A charge de ontem no jornal A Tarde, do cartunista Sérgio Jaguaribe, o Jaguar, tem um tom de ironia e de passado, longínquo e recente.
Vejamos. O carioca Jaguar foi demitido pelo jornal O Dia, dentro daquele "novo" espírito do governo Michel Temer: corte financeiro, redução de pessoal, demissão de veteranos, contratação de novinhos porque "custam menos".
Jaguar tem muita experiência. Foi um dos jornalistas da revista Senhor, que durou entre 1959 e 1964, na sua forma original, tendo outras "reencarnações" sem a força original, uma delas sendo absorvida pela hoje reaça revista Isto É.
A Senhor "reencarnou" apenas com o corpo, sem a alma, como a revista O Cruzeiro "reencarnou" depois de ser oficialmente extinta, em 1975, durando "mais dez anos" mais parecendo uma clone debilitada de Visão.
Aí Jaguar foi contratado pelo jornal baiano A Tarde para fazer charges.
Longe dos cariocas, continua falando do Rio de Janeiro.
Uma grande ironia, lembrando que os soteropolitanos hoje tentam recuperar o fòlego de modernidade, enquanto os cariocas hoje naufragam num provincianismo doentio.
O Rio de Janeiro de hoje parece uma versão ainda mais doentia da Salvador do período ditatorial.
O Grande Rio sucumbiu a um neocoronelismo que foi comandado pelo grupo político de Sérgio Cabral Filho e por um Eduardo Paes que mais parecia um genérico do Luciano Huck.
O Rio de Janeiro ainda se prepara para ter, no "funk", o império monocultural que a axé-music começa a deixar de ser em Salvador.
Salvador começa a arejar melhor, o Rio de Janeiro passa a feder de mofo.
E Sérgio Cabral Filho sugeria, na aparência física, ser uma "miniatura" do pai, Sérgio Cabral.
Sérgio Cabral, o pai, foi colega de Jaguar no Pasquim. É um lúcido e pertinente historiador da cultura carioca e um dos que, corajosamente, denunciaram que o "funk" tem ligações com a CIA.
A esquerda fashion protestou, se comportando como se fossem membros do Movimento Brasil Livre. Queriam que a gente acreditasse que o miami bass brasileiro surgiu no Quilombo dos Palmares, ocultando sua origem na Flórida anti-esquerdista.
Sérgio Cabral, filho, apoiava o "funk", embora aparentemente agisse para combater os "proibidões".
Mas vamos ao Jaguar.
Ele fez uma charge com o filho do colega. Para diferir o nome do jornalista e do filho - a imprensa em geral se refere Sérgio Cabral Filho como apenas Sérgio Cabral - , Jaguar o chamou de "Serginho Cabral".
Foi inserida a letra de Millôr Fernandes, já falecido, outro que havia sido colega de Cabral e Jaguar no Pasquim. Nos tempos da Senhor, Millôr era o Emanuel Vão Gogo da seção O Pif Paf da revista O Cruzeiro, citada acima.
Um pequeno trecho foi inserido no interlocutor de uma mulher depois de ambos virem a foto de Cabral Filho com algemas.
"Sou moço guloso é de viver / Vou viver no Rio até morrer / Rio me provoca como um poema / Me prende e faz mais um carioca / De algema...", disse a letra musicada por Carlinhos Lyra.
O Pasquim é coisa do passado. Foi um heroico periódico de esquerda, mas depois foi espinafrado até pela intelectualidade "bacana" dos últimos anos e seu legado foi desacreditado.
Jaguar não tem a reputação decadente dos irmãos Paulo e Chico Caruso, que viraram chargistas do PIG (Partido da Imprensa Golpista).
Mas Jaguar se "queimou" no caso de Wilson Simonal, acusando-o, sem provas, de colaborar com a ditadura militar, boato "plantado" por dois seguranças do cantor.
Já Sérgio Cabral Filho tornou-se tão decadente que hoje o repúdio da Justiça partidarizada e da mídia hegemônica, que o transformaram em detento, tornaram-se exagerados e até abusivos.
É como surrar um leão ferido a barras de ferro. Em se tratando de Operação Lava Jato, embora a torcida vibre por certos presos, inclusive a de esquerda, os métodos são bastante abusivos.
E Serginho Cabral perdeu a reputação até entre os cariocas reaças que o exaltaram, há seis, oito anos.
Sérgio Cabral Filho também se tornou passado. Nem tanto quanto o Pasquim de seu pai, mas de um passado recente em que o Rio de Janeiro, decadente desde os anos 90, pelo menos disfarçava sua crise com poses de falsa imponência.
E lá foi Jaguar falar de carioca de algemas para os baianos da gema.
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