
ENQUANTO O SIGNIFICADO OFICIAL DE "GUERRA CULTURAL" OCORRE NO ÂMBITO POLÍTICO, A VERDADEIRA GUERRA CULTURAL BRASILEIRA OCORRE NO ÂMBITO DA PRECARIZAÇÃO SOCIOCULTURAL DO POVO POBRE, SOBRETUDO PELA MÚSICA.
Oficialmente, “cultura” é uma virgem pura e imaculada que corre livremente pelo bosque e cuja vida flui sem interferência maliciosa e traiçoeira. Dito isso, vemos que as narrativas sobre “guerras culturais” servem de eufemismo para guerras de propaganda política, sem que necessariamente sejam considerados critérios culturais a não ser pelo âmbito sociológico e antropológico.
A pior guerra cultural no Brasil, no entanto, foi a gourmetização da cultura musical popularesca por meio do discurso do “combate ao preconceito”, um golpe cultural feito por um think tank de antropólogos, cineastas, músicos etc feito nos moldes do antigo IPES-IBAD que se apropriava de elementos linguísticos da provocatividade tropicalista para atrair o apoio da opinião pública.
A “santíssima trindade” de um “são” Paulo, um “são” Pedro e um “hermano” - Paulo César de Araújo, Pedro Alexandre Sanches e Hermano Vianna - , canonizados por quase todas as páginas na Internet - só meu antigo blogue Mingau de Aço, o “patinho feio” da mídia alternativa, saía na contramão das abordagens elogiosas ao questionar essa campanha “contra o preconceito” - , ilustrava essa preocupação da burguesia em evitar que a cultura seja vista como a trincheira para manipular corações e mentes dos brasileiros.
Daí que, quando se fala em “cultura” como um processo de manipulação, a ideia é sempre a propaganda política. Tudo para proteger o lado perverso da “cultura popular demais” do brega-popularesco, que alimenta um poderoso mercado que envolve oligarquias do interior do Brasil, empresários da grande mídia, empresas multinacionais e a indústria do entretenimento em geral. E, no pacote, há processos de precarização sociocultural que envolvem até mesmo a filantropia e o comportamento identitário.
Para ocultar esse esquema, enquanto a narrativa do “combate ao preconceito” falava da “pureza” da dita “cultura popular com P maiúsculo”, com direito a um aparato acadêmico para dar um verniz “científico” para a coisa, o culturalismo viralata, ou viralatismo cultural, teria significado restrito ao âmbito político.
Por isso, fala-se desse culturalismo apenas aos fenômenos políticos ou, quando muito, a abordagem seletiva do charlatanismo religioso e do humorístico sociopata, geralmente limitados a pautas de costumes. Mesmo se funqueiros apresentem apologias à objetificação da mulher e os “médiuns espíritas” produzam uma obra fraudulenta de “fakes do além”, eles são poupados de críticas porque, em tese, eles fazem o pobre “sorrir”.
O mito do "culturalismo sem cultura" acaba blindando a verdadeira guerra cultural, comprometida com a domesticação cultural, religiosa e lúdica do povo pobre, através de narrativas "positivas" que são excluídas oficialmente da definição de viralatismo cultural, termo que acaba tendo uma classificação seletiva, restrita ao raivismo explícito do autoritarismo político, da hidrofobia jornalística e da sociopatia humorística-dramatúrgica.
Com isso, o viralatismo cultural ou culturalismo conservador só é reconhecido oficialmente pela cosmética da raiva, como o ato de enganar e intimidar as pessoas se limitasse apenas ao modo prosaico da agressividade e da intolerância.
Só que nos esquecemos que as pessoas mais traiçoeiras e maliciosas são aquelas que justamente apelam para um discurso mais dócil, com olhares falsamente benevolentes e um discurso "positivo" que evita despertar suspeitas, caprichando no mel na boca e nos olhares sorridentes.
Enquanto a visão oficial do culturalismo viralata se preocupa em mostrar lobos que mal se disfarçam de cordeiros para explorar o rebanho, raposas dóceis invadem os galinheiros para devorar galinhas e ovos diante da aprovação de pessoas incautas e até de gente não tão incauta assim, mas que falha na sua vigilância critica, passando pano em picaretas e charlatães, sob a trilha sonora da degradante música popularesca que, supostamente, promove a "alegria do povo pobre".
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