Um bom estímulo para os anti-petistas evitarem votar em Jair Bolsonaro e fazer um voto crítico a Fernando Haddad é dado por alguns famosos.
Propagandistas de primeira-hora contra o governo Lula ou, em certos casos, contra o governo Dilma Rousseff, anti-petistas mudaram de posição ao ver o perigoso fenômeno do candidato do PSL.
Personalidades como Miriam Leitão, Arnaldo Jabor, Marcelo Madureira e Dinho Ouro Preto viveram os anos duros da ditadura militar.
Dinho era um adolescente que viveu em Brasília, e acompanhou, como fã, a trajetória do Aborto Elétrico, maior banda punk local, liderada por Renato Russo.
Foi dessa banda que Dinho "tomou" os irmãos Lemos, Flávio e Felipe, para formar o Capital Inicial.
Temos também Marcelo Tas, jornalista e produtor de vídeo de vanguarda nos últimos tempos da ditadura militar.
E temos também Fernando Gabeira, que chegou a sinalizar "simpatia" por Bolsonaro, mas se relembrou da ditadura militar.
A ditadura militar não foi brincadeira. Foi um período de profundos retrocessos sociais, principalmente culturais.
Não por acaso, a maior parte dos ídolos brega-popularescos e das subcelebridades mais bisonhas ou fúteis aderiram ao candidato do PSL.
Ou então famosos de segundo escalão, ainda que talentosos, ou outrora grandiosos que viraram reacionários. Uma Regina Duarte ou Roger Rocha Moreira, entre os ex-grandiosos, ou um Fagner e Luíza Tomé, deixados ao segundo escalão pela competitividade do mercado da fama.
Eles são "filhos" dessa degradação sócio-cultural e econômica que produziu o "pobre de direita", o filho indesejado que a ideologia da "periferia legal" dos intelectuais "bacanas" gerou.
Falava-se em "romper o preconceito" aceitando formas preconceituosas de abordagem do povo pobre e, deu no que deu: a intelectualidade "bacana", sem querer, abriu caminho para Bolsonaro.
De que adiantou jogar os pontos de vista culturais, importados da Globo e da Folha, nos periódicos de esquerda, tentando transformar em folclore uma pseudo-cultura comercial defendida pelos barões da mídia?
O resultado foi esse: o "popular demais" aderindo a Jair Bolsonaro. Pelo discurso da intelectualidade "bacana", se supunha que 70% desse pessoal iria apoiar um Fernando Haddad.
Foi vergonhosa a defesa extremada a Zezé di Camargo & Luciano, símbolo de um pretenso esquerdismo cultural, de um falso humanismo artístico, duetando com emepebistas progressistas, posando ao lado de cineastas e jornalistas de esquerda.
Ninguém imaginava, em 2005, Zezé di Camargo fazendo música para Bolsonaro, posando ao lado do "mito", justificando seus votos a ele.
A intelectualidade "bacana" se encolheu, com seu proselitismo. Hoje eles estão com Haddad (é melhor que seja assim), mas com a consciência pesada de que, defendendo a bregalização, sem querer acabaram dando passagem ao "mito".
Daí ser mais honrado ver que mesmo os anti-petistas mais convictos decidiram dizer "não" a Bolsonaro.
Dos citados, creio que Arnaldo Jabor foi um que não decidiu declarar seu voto, assim como Marcelo Madureira.
Dinho Ouro Preto e Marcelo Tas decidiram votar em Haddad, num apoio crítico.
Das gerações mais recentes, que não viveram a ditadura militar, Rachel Sheherazade retirou seu apoio a Bolsonaro, sem declarar publicamente opção de voto. Felipe Neto, youtuber e anti-petista, declarou apoio crítico a Haddad.
Num contexto em que famosos como Dua Lipa, Cher, Madonna, Roger Waters, Noam Chomsky e Danny Glover alertam pela ameaça bolsonarista, a lembrança da ditadura torna-se forte.
As convulsões sociais já geraram banho de sangue em padrões bolsonaristas no tempo da ditadura militar.
Conflitos entre pessoas pobres resolvidas a faca ou a bala, pistolagens, feminicídios, sociopatias, latrocínios e extermínio de moradores de rua já ocorriam intensamente durante a ditadura militar.
Recentemente, houve um surto de feminicídio quando, ironicamente, na Internet muitos questionam se a grande mídia não abre o jogo quanto a dois velhos feminicidas, na casa de seus 80 anos, que estão muito doentes e no fim da vida.
Os moralistas sem moral chegam a falar que anunciar a doença grave de um feminicida idoso é "expressão de ódio". Logo eles! Em 1977, amigos de um dos feminicidas, que havia acabado de cometer seu crime, se preocupavam com a saúde dele, com tanto que ele fumava cigarros.
O pesadelo bolsonarista será apenas um reboot do pesadelo que víamos, sobretudo, na Era Geisel, onde as convulsões sociais eclodiram de maneira bastante assustadora.
Foi a partir daí que se tornou, definitivamente, inseguro para passear pelas ruas à noite.
A vida noturna perdeu a inocência e hoje, com a onda de feminicídios e latrocínios, que pode ser acrescida com a truculência de "homens de bem" bolsonaristas, os bares e boates deixarão de ser redutos para a vida amorosa.
Afinal, é nesses ambientes que as mulheres são mais assediadas por homens de conversa descontraída e papo envolvente, que mais tarde se tornarão, sob o aparato conjugal, seus inimigos mortais.
Há também os conflitos de terras, os extermínios nos subúrbios, a matança que atinge a comunidade LGBTT, os eventuais surtos psicológicos de "pessoas normais".
Todo esse pesadelo sempre existiu, mas se tornou intenso durante o colapso da ditadura militar e poderá se tornar ainda mais constante num eventual governo Bolsonaro.
É esse "holocausto à varejo" que se teme ocorrer com a vitória do "mito", que deixará o país ainda mais instável.
Daí que quem viveu a ditadura militar, independente do perfil ideológico, deu seu grito de alerta ao manifestar seu repúdio a Jair Bolsonaro.
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