
LULA VIROU O ÍDOLO DA BURGUESIA ILUSTRADA.
A elite do atraso, depois de uma longa trajetória que começou desde os exterminadores de indígenas do Brasil colonial e passou por senhores de engenhos escravistas, pelas oligarquias trapaceiras da República Velha e pelos golpistas de 1964 e 2016, se viu numa enrascada.
Indo demais no seu reacionarismo, a elite do atraso via perder seus privilégios quando, “experimentando” eleger Jair Bolsonaro, viram ele perder o controle quando seu governo virou uma farra privativa de bolsonaristas em geral e de neopentecostais e milicianos em particular.
A burguesia ilustrada viu que Jair Bolsonaro deixou de ser o mero guardião dos privilégios das elites para saciar a ganância do clube de amigos, familiares e aliados. E viram que Lula é mais receptivo à burguesia do que o fanfarrão extremo-direitista.
Em compensação, Lula, assim que sinalizou sua adesão às elites dominantes, teve que mudar sua conduta. Passou a agir menos e falar mais. O esforçado governante dos dois mandatos anteriores deu lugar ao falastrão movido pelos simulacros manifestos pelo pesquisismo e pelo relatorismo, como se palavras, imagens e gráficos sibstituíssem os fatos concretos.
Lula, quando não pode agir, opina. Se ele cedeu para a burguesia, como um pelego obediente, o presidente está autorizado a fazer comentários discordantes, ainda que no clima subliminar do “fazer o quê?”. Tudo conversa para o povo pobre dormir, mas o problema é que o povo pobre da vida real se sente brutalmente traído por Lula.
O mundo, a vida e a realidade não são sempre como Lula deseja. Ele não é o centro do mundo nem do universo e não pode estar acima de todos os lados ideológicos, achando que pode obter o apoio da burguesia sem subtrair o das classes populares. Aderindo à burguesia e dando a suas concessões à direita moderada o nome eufemístico de “democracia”, Lula acaba perdendo o apoio das bases populares das quais pertenceu, num caminho que tende a ser sem volta, pois não é fácil reconquistar um povo desconfiado.
O irônico disso tudo é que Lula, que tanto se gaba em representar o “novo” na política brasileira, apesar de ser idoso nos padrões antigos (80 anos parecendo 100) e de ter uma carreira político-partidária de 45 anos, tornou-se o galho do qual o Brasil velho que resiste desde a Era Geisel se segura para não cair do abismo.
Por isso o atual mandato de Lula passou a ter um gosto estranho que o difere dos mandados anteriores que, embora moderadíssimos, eram mais esforçados. Lula 3.0 tem um sabor neoliberal de FHC com o populismo coronelista de Sarney, e o projeto político do presidente mais parece uma repaginação do “milagre brasileiro” com um idoso bonachão no lugar de um general de pijama ranzinza.
Mas o negacionista factual quer que tudo permaneça no mundo das aparências e dos estigmas antigos. Lula tem que ser ainda o “político amado pelos pobres” e a burguesia, ao tentar artificialmente recuperar a popularidade do presidente, põe na conta dos pobres e nordestinos que não se cansam de falar mal do ex-operário.
Mas não adianta brigar com os fatos, mesmo que sob a proteção do prestígio e o respaldo de centenas de seguidores nas redes sociais. Os fatos mostram que, enquanto é abandonado pelas classes populares enfurecidas, Lula se torna o último bastião de uma burguesia que dominou o Brasil por séculos e retomou o poder perdido em 1945, 1964 e 1990 (com o culturalismo degradante de popularescos, roqueiros pasteurizados e “opinionistas de FM” nos períodos de Collor e FHC). É o político de um dedo perdido que salva os dedos das elites que abandonaram os anéis do bolsonarismo.
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