O “animal consumista” é como uma coisa aprendendo a ser bicho. São humanoides cuja única finalidade na vida é consumir e se servirem aos seus instintos vorazes. São monstros criados na pós-pandemia, ávidos em acumular dinheiro e gastar até com supérfluos e coisas nocivas, como cigarros e cervejas.
Altamente egoístas, eles acham que o que entendem como “felicidade” é um bem pessoal e intransferível. Só são amigos quando alguém vem com um repertório de piadas e cria hábito em interagir sempre com uma boa estória e muitas risadas. Mas, nos momentos difíceis, os animais consumistas fogem do aflito de ocasião como o diabo foge da cruz.
O animal consumista sente uma obsessão de consumo. Ter é a sua razão de existência. Ele precisa, por exemplo, ir aos restaurantes da moda para consumir pratos chiques. Precisa viver a happy hour de forma tão obstinada que, hoje em dia, ele adere à bebedeira noturna até na véspera de dia de trabalho.
Ele precisa encher o carrinho de supermercado. Lotar por lotar. Até os ex-pobres “fabricados” por loterias e promoções de produtos seguem essa tendência, estes que, na ansiedade pela primeira riqueza, tornam-se “pobres de alma burguesa”. A ideia não é comprar o que é necessário, mesmo admitindo critérios de conforto e prazer, mas de adquirir bens só pela quantidade, para impressionar os outros pela posse de bens simbólicos ligados à fartura e ao prestígio social.
O animal consumista é tão ganancioso e egoísta que, quando alguém miserável ou algum endividado grave lhe pede ajuda, o abastado diz que “não tem dinheiro”. Em outros casos, acusa a súplica do aflito de ser um golpe financeiro. Tão egoísta, pede para ninguém ajudar, tentando justificar seu egoísmo pelo direito à propriedade.
Na semana da Black Friday - um termo que a Faria Lima quer fazer “intraduzível, em alto e bom portinglês, mas significa “sexta-feira negra” - , o animal consumista desperta seus instintos selvagens e vai comprar tido o que não precisa mas que ele precisa comprar para impressionar os outros, sob o pretexto de se “valorizar” na sociedade.
Trata-se de um consumismo mais tóxico, diferente do consumo impulsivo de que fala a jornalista Elaine Bast. Afinal, não se trata de comprar para aliviar a alma, mas antes uma paranoia de querer ter os bens de prestígio, da pessoa se julgar abaixo do dinheiro, dos eventos e das mercadorias. É um processo muito mais problemático do que se pensa.
O animal consumista se sente uma coisa e só se acha “gente” quando consome, ainda que seu desejo de consumir seja mais animalesco do que humano. Daí a metáfora “coisa aprendendo a ser bicho”. E aí vemos o quanto o animal consumista sente neurose de acumular dinheiro e comprar e consumir conforme mandam seus instintos. Para ele, a máxima ideológica é sempre “tenho, logo existo”. E ser é apenas um mero detalhe.
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