A situação de Fernando Haddad é delicada, porque o Brasil, como bem lembrou o cientista Miguel Nicolelis, sofre a ameaça da "tsunami do absurdo", que ele define como surreal, a exemplo do que muitos definem, como aqui neste blogue.
Fernando Haddad procura fazer sua campanha da melhor maneira. Em situações normais, seria o favorito imbatível e teria ganho o primeiro turno das eleições, de barbada.
Mas o Brasil guardou distorções e falhas que estavam adormecidas desde o fim da ditadura militar, como num vulcão adormecido.
Elas explodiram nos últimos meses, mas tudo estava latente há, pelo menos, 18 anos.
Os fascistas mirins eu já observava nos fóruns de mensagens das rádios pseudo-roqueiras 89 FM (SP) e Rádio Cidade (RJ) em 2000. Creio que nas mensagens da Transamérica e Jovem Pan 2 eram a mesma coisa.
Depois, os fascistas mirins criaram "núcleos" em comunidades como "Eu Odeio Acordar Cedo", no Orkut. Pouca gente observa, mas o fascismo digital já era muito ativo no Orkut, antes de se tornar a "marca" da maioria dos usuários do Facebook e WhatsApp.
E hoje os sociopatas, como são conhecidos, assustam porque, até pouco tempo atrás, eles estavam escondidos nas redes sociais, e ameaçam botar um representante deles no Palácio do Planalto.
Um incidente ocorrido anteontem fez a festa dos bolsomínions. Cid Gomes, senador recém-eleito pelo PDT cearense e irmão do presidenciável derrotado Ciro Gomes, fez um discurso que acabou se voltando contra o PT, criando um clima de saia-justa.
Isso porque era um evento da campanha de Fernando Haddad em Fortaleza.
Cid Gomes começou elogiando o candidato petista, mas, quando começou a se lembrar dos erros do Partido dos Trabalhadores, até parece que baixou o espírito de um anti-petista ferrenho.
"Tem que fazer um mea culpa, tem que pedir desculpa, ter humildade e reconhecer que fizeram muita besteira, sim", disse Cid Gomes, demonstrando irritação.
Entre vaias da plateia e a reação de uma pessoa que xingou o senador, Cid Gomes continuou seu discurso inflamado e um tanto indelicado e deselegante para um evento como aquele.
"Pois tu vai perder a eleição, não admite o mea-culpa. Os erros que cometeram é para perder a eleição (...) porque fizeram muita besteira, porque aparelharam as repartições públicas, porque acharam que eram dono de um país, e o o Brasil não aceita ter dono, é um país democrático", acrescentou Cid.
O rival Jair Bolsonaro já colocou o vídeo na sua campanha, para desmoralizar o PT e fazer Haddad perder.
Haddad já havia escolhido, ontem, o escritor e palestrante Mário Sérgio Cortella, conhecido pela sua grande visibilidade (nem tanto quanto o colega Leandro Karnal, mas é expressiva), como virtual ministro da Educação.
Era uma forma de Haddad buscar atrair mais eleitores, chamando para si gente de prestígio e projeção no grande público juvenil.
Bolsonaro conta com apoio de gente da pesada. Guilherme de Pádua, ex-ator rebaixado a subcelebridade e pastor evangélico, declarou apoio ao "mito".
A Klu Klux Klan, entidade medieval e fascista dos EUA, manifestou apoio e profunda identificação com Bolsonaro. Mas este, querendo "limpar" sua imagem frente ao eleitorado, recusou o apoio e pediu para a KKK (a entidade, não a risada dos bolsomínions nas redes sociais) "apoiar a esquerda".
No exterior, porém, nem tudo é céu de brigadeiro para os bolsonaristas.
Ronaldinho Gaúcho perdeu o título de Embaixador do Barcelona por causa do apoio a Bolsonaro (por sinal "mito" e R10 adorariam repartir um mesmo bolo de aniversário).
Rivaldo, que como Ronaldinho era embaixador do clube e ambos jogaram na Seleção Brasileira durante a Copa de 2002, também perdeu o posto.
Os dois também estão sendo afastados, aos poucos, dos eventos do clube espanhol, que afirmou que não concorda com os valores defendidos pelo candidato do PSL.
O afastamento de Ronaldinho e Rivaldo ocorrerá aos poucos, para que a presença dos dois se encerre gradualmente, evitando que eles estivessem vinculados à imagem do clube.
Enquanto isso, o WhatsApp tornou-se um ambiente visado para as fake news e todo o jogo sujo da campanha de Jair Bolsonaro, que inclui até grotescas e ofensivas montagens fotográficas entre Haddad e Lula.
Ontem mesmo, quando saí para levar minha mãe para uma aula de hidromassagem, eu vi uma vizinha com um celular que ela achou engraçado.
Era uma cena no agreste nordestino, um vídeo colhido do WhatsApp, na qual uma mãe fala para a filha pequena pronunciar Haddad.
"Fala Haddad, filha", disse a senhora, com alegria para a filha. A filha, porém, se recusou a pronunciar o nome e acabou dizendo "Bolsonaro".
Fiquei constrangido, não escondi minha cara de horror. Mas o pessoal em volta não ligou.
O que preocupa é que o marketing de guerrilha do bolsonarismo - ainda mais usando a "trincheira" inimiga, o sertão do Nordeste - vem com essas peças falsamente engraçadas.
Sorte é que nunca tive conta no WhatsApp. E nem tenho o menor interesse em ter.
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