Vamos combinar que o “momento mágico” do Lulismo 3.0, lutando para sair triunfante em 2026, não envolve absolutamente todo o povo brasileiro, mas uma elite híbrida composta entre os prósperos do fim da fase petista de 2003-2016 que sobreviveram quase imunes ao inverno golpista de 2016-2022, mais as classes abastadas e mesmo grande parte da direita moderada que se repaginou para ocultar seu passado direitista.
Atualmente compondo a elite do bom atraso, essa classe pode ser definida, em sentido lato, na burguesia ilustrada que, através de Lula, pretende se projetar para o mundo, “substituindo” o povo brasileiro e transformando o Brasil no parque de diversões do planeta.
A burguesia ilustrada ou burguesia de chinelos está vivendo a plenitude. Descendente das velhas famílias que defenderam o golpe militar de 1964 junto a alguns setores populares que receberam as benesses a partir do “milagre brasileiro” de 1969-1974, a atual classe dirigente hoje vê a oportunidade de dominar o mundo por intermédio do atual cenário político no nosso país.
“Superior” dentro do território nacional, a burguesia ilustrada ainda possui reputação subalterna em relação ao Primeiro Mundo. Mal consegue obter alguma prosperidade na condição de turistas ou imigrantes. Por isso, temos que compreender a complexidade da situação e ver como não é estranho os netos da geração que derrubou João Goulart em 1964 agora estarem desesperados pela realização da reeleição de Lula.
Por isso o momento de e ser entendido com cautela. Não se trata de todo o povo brasileiro, sobretudo os excluídos, que passarão a reinar o mundo, com o Brasil transformado em país desenvolvido, mas na ascensão de uma elite brasileira que apenas quer conquistar espaços estrangeiros através de uma alta reputação que somente Lula tem a condição de encampar.
Daí que a burguesia ilustrada tem muito medo de ser inferiorizada, caso a reeleição de Lula não se concretize. Teme que um presidente do nível de Ciro Gomes pu Tarcísio de Freitas possam pensar internamente, sem a pompa espetacular de Lula e seu governo de contos de fadas. O risco de ver governantes que, mesmo com seus limites ideológicos, possam fazer o povo pobre ter uma realidade menos ruim em vez do Brasil voar nas nuvens no sonho fantástico de Lula faz a elite ficar apreensiva.
Se não for pelo governo Lula, quem poderá viver como um turista dentro do próprio país e, ao mesmo tempo, receber tratamento VIP como turista no exterior? A presença de Lula no governo pouco irá influir na situação dos sem-teto ou do campesinato, mas faz e fará diferença para o burguês descolado que se acha cidadão do mundo e vê sua chance de ter protagonismo pleno.
Daí o medo dos netos das elites conservadoras do passado, capazes de derrubar governos de esquerda, tomarem postura diferente. Até porque a elite do bom atraso sabe muito bem que sua classe é mão fechada, e seus representantes na política nada vão fazer para ajudar a própria burguesia de chinelos. Lula, sim, é que, generoso, é capaz de servir de mordomo para essa aristocracia bronzeada se pavonear mundo afora.
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