OTÁVIO FRIAS FILHO (E), RECÉM-FALECIDO, E JOÃO ROBERTO MARINHO.
É notória a parceria entre as Organizações Globo e a Folha de São Paulo para "desenhar" a cultura popular brasileira de acordo com seus interesses.
A bregalização já ocorria nos rincões do coronelismo latifundiário e no mercado associado na cidade de São Paulo, desde, pelo menos, os anos 1960.
Mas nada ocorreu de forma tão intensa quando os Frias e os Marinho se armaram de maneira estratégica para consagrar o "popular demais" e estabelecer a supremacia absoluta do brega-popularesco, já sonhada desde a ditadura militar.
A popularização do "funk", carro-chefe dessa campanha, se deu a partir da imaginação fértil de Otávio Frias Filho.
Ele imaginou ser possível criar um discurso que transformasse um ritmo dançante comercial numa pretensa vanguarda cultural, e Folha e Globo atuaram juntas para consagrar o "funk".
Vamos para 2001, quando se começou toda a campanha.
Bem antes do proselitismo inserido na imprensa de esquerda (Caros Amigos, Fórum e Carta Capital, entre outros), reportagens a favor do "funk" eram publicadas em primeira página pela Ilustrada e pelo Segundo Caderno de O Globo.
Nessa época, personalidades conhecidas como Alexandre Frota, hoje bolsonarista, e Luciano Huck, atuavam no apoio ao "funk", blindado também por Pedro Alexandre Sanches quando ele era um "empregado-colega" de Tavinho Frias.
A Globo empurrava o "funk" em tudo quanto era veículo e atração. Do Caldeirão do Huck ao seriado Sob Nova Direção. Da revista Quem Acontece ao canal educativo Futura. Do Globo Esporte à novela das nove.
Era projeção demais para se julgar que "funk" e Globo tinham relações conflituosas de enfrentamento, por parte daquele, e apropriação, por parte desta. Ambos pareciam felizes numa cumplicidade que saltava aos olhos, embora muitos fizessem vista grossa nisso.
Frias e Marinho trabalharam o "funk" em duas frentes, como carro-chefe de uma campanha que valeria também para outros estilos da música brega-popularesca ou para expressões não-musicais associadas a esse universo do "popular de mercado".
Frias dava um verniz "intelectual" no "funk", e recomendava aos ideólogos usarem uma linguagem acessível, porém sofisticada, na propaganda do gênero.
Assim, recursos discursivos como a História das Mentalidades, de Marc Bloch - que narrava a história por personagens não-famosos - , e o Novo Jornalismo, de Tom Wolfe - que escrevia reportagens como se fossem romances literários - eram usados para "enobrecer" o discurso.
Se Otávio Frias Filho procurava fazer as elites tidas como intelectualizadas adotarem o "funk", abrindo caminho para os "bailes da Favorita" de hoje, João Roberto Marinho buscava transformar o "funk" na "cultura popular (sic) por excelência".
Jornalistas, atores e cantores associados iam para a trincheira adversária, não raro como contratados, para fazer proselitismo às esquerdas, com aquela famosa choradeira do "combate ao preconceito".
Claro que não dava para "combater o preconceito" defendendo tendências do entretenimento e da música que viam o povo pobre de maneira preconceituosa.
Só o "funk", por exemplo, evocava o machismo, defendia a objetificação do corpo feminino e fazia glamourização da pobreza e da ignorância popular.
Mas o discurso funcionou, dada a visibilidade de seus pregadores diante dos meios intelectuais.
A Folha buscava, portanto, melhorar a reputação do "funk" e a Globo, aumentar sua popularidade, num trabalho bastante articulado e integrado.
A ideia é que, com isso e com a consagração do "popular demais", as esquerdas se debilitassem com o enfraquecimento da cultura popular brasileira.
Os ataques hidrófobos à MPB autêntica eram uma forma de evitar que se repetisse a campanha trazida pelos festivais da canção, que quase puseram a ditadura militar a perder.
No caso dos governos Lula e Dilma, a atuação da Globo e Folha na bregalização cultural criou um "paradigma" de "cultura popular" que se tornou totalitário.
As esquerdas morderam a isca, sob o rótulo de "cultura das periferias", ignorando que "periferia", neste caso, vinha do vocabulário de Fernando Henrique Cardoso trazido por Otávio Frias Filho.
O caso Zezé di Camargo & Luciano foi outro que envolveu o proselitismo às esquerdas, quando a campanha pelo "popular demais" se intensificou, em 2005.
Pouco importa se a biografia dramatizada da dupla goiana era co-produção da Globo Filmes. O proselitismo se dava porque a dupla votou em Lula, e até o voto dos dois irmãos para Ronaldo Caiado recebia vista grossa das esquerdas médias.
Outro filme, o documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda, da ex-RBS Denise Garcia, é outra co-produção da Globo, mas esta não foi creditada para evitar acusações de monopólio e a película saiu oficialmente como "produção independente".
As esquerdas morderam a isca do "popular demais" ignorando que, nas redes sociais, quem mais defende seus ídolos são os sociopatas, que hoje defendem Jair Bolsonaro para presidente da República.
