O que aconteceu com a cultura rock? Virou uma coisa qualquer nota?
O Whiplash publicando fofocas, os órfãos da Fluminense FM complacentes com a canastrice da Rádio Cidade, Mamonas Assassinas e Guns N'Roses promovidos a "clássicos do rock".
Por outro lado, bandas seminais de rock, como Buzzcocks, XTC e Ride se tornam irremediavelmente desconhecidas, enquanto o Sul e Sudeste só há pouco tempo começou a conhecer Stooges, New York Dolls e Velvet Underground.
E ainda tem o roqueiro de direita, originalmente um subproduto da jovempanaquice da 89 FM e Rádio Cidade nos anos 1990-2000, mas que praticamente cresceu até entre uma parcela de "autênticos".
E tem também o fanatismo do futebol, falsamente tido como "esporte rock'n'roll" mesmo quando 99,99% dos jogadores de futebol torcem o nariz para esse gênero musical.
Rádios que se dizem de rock deixam de ter até programas de música alternativa ou de clássicos do rock (repetindo: clássicos do rock, e NÃO flashback de hits roqueiros), mas tem seus programas de futebol que misturam fórmulas do Pânico da Pan e do Globo Esporte.
E agora vemos a Kiss FM lembrando dos 30 anos de morte de Ramon Valdez, o Seu Madruga do seriado Chaves.
Com todo o respeito a Valdez e a todo o elenco do humorístico mexicano, mas o que o seriado Chaves (no original, se chama "El Chavo Del Ocho") tem a ver com rock'n'roll?
Nada, diga-se de passagem.
Não se está aqui querendo que o roqueiro adote a velha atitude "jaquetão", mas existem limites para ampliar as fronteiras, sob o risco de sair da rota roqueira.
É isso que ocorre quando se fala em futebol ou em humorísticos não-roqueiros.
Desde que os Sobrinhos do Ataíde - que não soaria estranho numa Jovem Pan ou Energia 97 - foram vinculados sem motivação alguma ao rock, o público roqueiro passou a ver na cultura rock uma grande piada.
No breve período em que a Rádio Cidade estava nos 102,9 mhz, os "roqueiros de Facebook" só queriam saber de programa de piadas, como o Hora dos Perdidos e o Rock Bola.
Rock, como música, era algo qualquer nota: o pessoal não fazia a menor diferença entre Foo Fighters e Limp Biskit, Travis e Muse, Red Hot Chili Peppers e Faith No More e aceitavam ouvir uma hora de nu metal alternando vocalistas com sono e outros com diarreia.
Francamente, há 35 anos eu via o pessoal que curtia rock e, em que pese um certo provincianismo, havia um pouco mais de visceralidade e coerência cultural.
Mas hoje o roqueiro está mais convencional, culturalmente anti-roqueiro, e só canaliza sua rebeldia de fachada para disparar reacionarismo extremo nas redes sociais.
São esses "roqueiros de Facebook" que gostam mais de piada do que de rock que querem botar Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto. Fico com pena da cultura rock no Brasil ter chegado a esse nível.
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