As elites que se dizem "cultas" e "sofisticadas", nascidas nos anos 1950 e 1960, são em boa parte culpadas pela crise em que vivemos, onde o fascismo ameaça dominar o Brasil.
Essas gerações não conseguiram criar condições para um Brasil melhor.
Vejo, sobretudo, empresários e profissionais liberais, que se diziam influentes, instruídos, requintados e cultos, chegarem aos 50 anos achando que tinham uma bagagem cultural 20 anos mais velha.
Eu li isso. Entre 2004 e 2005, médicos, empresários, economistas, publicitários etc chegavam aos 50 anos ou um pouco mais que isso esbanjando muito pedantismo.
Eram como crianças pequenas querendo interferir nas conversas dos pais e se passar por entendidas do papo de gente grande.
Os cinquentões queriam dar a impressão de que eram adultos na época em que nasceram e viveram suas infâncias.
Haja pedantismo. Glenn Miller e Winston Churchill eram seus tios-avôs. Frank Sinatra era o mais bajulado. Mas sobrava até para Norman Mailer, Paul Newman e Muhammad Ali. Ou então brasileiros como Millôr Fernandes, Nelson Rodrigues e a dupla Tom Jobim e Vinícius de Moraes.
Os cinquentões, em plenos anos 2000, tinham um papo pedante que dava, aos mais jovens, a falsa impressão de que viveram as décadas de 1940 e 1950, o que é impossível.
Eles nasceram nos anos 1950 e seus heróis não poderiam ser os atores do Rat Pack (Frank Sinatra, Dean Martin, Sammy Davis Jr., Shirley MacLaine), nem os músicos de "jazz para namorar" (aquele jazz romântico curtido por leigos, mais próximo dos standards dos musicais de Hollywood.
Seus heróis, quando muito, eram Roy Rogers, Arrelia, Carequinha, Rim Tim Tim, a Turma do Pernalonga, Tom & Jerry e o Pica-Pau.
O pior é que essa geração de homens "de sucesso", que não conheceram direito a TV Excelsior da qual só ouviam falar - já era muito eles virem a TV Tupi ou a TV Rio/TV Record na televisão do "tele-vizinho" - se casou com mulheres mais jovens que acompanharam a antiga MTV Brasil.
Queriam o crossover entre Papai Sabe Tudo e as Garotas do Alceu Penna e queriam que suas esposas mais jovens fossem como as senhoras elegantes de Jacinto de Thormes, que as chamava pelo nome do marido, tipo "sra. Fulano de Tal".
Tão "sofisticados", esses patriarcas não produziram bons filhos nos seus primeiros casamentos.
São de uma geração sem idealismos, que no começo dos anos 1970, auge do "milagre brasileiro", só cursavam as faculdades visando obter um emprego de grande status.
Perderam tanto tempo estudando e obtendo especialização profissional que não foram bons maridos nem bons pais.
Tentando ganhar tempo, eles tentaram parecer bacanas ao se casarem, pela terceira ou quarta vez, com ex-modelos, atrizes e jornalistas muito atraentes e mais jovens do que eles.
Mas eles perderam tempo e seu pedantismo os fez apagar, depois de seus poucos minutos de fama.
Eles agora se escondem, fazendo palestras com o esquema escrito pelos filhos mais velhos.
Que também não desenvolveram idealismo mas ficaram demais na diversão sem conteúdo.
Os pais trabalharam demais sem desenvolver idealismo. Os filhos se divertiram demais sem desenvolver conhecimentos. Em ambos os casos, a formação de valores sociais dignos e relevantes foi bastante atrofiada.
A turma de homens (não digo as mulheres, que se dividiram entre o hippismo e a beatitude) nascidos entre 1950 e 1955 não conseguiram deixar marca, tornando-se uma geração perdida.
É a geração que tomou o poder no governo Michel Temer, que foi um confuso híbrido de governo José Sarney, governos Fernando Henrique Cardoso e governo do general Castelo Branco.
Sem trazer valores relevantes, a geração que, aos 20 anos, só ouvia soft rock e chegou aos 50 anos tentando entender o jazz com a pressa ignorante de adolescentes querendo conhecer o punk a partir do Blink 182, hoje está à beira dos 70 anos apagada em atitudes precipitadas e gafes diversas.
Não conseguiram preparar o Brasil para um novo Juscelino Kubitschek. E quando havia alguém próximo de João Goulart, como Luís Inácio Lula da Silva, espumaram de ódio sem motivo, como se continuassem adolescentes após os 65 anos de idade.
Hoje deixaram que o Brasil estivesse à beira de um regime fascista, contra o qual há esforços hercúleos para evitar sua instalação pelo voto popular (?!).
Políticos de 65, 70 anos agindo como se fossem moleques de grêmio estudantil. Juristas de 60, 65 anos se comportando como se ainda fossem calouros da Faculdade de Direito.
É a geração que, lá fora, tem Harvey Weinstein e Roseanne Barr também combinando cabelos brancos com impulsos adolescentes de fazer corar de constrangimento o público do Discovery Kids.
Quantas violações às leis, quanta permissividade aos abusos de políticos plutocráticos, quanto ódio cego ao PT e quanta complacência libertina a seus piores opositores.
Ninguém desenvolveu valores sócio-culturais sólidos.
A infância tornou-se um processo de erotização e hedonismo compulsivo, quase como uma antecipação desastrada da adolescência.
A adolescência virava um arremedo de mundo adulto combinado com precipitações infantis.
O começo da vida adulta era um prolongamento da adolescência mental diante do consumismo lúdico de noitadas e festas sem limites, mas também frenéticas e sem a verdadeira alegria.
Os pais se tornaram impulsivos e envergonhados. Os filhos, tirânicos na sua busca ao hedonismo compulsivo que os tornava tirânicos no seu consumismo de entretenimento excessivo.
Pais e filhos não se entendiam. Não havia afeição, apenas pais davam presentes e festas demais para os filhos que, mal acostumados, se afundavam em noitadas excessivamente entorpecentes as quais um jargão da fascista Jovem Pan denominou de "baladas".
Pais nunca ensinaram o não para seus filhos, que agora usam a violência para impor suas teimosias pessoais. Haja valentonismo dessa geração pretensiosa e burra que confunde ser idiota com ser nerd.
E aí o termo "nerd" se esgota e perde o valor com tanta adesão de valentões a esse rótulo. "Nerd" era uma denominação para oprimidos que agora ficou patenteada pelos opressores.
A falta de diálogo e o desprezo mútuo entre pais e filhos não os impediu de se unirem pelas pautas conservadoras, porque os interesses se cruzavam bem.
E aí, vemos o que vemos: uma mentalidade golpista se desenvolvendo, adultos beirando os 40 anos defendendo o fascismo e espancando pessoas por motivos fúteis, enquanto seus pais, beirando os 70 anos, cometem gafes e travessuras como se eles ainda tivessem 14 anos de idade.
Se a geração nascida nos anos 1950, cujos indivíduos realmente esclarecidos a gente conta pelos dedos, fosse, no seu conjunto, amadurecida, não teríamos um Jair Bolsonaro como favorito.
Talvez tivéssemos um outro quadro eleitoral. Se a sociedade não quisesse Lula, pelo menos tentasse um novo Juscelino Kubitschek. Ou talvez um Carlos Lacerda nos melhores momentos.
Já não se fazem mais grisalhos como antigamente. Temos que apertar os cintos, porque não só o piloto do avião, mas também o ancião da tribo, sumiram desse Brasil à deriva.
Comentários
Postar um comentário