Com tantas manobras se tornando bem-sucedidas, "coincidentemente" durante todos os governos do PT, os "parças" João Roberto Marinho e Otávio Frias Filho conseguiram deixar a verdadeira cultura brasileira longe dos próprios brasileiros.
O que temos como "cultura popular" é um engodo comercial e sensacionalista que trabalha de maneira piegas valores moralistas, libertinos, grotescos ou piegas.
Por sorte, muitos desses valores não foram devidamente reconhecidos por setores das esquerdas, que erroneamente acreditaram que o brega que fazia sucesso na ditadura militar era o suprassumo do combativismo sócio-cultural de esquerda.
Com a isca mordida, Dilma saiu do poder, após a confusa onda de "rolezinhos", inserções de "funk" e "pagode" em questões escolares e multidões de mulheres siliconadas "mostrando demais" sem motivo.
Essa onda toda valeu mais do que as ações do Movimento Brasil Livre (Movimento Me Livre do Brasil). Aliás, elas motivaram as ações do MBL.
Quem seria Kim Kataguiri se não fossem os "rolezinhos do funk"? E que sentido teria Ju Isen se não fossem as mulheres-frutas? E os "pensadores fake" Valesca e Márcio Victor nas questões escolares, abrindo caminho para a reivindicação da Escola Sem Partido?
Diante disso, infelizmente o plano de João Roberto Marinho e Otávio Frias Filho deu certo, com as esquerdas desavisadas aceitando o "popular demais" confundindo-o com folclore.
Segue a mensagem que João Roberto Marinho deu ao falecido jornalista da Folha de São Paulo, publicada no portal G1:
"Convivi cerca de trinta anos com Otavio Frias Filho. Em todo esse período, pude testemunhar sua paixão por um jornalismo técnico, que levasse ao público os fatos com a maior correção possível, sempre num espírito plural. Foi um vitorioso naquilo que traçou para a Folha de S. Paulo e deixa um legado de realizações. Quero destacar o lado pessoal. Firme em suas posições, nunca abandonou seu jeito gentil, de saber ouvir, de se interessar pelo que o outro dizia, mesmo se discordasse. E um aspecto cada vez mais raro nos dias de hoje: apesar da posição de destaque, sempre preferiu a discrição, qualidade dos que sabem que a obra diz mais do que o homem. Fará muita falta, mas os alicerces que plantou dão a certeza de que a Folha seguirá sua trajetória de êxitos. Nesse instante, em nome do Grupo Globo, expresso nossos sentimentos à família e aos colegas da Folha".
É notória a parceria entre as Organizações Globo e a Folha de São Paulo para "desenhar" a cultura popular brasileira de acordo com seus interesses.
A bregalização já ocorria nos rincões do coronelismo latifundiário e no mercado associado na cidade de São Paulo, desde, pelo menos, os anos 1960.
Mas nada ocorreu de forma tão intensa quando os Frias e os Marinho se armaram de maneira estratégica para consagrar o "popular demais" e estabelecer a supremacia absoluta do brega-popularesco, já sonhada desde a ditadura militar.
A popularização do "funk", carro-chefe dessa campanha, se deu a partir da imaginação fértil de Otávio Frias Filho.
Ele imaginou ser possível criar um discurso que transformasse um ritmo dançante comercial numa pretensa vanguarda cultural, e Folha e Globo atuaram juntas para consagrar o "funk".
Vamos para 2001, quando se começou toda a campanha.
Bem antes do proselitismo inserido na imprensa de esquerda (Caros Amigos, Fórum e Carta Capital, entre outros), reportagens a favor do "funk" eram publicadas em primeira página pela Ilustrada e pelo Segundo Caderno de O Globo.
Nessa época, personalidades conhecidas como Alexandre Frota, hoje bolsonarista, e Luciano Huck, atuavam no apoio ao "funk", blindado também por Pedro Alexandre Sanches quando ele era um "empregado-colega" de Tavinho Frias.
A Globo empurrava o "funk" em tudo quanto era veículo e atração. Do Caldeirão do Huck ao seriado Sob Nova Direção. Da revista Quem Acontece ao canal educativo Futura. Do Globo Esporte à novela das nove.
Era projeção demais para se julgar que "funk" e Globo tinham relações conflituosas de enfrentamento, por parte daquele, e apropriação, por parte desta. Ambos pareciam felizes numa cumplicidade que saltava aos olhos, embora muitos fizessem vista grossa nisso.
Frias e Marinho trabalharam o "funk" em duas frentes, como carro-chefe de uma campanha que valeria também para outros estilos da música brega-popularesca ou para expressões não-musicais associadas a esse universo do "popular de mercado".
Frias dava um verniz "intelectual" no "funk", e recomendava aos ideólogos usarem uma linguagem acessível, porém sofisticada, na propaganda do gênero.
Assim, recursos discursivos como a História das Mentalidades, de Marc Bloch - que narrava a história por personagens não-famosos - , e o Novo Jornalismo, de Tom Wolfe - que escrevia reportagens como se fossem romances literários - eram usados para "enobrecer" o discurso.
