As chuvas que aconteceram recentemente em Salvador, que incluíram o deslizamento de uma área em Bom Juá, bairro localizado junto ao entorno do Retiro e de parte da rodovia BR-324 (Salvador-Feira de Santana), causando 15 mortes e vários feridos e desabrigados, põem a sociedade a pensar.
Bom Juá viveu outras tragédias semelhantes, e a cidade de Salvador várias vezes sofre intensos alagamentos toda vez que ocorrem chuvas como esta. Já vi áreas do Stiep, Vasco da Gama, Bonocô e Bonfim seriamente atingidas por alagamentos. Até o Hospital Santo Antônio, um dos legados de Irmã Dulce, foi lamentavelmente castigado pelas águas.
O problema em Salvador não é único no Brasil. E muito comum em várias cidades. Mesmo Niterói sofre os mesmos problemas com chuvas intensas, há cinco anos houve o deslizamento do Morro do Bumba, no entorno de Viçoso Jardim, e 53 pessoas morreram. Áreas como o Jardim Icaraí, a Av. Ari Parreiras e até o Centro sofrem com alagamentos.
Dois malefícios contribuem para isso. Primeiro, é o sistema de saneamento e esgoto que ainda precisam ser reformados, já que seus padrões ainda são antigos, a estrutura existente não permite o escoamento de água nem de esgoto. Canais transbordam a cada temporal, e isso causa muitos transtornos para a população.
A desfavelização com o aproveitamento racional de áreas ociosas ou de prédios ou apartamentos inutilizados para transferir os favelados para residências novas ou inutilizadas deveria ser uma das prioridades dos políticos, que se preocupam mais com a atitude nociva de querer fardar ônibus e botar os logotipos de seus governos, sob a desculpa de dividir pintura com consórcios, áreas ou serviços.
É como uma criança que brinca de carrinho, cola adesivo neles e esquece de fazer o dever de aula. E é irritante saber que as autoridades discursem dando a impressão de que farão tudo e que apreciarão sugestões e críticas, como se eles garantissem que cumprirão amanhã aquilo que deveriam ter feito ontem.
A desfavelização é o imperativo da reestruturação urbana das cidades. É substituir cautelosamente as casas improvisadas que correspondem à "terceirização da Moradia", por casas populares ou ocupação em apartamentos vazios ou prédios ociosos.
Isso não se dá apenas pelo espetáculo demagógico dos condomínios populares que só servem para "lavar dinheiro sujo" de empreiteiras. É preciso que se criem um plano permanente de deslocamento dos moradores das favelas para novas construções ou prédios ociosos, demolindo as áreas de favelas para nelas criarem novos espaços urbanos.
Poderia haver um deslocamento inteligente, construindo novos prédios em áreas ociosas, e transferindo os moradores de determinadas áreas, que seriam demolidas. Em muitos casos, haverá economia de espaço, porque cinco prédios de cinco andares correspondem a uma média de dois quarteirões de favelas.
A desfavelização também seria uma forma de permitir o reflorestamento, o que criaria uma reestruturação ecológica que iria refletir na temperatura e criar um maior equilíbrio meteorológico, com a recuperação do meio ambiente afetado pela construção de favelas.
A desfavelização e a reestruturação do saneamento e do esgoto são cruciais para que as cidades evitem transtornos como os causados pelas fortes chuvas e que tantas tragédias causam. E isso tem que ser prioridade e não conversa mole de propaganda política.
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