FACHADA DO GREEN LIFE, CONDOMÍNIO FECHADO NO LUGAR DO ANTIGO SHOPPING RIO DECOR.
A burrice das autoridades niteroienses para certas coisas faz com que minha querida Niterói, antes o Eldorado dos interioranos fluminenses, hoje se rebaixasse a um capacho do Rio de Janeiro, 50 anos depois da fusão imposta pela ditadura militar entre os Estados da Guanabara e Rio de Janeiro.
Sem investir num desenvolvimento urbano genuíno, Niterói, que ainda espera por uma nova rodovia ligando os bairros do Rio do Ouro e Várzea das Moças, enquanto a Rodovia RJ-106 sofre a triste sina de "avenida de bairro", erra feio até quando tenta lançar alguma novidade.
Trata-se, portanto, de colocar, no terreno do antigo Rio Decor, um condomínio fechado sem sequer um minishopping, ignorando uma tendência que está crescendo aqui em São Paulo. Ou seja, o demolido prédio do Rio Decor, que já foi das antigas lojas Maveroy, vai dar lugar a um simples empreendimento residencial, em vez de colocar um shopping que reforçasse o entorno comercial do Centro, como opção ao distante Bay Market, que requer uma caminhada longa de acesso para quem não tem carro nem grana para pagar passagem de ônibus a toda hora.
O novo empreendimento, Green Line, chegou a ser apelidado de "Green Line - Rio Decor", mas não faz sentido usar esse nome para um condomínio sem qualquer tipo de atividade comercial. E a incorporadora mineira que se instalou em Niterói para fazer esse projeto, já aprovado pelas autoridades municipais, perdeu a oportunidade de estar na vanguarda na combinação residência + shopping.
Digo isso porque eu, que atuei na corretagem, conheci o Caminhos da Lapa, projeto de condomínios no bairro da Vila Anastácio, na região da Lapa, na capital paulista. Cada condomínio, vários deles ainda em construção, contam com minishoppings que servem para custear as despesas do condomínio, e esses estabelecimentos se destinam ao público comum, trazendo mais movimento, segurança e faturamento por conta de uma demanda externa.
Pelo projeto que eu vi do Novolar Green Life (seu nome completo), a única atividade comercial formal se limita um mercadinho particular que só serve para seus moradores, similar a um mercadinho que eu vi no condomínio My Square, no bairro do Limão, onde cheguei a fazer plantões. Apenas um mercadinho sem operadores, em que o morador pega os produtos que deseja e paga por cartão, geralmente esses produtos embalados que se vendem nos mercados.
O projeto parece legal nos limites de quem só deseja residência, numa Niterói resignada em ser cidade-dormitório. Mas as alternativas de comércio são distantes, mesmo as mais próximas, exigindo alguma caminhada mais longa e paciência para enfrentar o trânsito nas sinaleiras.
O mais próximo do que poderia compensar a ausência do shopping no entorno do Rio Decor é o Supermercado Dom, um mero atacadão que, embora oficialmente "situado" na Avenida Jansen de Mello, pode ser considerado um estabelecimento localizado na Avenida Feliciano Sodré, porque ele atende mais à demanda vinda ou residente nesta avenida. Mas, ao que parece, também não é um supermercado híbrido, que tenha um minishopping, como se tem no Carrefour do bairro de Neves, em São Gonçalo.
VISTA AÉREA DO TERRENO DESTINADO AO GREEN LIFE.
Há também o Mercado Municipal, que voltou a funcionar, mas ele na prática é somente um circuito de bares com alguma loja de lembranças para turistas. E ele exige também uma boa caminhada e paciência para enfrentar as sinaleiras, pois tem vias para atravessar, com tráfego bastante intenso, nas avenidas Manoel Pacheco de Carvalho e no entorno da Praça Renascença (antiga Praça Dez de Novembro).
Do outro lado, no sentido Ponta d'Areia, a travessia é trabalhosa e arriscada. Quem morar no entorno do futuro Green Life terá que ir comprar alguma coisa na proximidade das ruas Visconde de Itaboraí e Visconde de Uruguai na companhia de, pelo menos, uns dois amigos, e ainda assim em horário de maior movimento. Se quer abastecer a casa nos fins de semana, terá que comprar na noite de sexta-feira, entre 18h30 e 20 horas, que o risco de insegurança é menor.
Dá pena ver Niterói se contentando com pouco, perdendo a oportunidade de lançar a novidade dos condomínios com minishoppings, que trariam mais segurança e aliviariam os custos de compra de imóveis no Green Life. Agora, com um condomínio fechado, a área ficará o mais do mesmo, pois já existe outro condomínio fechado por perto.
E nem o Minha Casa, Minha Vida ajudará os moradores do Green Life a abater as taxas de aluguel ou compra de apartamentos, pois com a falta de um comércio para aliviar as despesas, os moradores é que terão que sacar de seus bolsos os altos custos de câmeras, limpezas e outros serviços do condomínio.
O jeito é fazer os moradores investirem em atividades comerciais dentro das residências, como serviços de impressão, fotocópias e design de monografias, venda de marmitas e até revenda de livros, automóveis de brinquedo etc. Ou a realização de livrarias e brechós filantrópicos em salões de festas. Tudo isso tanto para gerar renda extra dos moradores quanto para permitir à demanda externa alguma opção de compra sem ter que caminhar muito.
Triste ver que a burguesia niteroiense é tão provinciana e metida a moderna. Fico temendo pela falta de uma rodovia ligando Rio do Ouro e Várzea das Moças, apesar de haver um terrenão para tal necessária via. As autoridades niteroienses perigam entregar tudo para a especulação imobiliária, em prejuízo a quem utiliza a RJ-106 para ir a cidades distantes da Região dos Lagos e sofrerá a eterna sina de disputar a pista com quem vai e vem entre os dois bairros niteroienses.
É por isso que Niterói anda despencando em Índice de Desenvolvimento Humano, e os relatórios ainda mostram apenas o lado suave desse drama. Saudades dos tempos em que Niterói era capital de Estado.
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