Se Otávio Frias Filho procurava fazer as elites tidas como intelectualizadas adotarem o "funk", abrindo caminho para os "bailes da Favorita" de hoje, João Roberto Marinho buscava transformar o "funk" na "cultura popular (sic) por excelência".
Jornalistas, atores e cantores associados iam para a trincheira adversária, não raro como contratados, para fazer proselitismo às esquerdas, com aquela famosa choradeira do "combate ao preconceito".
Claro que não dava para "combater o preconceito" defendendo tendências do entretenimento e da música que viam o povo pobre de maneira preconceituosa.
Só o "funk", por exemplo, evocava o machismo, defendia a objetificação do corpo feminino e fazia glamourização da pobreza e da ignorância popular.
Mas o discurso funcionou, dada a visibilidade de seus pregadores diante dos meios intelectuais.
A Folha buscava, portanto, melhorar a reputação do "funk" e a Globo, aumentar sua popularidade, num trabalho bastante articulado e integrado.
A ideia é que, com isso e com a consagração do "popular demais", as esquerdas se debilitassem com o enfraquecimento da cultura popular brasileira.
Os ataques hidrófobos à MPB autêntica eram uma forma de evitar que se repetisse a campanha trazida pelos festivais da canção, que quase puseram a ditadura militar a perder.
No caso dos governos Lula e Dilma, a atuação da Globo e Folha na bregalização cultural criou um "paradigma" de "cultura popular" que se tornou totalitário.
As esquerdas morderam a isca, sob o rótulo de "cultura das periferias", ignorando que "periferia", neste caso, vinha do vocabulário de Fernando Henrique Cardoso trazido por Otávio Frias Filho.
O caso Zezé di Camargo & Luciano foi outro que envolveu o proselitismo às esquerdas, quando a campanha pelo "popular demais" se intensificou, em 2005.
Pouco importa se a biografia dramatizada da dupla goiana era co-produção da Globo Filmes. O proselitismo se dava porque a dupla votou em Lula, e até o voto dos dois irmãos para Ronaldo Caiado recebia vista grossa das esquerdas médias.
Outro filme, o documentário Sou Feia Mas Tô Na Moda, da ex-RBS Denise Garcia, é outra co-produção da Globo, mas esta não foi creditada para evitar acusações de monopólio e a película saiu oficialmente como "produção independente".
As esquerdas morderam a isca do "popular demais" ignorando que, nas redes sociais, quem mais defende seus ídolos são os sociopatas, que hoje defendem Jair Bolsonaro para presidente da República.
Com tantas manobras se tornando bem-sucedidas, "coincidentemente" durante todos os governos do PT, os "parças" João Roberto Marinho e Otávio Frias Filho conseguiram deixar a verdadeira cultura brasileira longe dos próprios brasileiros.
O que temos como "cultura popular" é um engodo comercial e sensacionalista que trabalha de maneira piegas valores moralistas, libertinos, grotescos ou piegas.
Por sorte, muitos desses valores não foram devidamente reconhecidos por setores das esquerdas, que erroneamente acreditaram que o brega que fazia sucesso na ditadura militar era o suprassumo do combativismo sócio-cultural de esquerda.
Com a isca mordida, Dilma saiu do poder, após a confusa onda de "rolezinhos", inserções de "funk" e "pagode" em questões escolares e multidões de mulheres siliconadas "mostrando demais" sem motivo.
Essa onda toda valeu mais do que as ações do Movimento Brasil Livre (Movimento Me Livre do Brasil). Aliás, elas motivaram as ações do MBL.
Quem seria Kim Kataguiri se não fossem os "rolezinhos do funk"? E que sentido teria Ju Isen se não fossem as mulheres-frutas? E os "pensadores fake" Valesca e Márcio Victor nas questões escolares, abrindo caminho para a reivindicação da Escola Sem Partido?
Diante disso, infelizmente o plano de João Roberto Marinho e Otávio Frias Filho deu certo, com as esquerdas desavisadas aceitando o "popular demais" confundindo-o com folclore.
Segue a mensagem que João Roberto Marinho deu ao falecido jornalista da Folha de São Paulo, publicada no portal G1:
"Convivi cerca de trinta anos com Otavio Frias Filho. Em todo esse período, pude testemunhar sua paixão por um jornalismo técnico, que levasse ao público os fatos com a maior correção possível, sempre num espírito plural. Foi um vitorioso naquilo que traçou para a Folha de S. Paulo e deixa um legado de realizações. Quero destacar o lado pessoal. Firme em suas posições, nunca abandonou seu jeito gentil, de saber ouvir, de se interessar pelo que o outro dizia, mesmo se discordasse. E um aspecto cada vez mais raro nos dias de hoje: apesar da posição de destaque, sempre preferiu a discrição, qualidade dos que sabem que a obra diz mais do que o homem. Fará muita falta, mas os alicerces que plantou dão a certeza de que a Folha seguirá sua trajetória de êxitos. Nesse instante, em nome do Grupo Globo, expresso nossos sentimentos à família e aos colegas da Folha".
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