"Se eu sou mais inteligente que vc, então tu tá ferrado ou tá com inveja", diria um típico internauta brasileiro ao pesquisador Matthew Fisher, do Departamento de Psicologia da Universidade de Yale (EUA), ameaçando-o de trolagem, se caso se informasse do estudo que o acadêmico coordenou sobre uso de Internet.
Segundo constata a pesquisa, a Internet faz as pessoas pensarem que são mais inteligentes do que realmente são, até pelo modo que as pessoas pouco perceberem que, num meio marcado pela sobrecarga de informações, elas têm que pesquisar muitas vezes para terem noção de alguma coisa.
Quando as pessoas estão fora da Internet, segundo Fisher, elas recorrem a livros, jornais ou demais documentos, o que se torna um esforço mais perceptível, dando-lhes consciência de que não são tão inteligentes e que por isso precisam consultar alguma coisa.
Na Internet, essa pesquisa é quase imperceptível, diante da velocidade do fluxo de informações que faz as pessoas consultarem rapidamente páginas como o Wikipedia ou os dicionários virtuais sem que tenham consciência de que fazem essa consulta. Com isso, a sobrecarga de informações lhes dá a falsa impressão de inteligência, o que é uma ilusão.
No Brasil, então, a coisa chega ao ponto da arrogância. Nas mídias sociais, é muito comum haver internautas que pensam que "nasceram inteligentes". Estes são os mais estúpidos e são também os que mais reagem com violência e sarcasmo na Internet.
Se nos EUA existem casos de bobagens transmitidas nas mídias sociais como se fossem "conhecimento", no Brasil isso se torna ainda mais extremo, sobretudo diante de uma demanda reacionária (da enrustida à escancarada) que acha que sabe de tudo quando, em verdade, não sabe sequer 1% daquilo que pensa saber.
As pessoas tentam dar a impressão que sabem de tudo: de Sociologia a Cultura Rock. Ou, pelo menos, tudo que não corresponde às Ciências Exatas, porque aí é ficar decorando fórmulas difíceis que deixarão o internauta trololó cansado de tanto raciocinar, prática que ele odeia muito, porque "já é inteligente" e "não precisa" pensar.
E aí vem um texto de Menalton Braff, na Carta Capital, falando da banalização da opinião, do exagero em considerar como "conhecimento" muitas bobagens e mentiras publicadas na Internet. Que todo mundo tenha opinião sobre tudo, é saudável, mas levar certas tolices como "conhecimento" é uma coisa preocupante.
O pior é quando, no terreno das teorias conspiratórias, são "armazenadas" hipóteses verídicas que apenas são jogadas à margem por se opuserem às versões oficiais, mais aceitas (quase que por unanimidade), mais respaldadas, porém extremamente mentirosas, porque quem as espalhou é dotado de algum grande status ou um enorme privilégio de visibilidade.
Aí é que a coisa piora de vez, porque os argumentos mais consistentes encontram no "pântano" das teorias conspiratórias um exílio na medida em que as hipóteses oficiais, mais aceitas e apoiadas, porém mais mentirosas, valem devido ao status quo de alguém, a alguma visibilidade ou a alguma prevalência de um jogo de interesses.
Infelizmente, os primeiros quinze anos de Internet foram marcados pela predominância de abordagens nem sempre coerentes dos fatos, e só com muito esforço - e diante de ameaças de trolagem, cyberbullying e até de blogues ofensivos que trabalhosamente são denunciados para o SaferNet - vira-se o jogo para prevalecer visões mais realistas de coisas e fatos.
Aqui infelizmente há a predominância da estupidez, e certamente o professor Matthew Fisher seria "fritado" nas mídias sociais, chamado de "idiota" para baixo, só porque disse que os internautas são menos inteligentes do que pensam. Apesar das melhorias, a estupidez de alguns internautas, que se autoproclamam "inteligentes" por nada, mantém seus focos de resistência na Internet brasileira.
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