Desde 2016, as elites brasileiras passaram a sofrer uma certa psicose, ou seja, distúrbio psicológico marcado pela perda de contato com a realidade.
Passaram a ver as coisas conforme seus umbigos, sua "realidade" é o que somente é admitido por suas convicções pessoais.
Pensam agora que o Brasil, para retomar o crescimento, precisa abrir mão de sua soberania e seu patrimônio e cancelar os direitos trabalhistas. Mais psicótico que isso, impossível.
Para elas, dane-se a perplexidade do cotidiano, o legal é o "efeito manada", o "efeito morsas do Alasca", nos quais há uma estranha adesão coletiva a retrocessos.
Anteontem o Supremo Tribunal Federal, de maneira carnavalesca, aprovou a terceirização generalizada, na qual o trabalhador deixa de ser reconhecido pelo CPF e passa a ter um CNPJ, se tornando um trabalhador "sem patrão".
Enquanto os partidários da reforma trabalhista pregam a ilusão de que o Brasil se transformaria no Vale do Silício, como se trabalho intermitente e pejotização fossem produzir fortunas, a realidade mostra exatamente o contrário.
Enquanto isso, Bolsonaro conseguiu unir Andressa Urach e Márcio Garcia.
Em diferentes eventos, os dois manifestaram apoio ao "mito": Andressa nos comentários nas redes sociais, Márcio se encontrando com o ultradireitista dando abraço e um beijo no rosto bastante amigável.
Eles se juntam a uma patota que inclui o "sertanejo" Eduardo Costa e o "pagodeiro" Ferrugem (favor não confundir com o Ferrugem dos comerciais de sapatos Ortopé).
É assustador que um ícone da extrema-direita tenha tamanhas adesões, porque são pessoas de alguma forma consideradas formadoras de opinião, ainda que num contexto mais para a mídia convencional.
Mas o espetáculo que encerrou a semana foi do ministro do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, que carrega a bandeira do anti-petismo.
Barroso tentou relativizar dois artigos legais, o 26-A da Lei Complementar 135, de 04 de junho de 2010, e o 16-A da Lei 9.504 de 30 de setembro de 1997.
No Artigo 26-A, está escrito: "Afastada pelo órgão competente a inelegibilidade prevista nesta Lei Complementar, aplicar-se-á, quanto ao registro de candidatura, o disposto na lei que estabelece normas para as eleições".
No Artigo 16-A, incluído através da Lei 12.034, de 29 de setembro de 2009, e seu parágrafo único, dizem o seguinte:
"O candidato cujo registro esteja sub judice poderá efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral, inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome mantido na urna eletrônica enquanto estiver sob essa condição, ficando a validade dos votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por instância superior.
Parágrafo único. O cômputo, para o respectivo partido ou coligação, dos votos atribuídos ao candidato cujo registro esteja sub judice no dia da eleição fica condicionado ao deferimento do registro do candidato".
Em outras palavras, Barroso não quis abrir brechas para permitir a candidatura e a participação de campanha do ex-presidente Lula.
Mas Barroso fez pior, o que provocou a festa dos psicóticos do golpe político de 2016.
Ele disse que a decisão da ONU não tem efeito vinculante, "devendo ser considerada, mas não de cabo a rabo".
Ele tentou driblar as acusações de que cometeu contradição com o que havia dito antes, sob o respeito aos tratados internacionais da ONU nos quais o Brasil faz parte.
A ONU recomendou ao Brasil que autorizasse Lula a ser candidato e a participar de campanha, enquanto espera o esgotamento dos recursos jurídicos permitidos para a defesa.
A recomendação, embora pareça uma formalidade, deveria ser acatada pelas autoridades e juristas brasileiros, até para respeitar a soberania das Nações Unidas.
Todavia, o Brasil desobedece à recomendação, vinda do Comitê de Direitos Humanos. Barroso ainda disse que a decisão da ONU foi proferida apenas "por dois dos 18 integrantes do comitê".
Barroso é também relator dos 16 pedidos de impugnação contra Lula, três deles vindos de reacionários notórios, como Kim Kataguiri, Alexandre Frota e o próprio Jair Bolsonaro.
Barroso se comportou de maneira arrogante e melodramática, mencionou o nome de Alexandre Frota algumas vezes e alegou que as instituições brasileiras "estão funcionando".
Ele foi o primeiro a votar dos ministros do TSE que julgam a candidatura de Lula. O julgamento ainda está em andamento, assim como as respectivas votações.
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