O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, determinou a prisão do ex-presidente e empresário Fernando Collor de Mello por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em contratos com a antiga BR Distribuidora, hoje Vibra. A defesa tentou impedir a realização da sentença, mas Moraes decidiu pelo ato, realizado na madrugada de ontem, no Aeroporto de Maceió, Alagoas. Collor não ofereceu resistência.
A iniciativa ocorreu num momento em que dois fatos de impacto na vida política nacional ocorreram: o agravamento da saúde de Jair Bolsonaro, após uma cirurgia, devido ao aumento da pressão arterial, e o escândalo das fraudes do INSS que levou o governo Lula a demitir o presidente do instituto, Alessandro Stefanutto, gerando crise entrevo presidente da República e o ministro da Previdência Social, Carlos Lupi.
A simbologia da prisão de Fernando Collor nos põe a pensar nesse culturalismo que se deu nos últimos anos. Collor reinventou o sistema de valores socioculturais que prevaleceu na Era Geisel, a ponto de empurrá-los para as esquerdas, no breve período em que o “marajá das Alagoas” apoiava Lula e foi comparado pelos idiotas nas redes sociais - quando o Orkut fazia o papel que o Facebook faz hoje - ao ex-presidente Juscelino Kubitschek. Só depois Collor tornou-se apoiador, com gosto, de Jair Bolsonaro.
Foi a partir de Collor que tomou forma o sistema de concessões políticas que José Sarney e Antônio Carlos Magalhães fizeram nos anos 1980, transformando os sistemas de rádio e TV em verdadeiros latifúndios eletrônicos, com direito a um casamento entre o jabaculê de FM e a corrupção do futebol através das jornadas esportivas.
Collor fortaleceu e promoveu o crescimento vertiginoso da música brega-popularesca, ao receber cantores de breganejo e sambrega do nível de Chitãozinho & Xororó - do sucesso pseudocult “Evidências’ - e Alexandre Pires. Mas mesmo o “funk” também foi patrocinado por políticos solidários a Collor no Rio de Janeiro, junto com as Organizações Globo que ajudaram a eleger o então presidente. A axé-music também deve muito ao astral “collorido” e “globalizado” pelo seu crescimento na época.
O governo Collor também empoderou a Faria Lima, avenida nobre de São Paulo que é reduto do empresariado descolado, que na onda do ecstasy, droga importada das raves britânicas, criou um eufemismo para essa pílula alucinógena: “bala”. A festa que resultou desse eufemismo ganhou o nome de “balada”, que o mercado de boates, lamentavelmente, impôs ao grande público em geral como a “gíria do Terceiro Reich”, uma expressão pretensamente “acima dos tempos, dos espaços e das tribos”.
Mas a Faria Lima queria mais, e a cultura rock, depois de aparecer e crescer nos anos 1980, passou a sentar no colo do empresariado da famosa avenida do Itaim Bibi nos anos 1990. Collor injetou dinheiro na 89 FM, A Rádio Rockefeller, cujos donos são a temível família Camargo, apoiadora da ditadura militar e mandatária da elite empresarial paulista. Que rebeldia roqueira sairá se até um tiozão roqueiro fica babando no paletó de João Camargo é que não dá para entender.
E ainda tem o dado religioso. Fernando Collor foi o único candidato presidencial que um festejado “médium” de Uberaba apoiou abertamente. Este charlatão tido como “símbolo da caridade” - que mais humilhava os pobres e jogava famílias umas contra as outras do que ajudava o próximo (se é que chegou a ajudar) - só não viveu para apoiar a candidatura de Aécio Neves (que foi só em 2014), por quem o religioso sentia uma paixão mútua e muito bem correspondida. Tão visionário e tido como “profeta”, o “médium” deixou a máscara cair, com boina, peruca, óculos escuros e tudo, ao se tornar incapaz de prever que seus ídolos políticos seriam tidos como farsantes, por sinal uma qualidade compartilhada pelo dito “espírito de luz”.
Diante disso, como ficará todo esse culturalismo com a prisão e, depois, o inferno astral de seu mecenas das Alagoas? A burguesia ilustrada vai ter que descartar um anel para preservar esses dedos. Só que esses dedos estão muito apodrecidos para durar até a posteridade.
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