
"DEIXA ACONTECER", DO GRUPO DE "PAGODE ROMÂNTICO" REVELAÇÃO, SOA QUASE TRÊS DÉCADAS MAIS ANTIGA DO QUE QUANDO FOI LANÇADA.
Há poucos dias, o supervisor de uma equipe de telemarketing estava tocando no computador uma sequência de “pagode romântico” e, de repente, tocou “Deixa Acontecer” do grupo Revelação. Diante de todo repertório mofado de outras músicas, tive a sensação de que “Deixa Acontecer”, que é de 2001, parece um daqueles pastiches bregas do samba gravados por volta de 1974, apenas menos tosco do que o repertório do Raça Negra, também mais "antigo" do que parece.
A título de comparação, as músicas de Cazuza soam sempre novas, e o cantor faleceu prematuramente há 35 anos. “O Nosso Amor a Gente Inventa”, por exemplo, mantém sempre o seu frescor. E ver que os sucessos da atual música brega-popularesca envelhecem, e mal, após seis meses de execução é estarrecedor.
O trap que fazia sucesso em 2021 hoje já soa antigo e cheirando a bolor. “Macetando”, recente sucesso carnavalesco de Ivete Sangalo, já está “antiga demais”. A axé-music, aliás, soa muito velha, como se só tivesse vida no Carnaval. As músicas de Bell Marques e Durval Lélys já soam datadas desde quando lançadas e envelhecem pior ainda.
Nesse campo de bolor, também me vêm na mente sucessos como “Ragatanga” do Rouge e “Evidências”, na versão de Chitãozinho & Xororó, que por sinal é de 1987, soam caquéticas. As músicas de Michael Sullivan, do contrário que se diz, são mais fracas que o tempo do que castelos de areia diante de um maremoto.
Dá pena ver a intelectualidade “bacana” e seus amigos acharem que os ídolos cafonas dos anos 1960-1970 são “vanguarda”, quando os fatos demonstram o contrário. Esses burgueses enrustidos apenas se deixavam levar pelo solipsismo e pensaram que a música brega representava o novo, criando uma narrativa sem pé nem cabeça que foi endossada pela mídia venal e serviu de isca para a mídia de esquerda, que quase faliu totalmente depois de vestir a camisa da bregalização cultural.
A burguesia ilustrada que temos vive de juízos de valor, e para elas só valem suas impressões pessoais, seus pontos de vista e suas atitudes e decisões. E elas estão conduzindo o nosso país para o abismo, promovendo a degradação sociocultural que enriquece muitos empresários. E aí vemos o quanto tentam a todo custo fazer a música brega-popularesca se tornar perene.
Mas esse tipo de música demonstra que não tem força para durar uma estação. Por isso forçam a barra para dar a esses sucessos uma falsa durabilidade. Por sorte, a ignorância reinante adere fácil a essas mentiras trazidas por jornalistas e intelectuais.
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