Nesta suposta recuperação da popularidade de Lula, alimentada pelo pesquisismo e sustentada pelos “pobres de novela” - a parcela “limpinha” de pessoas oriundas de subúrbios, roças e sertões - , o faz-de-conta é o que impera, com o lulismo se demonstrando um absolutismo marcado pela “democracia de um homem só”.
Se impondo como candidato único, Lula quer exercer monopólio no jogo político, se recusando a aceitar que a democracia não está dentro dele, mas acima dele. Em um discurso recente, Lula demoniza os concorrentes, dizendo para a população “se preparar” porque “tem um monte de candidato na praça”.
Tão “democrático”, o presidente Lula demoniza a concorrência, humilhando e depreciando os rivais. Os lulistas fazem o jogo sujo do valentonismo (bullying), agredindo e esnobando os outros, sem respeitar a diversidade democrática. Lula e seus seguidores deixam bem claro que o petista se acha dono da democracia.
Não podemos ser reféns do lulismo. Lula decepcionou muito, mas não podemos apelar para a ilusão do “ruim com ele, pior sem ele”. Talvez seja pior com Lula, pois ele dá a falsa impressão de estar fazendo, mesmo quando não faz. Lula deixa a sociedade brasileira na zona de conforto, desmobiliza mais do que mobiliza. Os movimentos sociais acabam pregando no deserto, pois, em tese, não há necessidade de reivindicar com Lula no poder.
E aí temos uma situação surreal. Com Lula no poder, a gente vive a ilusão de deixar tudo para um homem decidir sozinho, por sinal um homem idoso e doente de 80 anos. Tudo fica nas mãos de Lula e só resta ao povo brasileiro brincar, consumir e curtir. Daí que a burguesia está empolgada com Lula, ao passo que as classes populares estão frustradas com o petista.
A classe média abastada domina as narrativas nas redes sociais. Elas se esforçam em fazer crer que Lula continua o mesmo de antes. Eu observo, baseado em fatos, que não. Lula não é um fetiche que transforma erros em acertos, quando são cometidos por ele. Lula, quando erra, merece e precisa ser criticado, até duramente, até pelo seu espírito de descaso.
A elite do bom atraso não está certa nas suas visões. Seus membros não têm vivência real das coisas, seja livresca, seja presencial. Fica trancada nos seus quartos ou, quando muito, só se desloca para as boates, dificilmente indo para uma feira livre só para comprar os ingredientes do almoço de domingo. Vão aos supermercados mais por uma formalidade econômica e compram sem ver os preços dos produtos, pois têm grana farta para gastar. E, tão ensimesmados, mal conseguem ir a um parque para ver a natureza .
Por isso, essa classe de bacaninhas tem um pano de fundo que lhes desautoriza a ter razão nas suas narrativas, pois elas se situam no mundo das aparências fáceis. Daí tentam dizer que Lula continua o mesmo e até suas guinadas à direita tentam ser “ressignificadas” como se fossem atitudes de esquerda.
Foi essa narrativa que prevaleceu em 2023, quando os negacionistas factuais pregavam o boicote a textos que criticassem o governo Lula. A euforia pela volta do petista e o trauma da campanha lavajatista que deu no golpe de 2016 e no bolsonarismo geraram essa tendência.
Mas o comportamento de Lula, destoante das expectativas brilhantes de seu atual mandato, foram cruciais não somente para fortalecer a oposição ao governo como ver as classes populares e os movimentos sociais se decepcionarem com o presidente, mais alinhado com a burguesia “democrática” do que com o povo pobre da vida real.
Os fatos mostram o quanto Lula errou e não é a adoração a ele que vai resolver o problema, desmentindo essa realidade. E também não serão os lulistas que, brigando com os fatos, irão obrigar a realidade a ser subserviente ao petista. Já basta Lula se achar dono da democracia. Mas não dá para ele ser o dono da verdade. Muito menos a absoluta.
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