série de persuasões e constrangimentos que muitos valentões bolsonaristas, nas redes sociais, fazem com aqueles que compartilham as comunidades existentes nessa esfera digital.
Há um terceiro aspecto, também: o pagamento de institutos de pesquisa para mostrar Bolsonaro sempre em vantagem, por mais que ele apareça ensinando criancinhas a fazer gesto de atirar em alguém, coisa que derrubaria, em condições normais, qualquer candidato.
A "gorjetinha" teria vindo de "patrocinadores" como a Centauro e a Riachuelo (RCHLO).
O "fenômeno" Jair Bolsonaro foi inflado por conta desses artifícios: manipulação eletrônica, chantagens nas redes sociais e encomenda de pesquisas.
Quanta gente não foi induzida a apoiar o "mito", sob pena de sofrer gozações nas redes sociais?
Bolsonaro não tem uma só qualidade que pudesse torná-lo atraente para o eleitorado. Nenhuma, aliás.
Até para os parâmetros mais conservadores e abertamente anti-esquerdistas, Bolsonaro não é confiável, pois é do tipo do político que começa governando pela burguesia e, depois, converte seu governo numa autocracia sem controle.
O normal é que Geraldo Alckmin, Marina Silva, Álvaro Dias e Henrique Meirelles fossem apoiados pelas classes conservadoras.
Apesar de mais exótico, Jair Bolsonaro é alguém que, potencialmente, irá pôr o Brasil a perder. Experiências com políticos semelhantes já deixaram muitos países à beira da falência.
Não dá para admitir que uma considerável parcela de brasileiros esteja disposta a tamanho masoquismo eleitoral.
O que acontece é o seguinte.
Uma minoria de valentões é que endeusa Jair Bolsonaro, por eles conhecido como "mito".
A aparente adesão se dá não pela repentina identificação com um sujeito desses, mas pela simbologia que se apresenta na aparência.
São pessoas identificadas a aspectos dominantes da vida juvenil no Brasil, ou seja, é a fachada de "juventude" que faz o brasileiro médio sentir-se seduzido, não por Jair Bolsonaro, mas pelo fato de que, à primeira vista, seus apoiadores são jovens e considerados "atraentes" e "modernos".
É uma "paisagem social" que, no momento, soa "moderna" para uma parcela de brasileiros, que aderem através do chamado "efeito manada".
Há também pessoas coagidas, forçadas a apoiar o "mito", nas comunidades das redes sociais. Sofrem um proselitismo agressivo, chantagista, cheio de ameaças.
O grande perigo, portanto, não é a "alta popularidade" de Bolsonaro, que, sabemos, é muito fake.
O perigo é justamente o poder de pressão que essa farsa pode trazer para as urnas.
Espera-se que a propaganda eleitoral que começará amanhã possa reverter essa terrível ameaça fascista.
Que os sociopatas fiquem mostrando suas valentias nas redes sociais e não cheguem o poder através de seu candidato à Presidência da República.
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