
Oficialmente, como vimos antes, o termo “guerra cultural” é apenas um eufemismo para propaganda política, que é dotada de manipulação do inconsciente coletivo. E vemos que isso se trata de um “culturalismo” sem cultura, pois o que se aplica são apenas campanhas de cinho pedagógico e, acima de tudo, publicitário, visando a perpetuação de um poder político vigente.
O culturalismo sem cultura é um mito trazido pelo “Jornalismo da OTAN”, cujas abordagens excluem os verdadeiros processos culturais trazidos pela indústria do entretenimento. Tudo fica limitado ao aspecto político bruto, ao mero discurso das batalhas governamentais, dentro da agenda restrita das grandes agências internacionais de notícias.
OTAN, para quem não sabe, é a sigla de Organização Tratado do Atlântico Norte, uma das agremiações geopolíticas comandadas pelos EUA e que se envolve em conflitos políticos como os de Israel e a causa palestina e a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Em inglês, a sigla é NATO. Já o "jornalismo da OTAN" é o que eu defino como o jornalismo político internacional comandado pela CNN e por agências de notícias internacionais, como a France Press e Associated Press.
Esquecemos que, no Brasil, as piores guerras culturais têm mais a ver com É O Tchan do que com a OTAN. O culturalismo do dito “combate ao preconceito” que, sob o pretexto de dar reconhecimento à música brega-popularesca, quis ampliar mercados para essa precarização musical ao mesmo tempo em que desmobilizava o povo pobre através do entretenimento pipularesco, foi um processo perverso que sabotou os dois primeiros mandatos de Lula, reduzindo as lutas sociais e os debates públicos a meras reuniões de cúpula institucional.
A ação traiçoeira da intelectualidade pró-brega tentou goumetizar a bregalização cultural e transformar o povo pobre em paródia de si mesmo, entregue ao lazer alienante do “popular demais”, patrocinado por um lobby poderoso que envolveu e envolve de grandes fazendeiros até empresas multinacionais. Ou transnacionais, termo que inspirou o trocadilho do “filho da Folha” Pedro Alexandre Sanches, “cultura transbrasileira” com base no jargão neoliberal de Fernando Henrique Cardoso.
A campanha supostamente “contra o preconceito”, que envolvia desde os primeiros ídolos cafonas até os funqueiros em geral, tinha como objetivo abafar e evitar os debates culturais dos anos 1960, a partir do CPC da UNE e de jornalistas como José Ramos Tinhorão, e o engajamento cultural da MPB dos festivais.
Assim, o mesmo culturalismo brega dos tempos da ditadura militar e patrocinados pelos grandes proprietários de terras procurava coexistir com o cenário progressista dos dois primeiros mandatos de Lula.
É, portanto, um jogo sujo travestido de falsa respeitabilidade com discurso de aparência sofisticada para ideias tão inconsistentes. Defender a bregalização cultural sob o aparato de monografias e documentários é herança clara do aparato intelectual do IPES-IBAD, somado de uma retórica tropicalista e tentando fazer proselitismo na mídia esquerdista.
Isso foi crucial para a desmobilização das classes populares, enganadas pela falácia de que a bregalização seria um “engajamento por si mesmo” e isso abriu caminho para o golpismo de 2016 que asfaltou a estrada para o bolsonarismo.
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