Foi uma declaração do filho Eduardo Bolsonaro que acabou desmoronando o teatro do surrealismo que foi o fenômeno Jair Bolsonaro.
O "mito" não foi ainda derrubado de vez, mas ele crescia como um personagem de Luís Buñuel.
Houve avisos de que ele tinha profundos preconceitos sociais, e a "boa sociedade" não deu bola.
Ele foi denunciado por apologia ao estupro, por comentário racista. Não foi punido. E a "boa sociedade" não deu a mínima.
Suas propostas, se é que haviam, sempre se voltavam para a extinção de direitos sociais históricos, incluindo trabalhistas, e incluindo também os direitos humanos propriamente ditos.
A "boa sociedade" não deu a mínima.
O mundo inteiro avisava de que Jair Bolsonaro era uma ameaça, não só para a democracia e a soberania brasileiras, mas às próprias relações internacionais.
A "boa sociedade" nem estava aí.
O anti-petismo tinha outras opções. Até os insossos Álvaro Dias e Henrique Meirelles estavam sob medida para quem não queria a volta do Partido dos Trabalhadores ao poder.
Mas não. De repente, os sociopatas insistiam no "quanto pior, melhor", e pressionavam, com seus disparos de fake news, seus usuários fake e o "voto de cabresto" voltando com o assédio moral nas igrejas evangélicas pentecostais, empresas e as próprias redes sociais da Internet.
Aparentemente, mulheres, negros, pobres, jovens e LGBTT em parte optaram por Jair Bolsonaro. O que não há de suborno, de assédio moral ou de outros jogos de interesses por trás disso?
Havia jabaculê até nas pesquisas de intenção de voto. Aqui vale criticar as esquerdas, que superestimaram a "realidade" simulada das pesquisas. Paciência, a sociedade hoje é hipermidiatizada.
Daí que a overdose de WhatsApp teve como preço o acolhimento bovino das notícias falsas.
Mas se a literatura fake de midiáticos "médiuns espíritas", oficialmente símbolos de adoração extrema por supostas virtudes elevadas, tem o foro privilegiado de "verdade indiscutível", isso abriu precedente para a popularidade das notícias falsas.
Seja para pedir "paz entre irmãos", seja para declarar "guerra ao PT", as mensagens falsas, desde que agradáveis, passam a ter status de "verdade".
E é isso que fez uma mentira chamada Jair Bolsonaro crescer. E a "boa sociedade" surda a tudo. Nem Jesus conseguiria convencê-la a abrir mão do "mito".
Só agora, quando a declaração do filho Eduardo sobre "fechar o Supremo Tribunal Federal" veio à tona, Jair começou a se desgastar.
Isso porque o Judiciário, assim como o Ministério Público e a Polícia Federal, tornaram-se "heróis" dessa sociedade moralista sem moral.
Com um Bolsonaro ameaçando o Poder Judiciário, associado ao que a "boa sociedade" acredita ser o "combate à corrupção", o desgaste de Jair Bolsonaro começou a ocorrer.
Foi preciso mexer nessa necessidade imediatista, porque não adiantou sequer o #EleNão, nem o recado de The Economist, nem o carisma do veterano roqueiro Roger Waters.
Jair Bolsonaro tentou abafar: disse que já "repreendeu o garoto", fez supostos elogios ao STF, disse que vai respeitar a Constituição.
Só que não dá para confiar num candidato que primeiro se precipita com atitudes negativas e depois pede desculpas.
Jair, em si, não atacou o STF, mas o filho Eduardo, que é seu cúmplice em muitas situações, sim.
Eduardo é visto numa viagem de helicóptero com o pai, durante uma ida aos EUA, e Jair havia feito uma piada sobre nordestinos.
A piada era essa, contra baianos: "Porque que é vantajoso comprar carro na Bahia? Porque já vem com o freio de mão puxado".
Eu nasci em Florianópolis, faço aniversário em 21 de março, mas me sinto indignado com uma piada dessas. Sou de família baiana, por parte de pai.
Tendo vivido muitos anos em Salvador, sei que o mito da preguiça do baiano é falácia. Baiano descansa porque trabalhou muito na véspera.
Em vários vídeos, faço comparações sobre o que Salvador faz de mobilidade urbana e o que Niterói faz.
Em Salvador, foram abertas muitas avenidas. Em Niterói, bairros vizinhos como Rio do Ouro e Várzea das Moças não têm avenida própria de ligação, dependendo de uma rodovia estadual, a RJ-106, que acaba virando "avenida de bairro".
Apesar desse problema, que atrapalha o trânsito de quem quer ir para cidades distantes da Região dos Lagos, os niteroienses nem ligam. A proposta de nova avenida de Rio do Ouro para Várzea das Moças é a nova Cafubá-Charitas, condenada a levar 70 anos para ser implantada.
Salvador cria passarelas e Niterói fica feliz com pedestres perdendo tempo em sinaleiras, que a gente fica perguntando quem é que vem com freio de mão puxado.
O Sul e Sudeste caíram como morsas do Alasca no fenômeno Bolsonaro e tentam agora digerir esse desgaste, começando a se arrepiar pensando no risco do Judiciário ser extinto no governo do "mito" ou, quando muito, virar apenas um fantoche dele.
Em São Paulo, antes reduto irredutível de bolsonaristas, Haddad passou à frente de Bolsonaro, com 51% de votos em favor do petista, contra 49% do candidato do PSL, segundo o Ibope.
Pelo jeito o patrocínio do "posto Ipiranga" não foi renovado.
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