Vivemos um período tão delicado que causa perplexidade no resto do mundo.
Não são poucos os alertas que são feitos para evitar que Jair Bolsonaro chegue ao comando da República.
O "mito" cresceu sem controle com uma indústria de fake news, despejadas para um público que se tornou viciado em WhatsApp.
Sociopatas que, há cerca de dez anos, se escondiam no Orkut em comunidades como "Odeio Acordar Cedo", correm o risco de governarem o país através de seu ídolo.
Ninguém consegue frear e, o que é surreal, na campanha do primeiro turno Bolsonaro crescia, ainda que artificialmente, depois de cada incidente negativo.
O jabaculê político rolava solto. De Paulo Guedes, o "posto Ipiranga" e virtual ministro da Fazenda do governo Bolsonaro, a Steve Bannon, o marqueteiro de Donald Trump.
Deixou-se Bolsonaro crescer, e tudo podia ser feito para evitar que ele chegasse ao segundo turno.
Muito se avisou para os eleitores não transformarem a urna eletrônica num balde de vômito.
O pior é que a imprensa internacional há muito alerta sobre a ameaça de Bolsonaro.
Periódicos não necessariamente de esquerda, mas também neoliberais, como o The Economist, advertem para o desastre anunciado.
A imprensa brasileira, não. Fingiu ignorar que Jair Bolsonaro não era de extrema-direita, só para fazer valer seu apetite anti-petista.
Tínhamos alternativas moderadas para, digamos, "todos os gostos": no destaque, Ciro Gomes, Geraldo Alckmin, Marina Silva e Fernando Haddad.
Tínhamos o filho de João Goulart, João Vicente Goulart, que se lançou sob o codinome João Goulart Filho. Tínhamos o ativista Guilherme Boulos. Tínhamos o banqueiro Henrique Meirelles.
Isso me lembrava os reaças pseudo-roqueiros que defendiam a Rádio Cidade, surdos a uma série de exemplos de rádios de rock bem melhores que a emissora, hoje transmitida na Internet.
Tínhamos da antiga Eldo Pop à Rocknet, da Fluminense FM à comunitária Progressiva FM, da Estácio FM à distante Tribuna FM, de Petrópolis.
Nada convencia os protobolsomínions que só queriam a Rádio Cidade como "rádio rock", há quinze anos. E eles previam o discurso autoritário dos bolsonaristas, até porque hoje eles são alguns deles. Em 2000, eles já falavam em defender o fechamento do Congresso Nacional.
Esse discurso bolsomínion lembra muito Rádio Cidade, Jovem Pan, 89 FM (hoje uma rádio decadente, quase um "satélite roqueiro" da JP) e similares. Até a moribunda Transamérica (hoje uma FM de aluguel para DJs e dirigentes esportivos) também está nessa.
E aí os anti-petistas tinham tantas opções para votarem, mas eles apelaram para o que havia de mais reacionário.
São "filhinhos de papai" frustrados, que agora se acham os donos da República.
E a grande imprensa não reage à ameaça bolsonarista, depois de muitos anos educando esses reaças com ideias retrógradas, lazer obsessivo e anti-intelectualismo doentio.
A imprensa tenta botar o problema debaixo do tapete. Eu vejo os órgãos da grande imprensa, mesmo os estaduais, e se vê uma neutralidade hipócrita entre Haddad e Bolsonaro.
Tentam parecer "imparciais", mas nesse jogo discursivo, tornam-se, na verdade, parciais: naturalizando Jair Bolsonaro, a grande imprensa, pelo efeito que provoca, acaba dando preferência ao candidato do PSL.
E é essa armadilha que desfaz o mito de "objetividade" do Jornalismo, essa falsa "isenção" que tenta dizer que não tem posição definida, mas tem. É a de preferir o candidato mais conservador e representante das classes dominantes.
O pior é que uma "amostra grátis" da repressão bolsonarista se deu na Rádio Guaíba, de Porto Alegre.
O jornalista Juremir Machado da Silva, que causou polêmica ao convidar Kim Kataguiri para um debate, se demitiu quando, convidando Jair Bolsonaro para uma entrevista, recebeu dele uma declaração de que ele só seria entrevistado por alguém que o apoiasse.
Juremir anunciou sua demissão no seu programa de rádio e saiu. Deve ter aprendido a lição com Márcia Tiburi (candidata derrotada ao governo do Rio de Janeiro), que saiu do estúdio da rádio ao se recusar a debater com o reacionário Kataguiri, eleito deputado federal pelo DEM por São Paulo.
O bolsonarismo ainda vive sob a arrogância vingativa e cega de seus seguidores. Será horrível ver os sociopatas que atuavam nas sombras do Orkut em 2007 terem vez e voz numa República fascista.
Faltam poucos dias para frear esse pesadelo. O horror está se aproximando e espera-se que algo seja feito para acabar com isso. O fascismo é reconhecidamente um regime falido e que nunca conseguiu melhor a situação de país algum.
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