Certos "profetas" das novas mídias digitais chegam a superestimar a crise vivida pela mídia corporativa e acham agora que só vai imperar os tabletes e os e-Books. Ficam festejando o encalhe dos jornalões e das revistonas como se o papel impresso, seja o papel jornal e o papel cuchê das revistas, fosse cúmplice dos barões da grande mídia.
Grande engano. O papel impresso é apenas um funcionário da grande mídia, ele apenas recebe as palavras que vêm das mentes dos porta-vozes do baronato midiático. Mas aí vem alguns blogues das esquerdas médias destilando ódio ao papel impresso e achando que a morte da grande mídia passa necessariamente pelo fim do papel impresso.
Nada disso. A grande mídia, seus barões e seus porta-vozes, estão mergulhando direto nas novas mídias digitais. Eles têm blogues, seus portais têm versões para tablete e celulares, o neolibelês passou a ter dialetos cibernéticos e coisa e tal.
Mas aí a blogosfera de esquerda, bem intencionada mas um tanto ingênua, acha que o baronato midiático aderiu "tardiamente" à tecnologia digital e entrou para perder, porque a Internet blablablá. Não é assim. Claro que somos o contraponto da grande mídia, mas achar que ganhamos a batalha tem um quê de ingenuidade.
Além disso, se esses blogues se acham triunfantes porque recebem dinheiro do Governo Federal, o baronato midiático é financiado por empresas estrangeiras. O suporte dos barões da grande mídia é muito maior, e eles, infelizmente, têm condições para sobreviver sem o "vilão" papel impresso, que talvez se torne o bode expiatório de todos os pecados da urubologia.
Mas eis que Eric Hobsbawm, falecido há três anos, escreveu um trecho sobre a sobrevivência do papel impresso que certamente os "profetas das novas mídias" se esqueceram, ou talvez tenham usado tabletes demais, já que o tablete é o reduto da patinação digital, com e-Books lidos às pressas e o pessoal patinando em botões de Curtir e da letra "K".
Eric Hobsbawm não foi um porta-voz de Veja nem um consolador de baronetes midiáticos vendo as rotativas comerem dinheiro demais e vomitarem papel de menos. Ele foi um intelectual de esquerda, dos mais lúcidos e experientes, e sabia do que estava falando quando citou a sobrevida do papel, tomando como exemplo o livro. Escreveu ele em Tempos Fraturados, um dos seus últimos livros:
"A rigor, eu quase diria que - apesar dos prognósticos pessimistas - o mais importante veículo tradicional da literatura, o livro impresso, sobreviverá sem grande dificuldade, com poucas exceções, como as dos grandes livros de referencia, léxicos, dicionários etc, os queridinhos da Internet. Em primeiro lugar, não há nada mais fácil e prático de ler do que o livro de bolso pequeno, portátil e claramente impresso inventado por Aldus Manutius em Veneza no século XVI - muito mais fácil e prático do que a cópia impressa de um texto de computador, que, a propósito, é incomparavelmente mais fácil de ler do que o tremeluzente texto na tela. Nem mesmo o e-book baseia suas reivindicações numa legibilidade superior, e sim numa maior capacidade de armazenamento e no fato de não ser preciso virar páginas.
Em segundo lugar, o papel impresso é, até a presente data, mais durável do que veículos tecnologicamente mais avançados. A primeira edição de Os Sofrimentos do Jovem Werther ainda hoje é legível, mas textos de computador de trinta anos atrás já não o são necessariamente, seja porque - como velhos filmes e fotocópias - têm prazo de validade limitado, seja porque a tecnologia é tão rapidamente superada que os computadores mais recentes não os conseguem ler mais. O progresso triunfal do computador não acabará com o livro, assim como o cinema, o rádio, a televisão e outras novidades tecnológicas não o fizeram".
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